Isolado em seu apartamento, em Curitiba, em razão da pandemia de coronavírus, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, acompanha a evolução do quadro político e planeja o futuro até 2022. Quem apostava na derrocada do presidente Jair Bolsonaro com a retirada de seu ministro mais popular, agora está vendo um quadro bem diferente. Pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada nesta sexta-feira (24/7), revela que o atual chefe do Executivo lidera na corrida presidencial.
Mesmo dois anos antes do pleito, Bolsonaro vem ganhando espaço em meio a pandemia com a concessão do auxílio emergencial, medida necessária, mas que se igual a estratégia do PT com o Bolsa Família. O pagamento de R$ 600 reais segura a derrocada da finança das famílias e conquista o apoio dos mais pobres, que passam a confiar mais no governo.
Moro, por outro lado, perdeu relevância na vida política. Sem articular estratégias e obter o apoio de deputados e senadores de forma articulada, perde seguidores nas redes sociais e tem a imagem ofuscada em razão da evolução do coronavírus no território nacional.
De acordo com a pesquisa, no cenário com Moro, Bolsonaro e Fernando Haddad no primeiro turno, o ex-juiz da Lava-Jato tem 17,1% das intenções de voto. Bem atrás de Bolsonaro, que aparece com 29%. Haddad tem 13,4%. Em uma projeção com Lula na disputa, Bolsonaro tem 27,5%, o petista aparece com 29,1% e Moro com 16,8%.
Moro não é político profissional, diz especialista
O cientista político Leonardo Queiroz Leite, doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca que Moro não é político profissional, e por isso, tem dificuldades em se articular para manter popularidade e captar eleitores.
“Ele resolveu, em uma jogada muito arriscada, ser ministro. Ele sentiu a diferença, pois a política tem que negociar, ceder. Ele sentiu o clima conflituoso de Brasília e não conseguiu aprovar muitos dos projetos que queria. Ao sair do governo, fica evidente que ele não tem grupo político, não tem partido. Ele estava colado na popularidade do Bolsonaro e agora fica evidente que ele não se sustenta sozinho. Ele não tem outra pauta, sem ser o combate à corrupção. Não se sabe o que ele pensa sobre a economia, inserção do Brasil no mundo”, diz.
No entanto, destaca que o auxílio emergencial, quando chegar ao fim, pode levar a popularidade do presidente. “O auxílio emergencial só tem mais duas parcelas. E mesmo diante de deputados e senadores progressistas, que querem manter o programa, ele pode acabar. Isso pode fazer com que a popularidade do presidente caia, pois o pagamento está segurando o crescimento da pobreza”, disse.
No entender do cientista político Cristiano Noronha, sócio e vice-presidente da Arko Advice, o ex-ministro Sérgio Moro era um dos pilares do governo do presidente Jair Bolsonaro. “Ele simbolizava o combate à corrupção, apesar de ter atritos com o governo. Havia a preocupação de que, com sua substituição, Bolsonaro poderia perder essa bandeira”, explicou.
Porém, Moro saiu de forma polêmica do governo, e sua imagem perdeu foco com a chegada da pandemia ao Brasil. “Os problemas ocasionados pela pandemia acabaram, de certa forma, tirando o holofote de Moro. E o presidente perdeu popularidade, não só pela saída do ex-juiz do governo, mas porque havia um ambiente de tensão, de confronto entre os Poderes, além de problemas na condução do Ministério da Saúde. A avaliação regular migrou para o ruim e péssimo”, disse.
Auxílio emergencial ajuda Bolsonaro
No entanto, segundo Noronha, Bolsonaro recuperou parte da popularidade porque, para contornar a crise da pandemia, o governo deu o auxílio emergencial de R$ 600. “Muitas pessoas que nunca ganharam nada do Estado passaram a receber esse dinheiro. Foram milhões de beneficiários. Isso serviu como um amortecedor da queda e agora está funcionando como propulsor para recuperação da popularidade”, avaliou.
Enquanto isso, ressaltou o especialista, Moro está sem cargo público, perdeu visibilidade. “Ainda mantém um espaço conquistado com a Lava-Jato e é potencialmente adversário de Bolsonaro em 2022. O grande desafio dele talvez seja encontrar uma legenda competitiva”, assinalou. Isso porque, para os bolsonaristas, Moro é um traidor e a esquerda acha, ao aceitar o cargo de ministro, revelou seu interesse político em derrubar o ex-presidente Lula. “Num eventual segundo turno entre Moro e Bolsonaro, o eleitor da esquerda teria dificuldade de votar nele”, analisou.