O grupo de executivos que defende medidas efetivas de combate ao desmatamento da Amazônia ganhou robustez e, hoje, reúne, não mais 38, mas 61 dirigentes de empresas e fundos de investimentos nacionais. Ontem, lideranças do movimento se reuniram com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e sugeriram que exigências relacionadas à sustentabilidade, como economia verde, circular e de baixo carbono, sejam inseridas na discussão de novas linhas de crédito que venham a ser aprovadas pelo Congresso. Os representantes trataram de temas que estão na pauta do Legislativo, como regularização fundiária e licenciamento ambiental, e pediram apoio do Parlamento na agenda de desenvolvimento sustentável.
O grupo também agendou encontros com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP); com o procurador-geral da República, Augusto Aras; e com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Segundo Marina Grossi — presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) —, o comunicado do setor empresarial, lançado em 7 de julho, trata do bioma Amazônia e o ponto forte é o pedido para que o país combata o desmatamento ilegal. “Maia disse que está criando uma comissão para tratar dessa agenda. A ideia é trazer, no processo de recuperação econômica, critérios de sustentabilidade”, explicou Marina.
Presente na reunião, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), reiterou que é preciso aproveitar o momento de sair da crise “para inserir uma economia mais inclusiva”. “O governo tem um arcabouço de ferramentas de controle muito bom, que precisa ser organizado para levar transparência às cadeias produtivas, de forma benéfica para a venda dos produtos”, assinalou.
Otimismo
Carlo Pereira, presidente da Rede Brasil do Pacto Global, disse ter saído bastante satisfeito do encontro. “O posicionamento do presidente da Câmara foi muito favorável. Está na hora de a sociedade brasileira escolher de que lado da história fica. Globalmente, os mercados, puxados por investidores, mostram que precisamos avançar na agenda de desenvolvimento sustentável”, explicou.
Assim como o grupo sueco Nordea, que ontem anunciou a exclusão da empresa brasileira JBS de todos os fundos que administra, por conta dos riscos de desmatamento na cadeia de suprimentos, outros desinvestimentos continuarão a ocorrer no país, se os investidores não sentirem segurança nas ações de combate à devastação, ressaltou Pereira. “Inicialmente, foram os fundos soberanos e a BlackRock”, ressaltou. Ele lembrou que a maior gestora de ativos do mundo votou contra 53 empresas na temporada de assembleias deste ano por falhas em lidar com as questões climáticas. “Essa pressão vai aumentar cada vez mais. Se não tivermos uma resposta adequada, certamente teremos mais evasão de recursos do país”, estimou.
Para reconquistar a confiança dos fundos, André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), explicou que as cadeias do agronegócio estão se organizando para aprimorar a rastreabilidade. “Isso dialoga com o desmatamento ilegal, porque a rastreabilidade permite fazer o controle e a identificação das cadeias de suprimento, para saber se o que foi produzido está cumprindo toda a legislação brasileira”, frisou. Segundo ele, as cadeias da soja e da carne bovina rastreiam quem vende diretamente para elas. “Mas é preciso aprimorar para pegar os elos iniciais da cadeia. O que existe, hoje, é apenas o esforço individual das empresas.”