O deputado estadual do Rio de Janeiro Alexandre Knoploch (PSL) atirou num advogado durante briga na saída de uma festa clandestina em um bar da 408 Sul. O parlamentar, que também é empresário, veio a Brasília para uma reunião do partido e com o objetivo de tratar de pautas do estado no Congresso. Apurações apontam que ele se desentendeu com a vítima e disparou contra o pé dela, após levar um soco no rosto. A confusão aconteceu por volta das 5h de ontem, e o caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). Knoploch, que informou, por meio de nota, ter porte de arma, já se envolveu em outras confusões, em seu estado.
A vítima, identificada como Helvídio Nunes de Barros Neto, de 39 anos, foi encaminhada consciente e estável ao Hospital de Base. Ele segue internado. Por telefone, ao Correio, disse estar “não muito bem”. Já o advogado dele, Thiago Leônidas, afirmou que o cliente responde dentro do esperado a uma cirurgia no pé e que está sob efeito de remédios. Conforme o defensor, o tiro acertou um ligamento e, por isso, os médicos acreditam que a sequela pode ser encurtamento de um dos dedos.
Questionado sobre como ocorreu o episódio e a relação do deputado com o advogado, Thiago Leônidas não quis dar detalhes. Informou apenas que as duas partes estão entrando em consenso e farão uma divulgação conjunta. “Estamos conversando entre advogados para fazer uma composição e esclarecer os fatos.”
Desentendimento
Uma fonte ouvida pelo Correio contou que a briga ocorreu do lado de fora do estabelecimento e, durante a discussão, Helvídio Neto desferiu um soco em Knoploch, que caiu no chão. Em seguida, o deputado sacou a arma e disparou, acertando o pé do desafeto.
A reportagem esteve no bar e conversou com o proprietário, que não quis se identificar. Ele disse que abre as portas para atender por delivery ou retirada no local, seguindo as regras impostas pelo decreto governamental, que determinou o fechamento dos bares e restaurantes da capital para evitar a disseminação do novo coronavírus. Contudo, pessoas que trabalham próximo ao estabelecimento relataram que, há pelo menos duas semanas, o ponto funciona normalmente.
“Na porta, tem dois seguranças que ficam controlando o fluxo dos clientes. Eles colocam, ainda, uma cortina preta, para ninguém ver o movimento lá dentro”, afirmou um funcionário de um restaurante próximo. Ele relatou que quando chegou para trabalhar, às 17h de ontem, encontrou a cápsula da bala no chão. “Estava muita movimentação na rua, e os policiais fazendo a perícia.”
O Correio apurou que Helvídio Neto e Knoploch se divertiram juntos dentro do bar antes da desavença. E, se em uma versão, o deputado disparou contra o advogado após ser derrubado com um soco no rosto, o parlamentar narrou, por meio de nota, uma história diferente. Disse que foi vítima de “uma agressão covarde”, quando saía do local, e que teria levado um soco pelas costas antes de cair. Knoploch argumentou que “para paralisar seu agressor, desferiu um tiro em seu pé”.
“De acordo com o relatado pelo agressor após o incidente, o deputado foi confundido com outra pessoa. Vale a pena ressaltar que o próprio deputado foi quem procurou as forças policiais, para registrar o caso”, diz o comunicado. “O deputado pediu, por conta própria, ainda, que, além do exame de corpo delito, fossem feitos os exames toxicológico e de alcoolemia, comprovando que ele não havia ingerido bebida alcoólica. E esclareceu que possui porte de arma.”
Perfil
Confusões em série
Defensor da liberação do porte de armas, Alexandre Knoploch atuou como empresário no segmento de tecnologia da informação, sendo idealizador da Associação Brasileira de Segurança da Informação e Defesa Cibernética. Como parlamentar, já se envolveu em outras confusões. Em 12 de junho de 2019, agrediu um estudante na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A violência ocorreu após um bate-boca numa audiência pública que discutia cotas raciais. O parlamentar estava com o também deputado estadual Rodrigo Amorim, colega de partido. A audiência tinha como tema um projeto de lei de Amorim para acabar com as cotas raciais nas universidades públicas do Rio. Na sessão, os dois discutiram com alunos defensores das cotas. O clima ficou tenso, e os parlamentares tiveram de deixar o local. Quando saíam, Knoploch socou o rosto do estudante. Em outubro de 2018, ele empurrou um assessor de Jorge Miranda — prefeito de Mesquita (RJ) — numa discussão que envolvia, de novo, Amorim na Assembleia Legislativa do Rio.
“De acordo com o relatado pelo agressor após o incidente, o deputado foi confundido com outra pessoa. Vale a pena ressaltar que o próprio deputado foi quem procurou as forças policiais, para registrar o caso”
Trecho da nota da defesa do parlamentar
“Estamos conversando entre advogados (das duas partes) para fazer uma composição e esclarecer os fatos”
Thiago Leônidas, advogado de Helvídio Neto