O ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, segue no cargo, pelo menos por enquanto. Ontem, tão logo correu a notícia de que a Universidade de Wuppertal (Bergische Universität Wuppertal), na Alemanha, negara que ele fizera o pós-doutorado que afirma ter no Currículo Lattes, sua posse –– que estava marcada para hoje –– foi suspensa. O novo constrangimento levou-o a se reunir com o presidente Jair Bolsonaro para dar explicações, embora a ala militar do governo já tivesse retirado seu apoio para ocupar a pasta. No final do encontro, no começo da noite, Decotelli garantiu que permanece à frente do MEC.
Porém, rumores dão conta de que o presidente busca novo nome, apesar de Bolsonaro, pelas redes sociais, ter amenizado a situação. “Por inadequações curriculares, o professor vem enfrentando todas as forças de deslegitimação para o ministério”. E acrescentou: “O sr. Decotelli não pretende ser um problema para sua pasta, bem como está ciente de seu equívoco”.
Interpelado pela imprensa, na entrada do ministério, depois do encontro com Bolsonaro, Decotelli tentou se explicar. Sobre o suposto plágio que cometera na dissertação de mestrado, disse: “É possível haver distração? Sim, senhora. Hoje, a senhora tem mecanismos para verificar, softwares, se a senhora teve ou não inconsistência. Mas naquela época, pela distração... Não houve plágio porque o plágio é considerado quando o senhor faz ‘control C, control V’. E não foi isso”, salientou.
Sobre o doutorado na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, o ministro deu uma explicação confusa. “Foi feita uma formatura e a Universidade de Rosário entregou àqueles que tinham concluído o curso de pós-graduação em doutorado. Tem uma outra etapa: aqueles que quiserem além de terminar o curso de pós-graduação em doutorado, que quiserem defender a tese, aí receberão o título de doutor para validade nas leis argentinas”, disse, admitindo que não fez a defesa da tese, o que, de fato, garantiria o título de doutor.
Nova desconfiança
O currículo de Decotelli voltou a ser colocado em xeque, ontem, após a Universidade de Wuppertal (Bergische Universität Wup-pertal), na Alemanha, negar o pós-doutorado que ele afirma ter, conforme colocou no Currículo Lattes –– plataforma do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no qual os integrantes do meio acadêmico registram os títulos que acumulam. Em nota, a instituição informou que o ministro estudou por três meses na cadeira da professora-doutora Brigitte Wolf, em 2016. “Ele não obteve nenhum título em nossa universidade. A Universidade de Wuppertal não pode fazer nenhuma declaração sobre títulos obtidos no Brasil”, decretou.
Decotelli cursou a cadeira para uma pesquisa de três meses, em 2 de janeiro de 2016. Até 2017, Brigitte era professora titular e, hoje, é emérita.
Em nota, o MEC justificou que Decotelli construiu um projeto de pesquisa intitulado “Sustentabilidade e Produtividade na automação de máquinas agrícolas”, submetido à Universidade de Wuppertal, na Alemanha, “tendo por base pesquisa específica que teve o apoio da empresa Krone”.
Cronologia de polêmicas
Doutorado desmentido - sexta, 26/6
- O reitor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, Franco Bartolacci, afirmou que Decotelli não concluiu o doutorado em administração na instituição e, portanto, não tem o título de doutor.
Esclarecimentos do MEC - sábado, 27/6
- O ministério afirmou que a tese de doutorado de Decotelli, na universidade argentina, “após avaliação preliminar pela banca designada, não teve sua defesa autorizada”. Seria necessário, então, alterar a tese e submetê-la novamente à banca.
Suspeita de plágio - sábado, 27/6
- Levantamento apontou suspeita de plágio da dissertação de mestrado de Decotelli, apresentada em 2008, na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. A instituição informou que vai apurar o problema.
Pós-doutorado desmentido - segunda-feira, 29/6
- O pós-doutorado na Universidade Wuppertal, na Alemanha, que Decotelli informou ter realizado no currículo Lattes também foi desmentido pela instituição: “Ele não obteve nenhum título em nossa universidade”, diz nota da instituição.
Posse suspensa - segunda-feira, 29/6
- O presidente Jair Bolsonaro optou por adiar a posse de Decotelli, marcada para hoje, e exigiu checagem de currículo do ministro.