“Indiquei o professor Milton Ribeiro para ser o titular do Ministério da Educação. Doutor em Educacão pela USP, mestre em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduado em direito e teologia”, publicou Bolsonaro nas redes sociais. Em maio de 2019, Ribeiro havia sido nomeado pelo mandatário para a Comissão de Ética Pública da Presidência. A escolha dele para o MEC teve forte influência do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, auxiliar de confiança do chefe do Planalto, e também do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça.
Com a nomeação de Ribeiro, Bolsonaro cumpre um dos principais objetivos do Palácio do Planalto ao retirar Abraham Weintraub da pasta, no mês passado: o de amenizar o conflito do Executivo com o Supremo Tribunal Federal (STF). O novo titular do MEC tem ótimo trânsito na Corte, sobretudo com o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos no tribunal que mais preocupam o presidente — o que investiga a produção de notícias falsas e ofensas contra o Supremo e o que apura a realização de protestos antidemocráticos no país.
Com o nome de Ribeiro, Bolsonaro deve evitar novos desgastes. O pastor é visto pelos olavistas como “terrivelmente evangélico” e, por mais que não seja o candidato preferido dos fardados, não encontrou resistência por parte da ala militar. Além disso, a escolha do presidente faz com que ele tenha ainda mais apoio do Centrão no Congresso: Ribeiro teve o aval de Gilberto Kassab, presidente do PSD.
Repercussão
A nomeação de Milton Ribeiro dividiu a opinião de representantes de instituições relacionadas à educação. O diretor de estratégia política do Todos pela Educação, João Marcelo Borges, reiterou ser importante que o novo ministro estabeleça uma ponte de comunicação mais efetiva com estados e municípios. “Ele chega, ainda, com outros desafios, que é o de mostrar que possui respaldo político para a função, porque todo esse período sem um gestor provocou uma espécie de leilão público para o MEC”, disse.
Borges afirmou que Ribeiro chegará à pasta já tendo de prestar explicações sobre a lista de indicados ao Conselho Nacional da Educação (CNE), publicada ontem no DOU, que é formada essencialmente por nomes ligados a Olavo de Carvalho, à ala evangélica e a setores privados da Educação. Entre os 11 novos nomes, não há nenhum representante do Conselho de Secretários Estaduais de Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
“A lista foi publicada, inicialmente, sem o consentimento dele. Ele não participou da escolha. É estranho, pois, se Bolsonaro escolheria o ministro da Educação ontem (sexta-feira), por que ele indicou horas antes os novos nomes ao CNE com essa composição?”, questionou. “De um lado, a publicação da lista antes da posse parece já fragilizar Ribeiro. O CNE é um órgão de assessoramento da Educação. Causa estranheza que a escolha tenha sido feita na ausência do ministro.”
A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) desejou “que a nova gestão do Ministério da Educação, no comando de Milton Ribeiro, venha ao encontro dos anseios de estados e municípios, e que priorize o diálogo e a transparência”. Por sua vez, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) frisou que “este é um momento desafiador em consequência da pandemia da covid-19, e toda a atenção será necessária para que a retomada segura das atividades acadêmicas presenciais”. “Esperamos ter com o novo ministro um diálogo propositivo em prol da educação superior de qualidade no país”, destacou.
Já a União Nacional dos Estudantes (UNE) manteve o tom crítico ao governo. “Compreendemos que, dificilmente, apenas uma mudança de nome poderá significar a mudança da forma com que o governo encara esse setor. Reafirmamos que o problema da Educação no Brasil é Bolsonaro”, enfatizou. “Mas, reforçamos nossa defesa da educação laica, pública, gratuita, de qualidade, com atenção e permanência aos estudantes do ensino básico, e do superior público e privado, de datas justas para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e outras questões urgentes para a educação, que o governo tem ignorado.”