Politica

Golpe contra rede de mentiras

Facebook e Instagram tiram do ar perfis falsos, páginas de desinformação e contas ligadas a funcionários dos gabinetes de Bolsonaro e de dois dos seus filhos, o senador Flávio e o deputado federal Eduardo, além de deputados estaduais pelo PSL no RJ e em SP

O Facebook anunciou, ontem, que derrubou uma rede de fake news e perfis falsos ligados ao PSL e a funcionários dos gabinetes do presidente Jair Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) e dos deputados estaduais pelo PSL do Rio de Janeiro Anderson Moraes e Alana Passos. Foram identificadas 35 contas, 14 páginas, um grupo e 38 contas no Instagram.

As páginas no Facebook tinham 883 mil seguidores, enquanto as contas no Instagram tinham 917 mil seguidores –– e 350 pessoas estavam no grupo. No material postado, estavam conteúdos relacionados às eleições, memes políticos, críticas à oposição, empresas de mídia e jornalistas, além de material relacionado ao coronavírus.

Segundo o Facebook, que controla o Instagram, parte do conteúdo dessa rede havia sido removido da plataforma por violar os padrões de comunidade. Entre as infrações estavam conteúdo contendo discurso de ódio. Os detalhes de toda a operação brasileira foram postados no site do Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab (DFRLab), instuição que analisa remoções da rede social provocadas por comportamento inautêntico coordenado.

O anúncio faz parte de uma remoção de redes internacionais de desinformação que operavam em quatro territórios postando conteúdo relacionado a assuntos políticos domésticos. No Brasil, as investigações e remoções ocorreram a partir de notícias na imprensa e referências feitas ao assunto no Congresso, durante a CPMI das Fake News.

Um dos identificados como membro da rede é ligado ao vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos): Tércio Arnauld Tomaz, hoje assessor especial do presidente da República e apontado como integrante do “gabinete do ódio”. O relatório da DFRLab o aponta como administrador de páginas e contas com conteúdo de ataques a adversários políticos do governo, em muitos casos com teor considerado “enganoso” e que misturava “meias-verdades para chegar a conclusões falsas”.

Em agosto do ano passado, Bolsonaro compartilhou, pelo Facebook, uma publicação que chama o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava-Jato, de “esquerdista estilo PSol”. O link divulgado pelo presidente redirecionava a página para um post do perfil Bolsonaro Opressor 2.0.

O DFRLab também apontou dois assessores do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). São eles Paulo Eduardo Lopes (o Paulo Chuchu) e Eduardo Guimarães –– funcionário do gabinete do “filho 03” na Câmara. Já Lopes foi exonerado no dia 26 de junho e agora está registrado como assessor do gabinete do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), aliado do governo.

Também são citados como operadores: Leonardo Rodrigues de Barros, sua namorada, Vanessa Navarro –– o primeiro é funcionário do gabinete de Alana e, a segunda, do gabinete de Moraes — e Jonathan Willian Benetti, funcionário do gabinete do deputado estadual de São Paulo Coronel Nishikawa.

Sem surpresa

Segundo a Atlantic Council, o envolvimento de funcionários de gabinetes pode indicar que a operação usou recursos públicos, pois as postagens eram feitas durante o horário regular de expediente. A deputada Lídice da Mata (PSB-BA), relatora da CPI Mista das Fake News do Congresso, afirmou que a divulgação feita pelo Facebook confirma que as investigações da comissão de inquérito estão na direção certa.

“A notícia de que o Facebook teria tirado do ar perfis que disseminam notícias falsas ligados aos apoiadores do presidente Bolsonaro não chega a causar espanto para nós. Nossas investigações sempre apontaram para uma rede de desinformação que pode, sim, ter influenciado o pleito eleitoral de 2018 e que continua atuante, com fortes suspeitas de amplo apoio da família Bolsonaro”, afirmou a parlamentar.

Em nota, Flávio Bolsonaro disse que os perfis são “livres e independentes”, fruto do apoio espontâneo ao governo. “O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais e, por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio. Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes”, disse o senador.

Coronel Nishikawa afirmou, por meio de nota, que foi tomado de surpresa pela notícia que citava o servidor lotado em seu gabinete na Alesp e disse que, ao questioná-lo, ouviu que não tinha conhecimento de nenhuma conta sua suspeita. Jonathan, por sua vez, não se manifestou.

Anderson Moraes classificou como “absurda e arbitrária” a ação do Facebook. “Querem tolher a principal ferramenta da direita de fazer política”, acusou. Já Alana Passos afirmou que “nunca orientei sobre criação de perfil falso e nunca incentivei a disseminação de discursos de ódio”.

O PSL também publicou nota, afirmando que as contas suspensas nada tinham a ver com a sigla. Estavam relacionadas a assessores de deputados do partido, sendo de responsabilidade individual dos parlamentares. Os políticos “na prática, já se afastaram do PSL há alguns meses com a intenção de criar um outro partido”, disse a legenda, referindo-se aos filhos do presidente –– o único que continua no partido é o deputado Eduardo.