Politica

Aras bate boca em sessão virtual

Integrantes do Conselho Superior do MPF fazem críticas ao PGR por ataques à Operação Lava-Jato. Chefe do órgão diz que provará declarações contra a força-tarefa e acusa colegas de criarem fake news sobre ele, além de fazerem oposição à sua gestão

Correio Braziliense
postado em 01/08/2020 04:13
Aras acusou colegas de vazarem informações e disse que rebaterá questionamentos com documentos

A reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF), ontem, por videoconferência, foi marcada por discussões do início ao fim. Num discurso forte, sem poupar nomes e alegando ter provas sobre irregularidades da Lava-Jato, o procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, disparou contra a operação, acusou colegas de criarem fake news contra ele e de fazerem oposição à sua gestão.


O episódio marca a mais forte reação de um PGR a críticas de colegas e faz com que avance a crise que se instalou no MP no âmbito força-tarefa. Ele afirmou ter provas das acusações que fez sobre irregularidades cometidas por equipes que integram a Lava-Jato e disse esperar que os órgãos competentes atuem e encontrem os envolvidos.


Aras subiu o tom após o subprocurador-geral Nicolao Dino ler uma carta assinada por ele e pelos colegas de função Nívio de Freitas Silva Filho, José Adonis Callou e Luiza Frischeinsen, integrantes do Conselho, na qual rebatem declarações do PGR contra a Lava-Jato. Na terça-feira, o chefe do Ministério Público disse que “é hora de corrigir os rumos para que lavajatismo não perdure”, acusou a força-tarefa de ter uma “caixa de segredos” e frisou que vai atuar para acabar com o “punitivismo” no MP.


“A fala de Vossa Excelência (Aras) não constrói e em nada contribui para o que denominou de ‘correção de rumos’. Por isso, não se pode deixar de lamentar o resultado negativo para a instituição como um todo — expressando nossa perplexidade —, principalmente, por se tratar de graves afirmações articuladas por seu chefe, que a representa perante a sociedade e os demais órgãos de Estado”, diz um trecho.


Após a leitura da carta, Aras afirmou que informações falsas sobre ele foram publicadas na imprensa e criticou entrevistas de procuradores nos jornais. “Existe a peçonha da covardia de não mostrar a cara, mostrar a sua assinatura. Todas as matérias que saem na imprensa, é um procurador ou procuradora que passa. O anonimato, mais que inconstitucional e ilegal, é covarde. Eu não tenho receio de desagradar”, enfatizou.


“Coragem nunca me faltou e, nesse sentido, quero começar a dizer ao conselheiro Nicolao Dino — pessoa que eu sempre tive excelente relacionamento profissional e pessoal — que não me dirigi em um evento acadêmico se não pautado em fatos e provas. Fatos que se encontram sob investigação na corregedoria e no Conselho Nacional do Ministério Público”, frisou. “Cabem a eles apurar a verdade, a extensão, a profundidade, os autores, os coautores e os partícipes. Acostumei-me a falar com provas, e tenho provas. E essas provas estão depositadas em órgãos competentes.”
O chefe do MP afirmou que vai dedicar o resto de seu mandato para corrigir irregularidades e que sempre falará “em nome próprio”. “Não preciso me escudar em ninguém”, destacou. “Doutor Nicolao, rejeito seus conselhos e espero que os órgãos oficiais respondam a Vossa Excelência e a seus liderados.”


Ao terminar a fala, Aras declarou encerrada a sessão e se levantou, sob protesto dos demais integrantes do conselho que pediam a palavra. “Doutor Nicolau, o senhor não vai gostar de ver uma fake news sobre sua família. Muito menos a doutora Luiza, que, talvez, não tenha família, ou talvez tenha”, disse ele se referindo aos colegas que estavam na reunião.

“Palco político”
O bate-boca surgiu logo no começo da sessão. Nicolao Dino pediu a palavra para ler a carta, mas foi interrompido por Aras. “Isso aqui não será um palco político de Vossa Excelência e de ninguém”, disse o PGR. Dino afirmou, em diversos momentos, que o regimento interno lhe garantia a fala no início da sessão e que o procurador-geral estava cerceando o direito de manifestação do membro do conselho.


Aras rebateu dizendo que a sessão era para discutir orçamento e que outras questões deveriam ser tratadas depois. “Após a sessão do orçamento, Vossa Excelência terá a palavra, e eu vou replicar os pretextos de Vossa Excelência e o farei com documento de que disponho em mãos para acabar com qualquer dúvida acerca dos fatos”, afirmou, garantindo o uso da palavra irrestrito a todos ao final.
Em determinado momento, Nicolao Dino chegou a dizer: “Vossa Excelência quer estabelecer um monólogo, e não um diálogo. Isso nunca aconteceu na história deste colegiado”. A acalorada discussão só se encerrou quando o subprocurador José Elaeres interveio e sugeriu que o orçamento fosse debatido primeiro.

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