Dados oficiais da PF vão de encontro aos argumentos apresentados pelo presidente Jair Bolsonaro para realizar mudanças na superintendência da corporação no Rio de Janeiro. As informações foram enviadas aos agentes pelo diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF e incluídas no inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura a possível interferência política do chefe do Executivo na corporação.
O empenho de Bolsonaro em trocar o comando da superintendência do Rio começou em agosto de 2019, quando ele tirou da chefia o delegado Ricardo Saadi. À época, justificou que o motivo seria a produtividade da unidade. Mas as informações enviadas pela PF mostram que, em julho de 2019, um mês antes da declaração do presidente, a superintendência do Rio teve seu melhor desempenho operacional em pelo menos 30 meses.
O indicador utilizado para isso é o Índice de Produtividade Operacional (IPO), medido a partir das “atividades de polícia judiciária desenvolvidas nas 27 superintendências regionais da Polícia Federal”, explica o documento. O indicador incorpora dados de atividades operacionais e investigativas no combate ao crime organizado, contra a ordem econômica e o sistema financeiro, tráfico de drogas e armas e lavagem de dinheiro, entre outros. A fórmula é calculada levando em conta a relação entre resultados e recursos: quanto mais resultados com menos recursos, melhor.
Ao longo de 2017, a Superintendência do Rio sempre ficou entre as últimas do país no ranking do IPO — a melhor posição foi o 21º lugar entre as 27 superintendências regionais, em janeiro daquele ano. Ao fim, amargava a 24ª posição. Em 2018, a situação melhorou, mas não muito — 8ª posição em maio. Em nenhum mês, ficou acima da 14ª posição, e chegou a ser a pior regional em fevereiro. Terminou o ano em 17º.
Em 2019, entretanto, a situação mudou já no começo do ano, com a regional ocupando a 12ª posição em fevereiro. Caiu para a 17ª em março, subiu para 11ª em abril, caiu para 15ª em junho, mas chegou ao melhor resultado desde 2017, em julho, na quarta posição. Em agosto, quando o presidente afirmou, pela primeira vez, que seria necessário trocar o comando da superintendência por uma questão de produtividade, o Rio de Janeiro tinha a 6ª superintendência mais produtiva do país.
Após a crise causada pela possibilidade de troca, o desempenho começou a piorar — foi apenas a sétima em setembro, a 18ª em outubro, a 19ª em novembro e terminou o ano como a 23ª superintendência regional em produtividade. (JV)