Em depoimento na tarde desta quarta-feira (8/7) à Justiça Federal, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro negou que tenha interferido nas investigações sobre hackers que invadiram celulares de autoridades, incluindo procuradores da força-tarefa da Lava-Jato e o próprio ex-juiz federal, que atuou em Curitiba durante a operação anticorrupção.
O processo é relativo à Operação Spoofing. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou sete pessoas no início do ano, e a Justiça acatou seis denúncias. Moro disse que quem o informava sobre o andamento das investigações era o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Ele não se envolvia diretamente nas investigações, segundo o ex-ministro, o que ficava a cargo do delegado encarregado.
“Evidentemente, quando meu telefone foi atacado eu comuniquei o diretor-geral da Polícia Federal, que realizou a movimentação necessária”, afirmou. Moro explicou que informou o ex-diretor geral por se tratar de uma questão de segurança nacional, uma vez que o telefone dele, na condição de ministro, foi invadido, além de ter havido tentativa de invasão no aparelho do próprio presidente Jair Bolsonaro.
Questionado se a atitude de procurar o diretor da PF sobre as investigações configurava uma interferência na PF, Moro disse que “claro que não”, explicando que havia uma situação preocupante em que hackers tentaram obter informações de estado. Ele citou tentativas de ataques ao celular da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmando que o objeto de discussão entre ele e o diretor da PF sobre o assunto era no sentido de resguardar a segurança nacional.
“Estava dentro das responsabilidades do ministro da Justiça de tomar as providências necessárias para cessar esses ataques. Eu ser informado das investigações é um passo natural, mas eu nunca dirigi essas investigações, tanto que eu não sabia detalhes específicos e jamais eu conduziria ou daria determinações ao delegado para agir de uma forma ou de outra nessas investigações ”, afirmou.
Moro disse ainda que seus questionamentos eram todos de informações gerais, sobre o andamento das investigações, e frisou que não tinha acesso ao inquérito ou a provas.
A invasão no seu aparelho aconteceu no primeiro semestre do ano passado, quando ele recebeu uma ligação do próprio número e atendeu. Em seguida, percebeu que algo havia acontecido quando foi informado que havia entrado no aplicativo de mensagens Telegram, que ele já havia abandonado há dois anos.
Na época, os procuradores de Curitiba já haviam sofrido ataques de hackers que obtiveram mensagens trocadas por eles no Telegram. Essas mensagens foram reveladas por um série de reportagens realizada pelo site The Intercept Brasil que ficou conhecida como Vaza Jato. Os conteúdos mostraram conversas entre os procuradores e com o próprio ex-juiz federal Sergio Moro, que diz ter sofrido ataque em seu celular poucas semanas antes da divulgação das reportagens.
Autenticidade
O ex-ministro nunca reconheceu a autenticidade das mensagens divulgadas pelo site The Intercept. Questionado sobre isso pelo advogado de Walter Delgatti Neto, que seria um dos mentores do grupo, Moro afirmou que nunca o fez inclusive porque não tinha mais as mensagens em seus aparelhos. “Então, eu sequer pude fazer essa confrontação. De todo modo, eu acho que sobre essas mensagens que foram obtidas ilicitamente, é imprópria aí que eu tenha que responder pergunta sobre elas”, disse.
O advogado foi repreendido em outros momentos, inclusive pelo Ministério Público, sob a alegação de que as perguntas fugiam do escopo do processo e eram mais políticas do que pertinentes para à ação.
Em um desses momentos, o defensor perguntou sobre uma publicação feita por Moro nas redes sociais um dia após a divulgação de mensagens pelo site The Intercept. Segundo o advogado, o ex-ministro publicou que “tratava-se de uma organização criminosa”, ao que o defensor perguntou o motivo da publicação, se o ex-juiz não sabia quem havia obtido e vazado as mensagens.
“Eu jamais influenciei a investigação. A Polícia Federal realizou o seu trabalho de maneira independente. Não tem nenhuma pertinência essa pergunta e acho também que formular acusações à vítima, à testemunha, não é o mais correto, mas tudo bem”, respondeu o ex-ministro.