Não é apenas o presidente Jair Bolsonaro que acredita que a educação no país deixa a desejar. Pelo relatório do 3º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação, divulgado na última quinta-feira, o Brasil está longe de concluir as 20 metas definidas pelo PNE e pouco avançou desde 2018. Entre as preocupações está o percentual de matrículas para jovens e adultos na forma integrada de educação profissional, que teve apenas 6,4% da meta — o percentual de alcance aponta o progresso histórico do indicador em relação à meta estabelecida pelo PNE.
Ainda de acordo com os dados divulgados, há uma retenção dos alunos no ensino fundamental, o que acaba gerando prejuízos para o estudante, que perde a motivação, e para o sistema educacional, cada vez mais distante de formar alunos em idade adequada. O Brasil tem cerca de 900 mil adolescentes, entre 15 e 17 anos, fora da escola, o que indica jovens abandonando os estudos.
Além de números insatisfatórios na educação e a falta de atenção ao setor, especialmente durante a pandemia, o próximo ministro a assumir a pasta terá que recuperar a desgastada imagem deixada por Abraham Weintraub. "O Ministério da Educação não teve, até agora, prioridade neste governo. Primeiro, foi o ministro Ricardo Vélez, muito ligado ao olavismo. Depois, o Abraham Weintraub, líder da ala ideológica do governo na Esplanada", avalia o deputado federal Israel Batista (PV-DF), secretário-geral da frente parlamentar mista da educação no Congresso. “É um problema crônico”, crítica.
Para o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Bertholini, é importante entender que o fator que une Bolsonaro, Olavo de Carvalho e outras forças políticas, como evangélicos, está muito ligado ao componente identitário conservador. Ele conecta a pauta de costumes e valores morais. “Essa conexão é tão presente na base bolsonarista que consegue ser mais forte do que o medo das pessoas de morrer de covid-19”, explica.
Na avaliação do jurista e cientista político Rafael Favetti, “o bolsonarismo parte do princípio que o comunismo tomou conta do Brasil pela educação”, salienta, referindo-se à insistência da ala ideológica com a doutrinação.
Reconstrução
João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do movimento Todos pela Educação, acredita que a ausência do MEC diante das demandas impulsionadas pela covid-19 foi um dos momentos mais críticos da gestão de Weintraub.
“A pandemia acentuou as duas grandes marcas da gestão dele: uma era o confronto e a omissão e a outra, a incompetência”, crítica. A pesquisa Covid-19: Impacto Fiscal na Educação Básica, realizada pelo Todos pela Educação e pelo Instituto Unibanco, estima que as perdas variem de R$ 9 bilhões a R$ 28 bilhões em 2020, a depender de como serão os próximos meses em relação à pandemia.
Outro desafio será desconstruir o clima de insegurança criado no próprio MEC e nas instituições e entidades de ensino. Para o diretor do Todos pela Educação, a tentativa cotidiana de desqualificar a educação, a ciência, os educadores e até os estudantes é uma das maiores sequelas deixadas por Weintraub. “Na educação, ficar parado significa retroceder; a educação é um processo acumulativo. A criança que está na escola e não aprende carrega esse deficit por muito tempo. É difícil estimar o tempo que essas sequelas vão durar”, explica Borges.