A decisão judicial que determinou a prisão do policial militar aposentado Fabrício Queiroz — ex-assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na época em que ele era deputado estadual — citou a relação dele com milicianos e a influência que tinha sobre testemunhas no esquema da rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Queiroz foi preso preventivamente, na quinta-feira, no âmbito da investigação do Ministério Público do Rio que apura a participação dele nesse esquema de desvio dos salários de servidores do Legislativo local.
Queiroz estava numa casa em Atibaia (SP), de propriedade de Frederick Wassef, advogado do clã Bolsonaro. O mandado de prisão dele e da esposa, Márcia de Oliveira Aguiar, foi expedido pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.
Na decisão, o magistrado diz haver provas de que Queiroz e Márcia cometeram crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele pontua que, mesmo escondido em Atibaia, o ex-assessor tinha influência sobre milicianos no Rio e para pleitear nomeações em cargos comissionados.
Para o juiz, a influência de Queiroz mostra que “ele poderia ameaçar testemunhas e outros investigados e obstaculizar a apuração dos fatos, perturbando o desenvolvimento da investigação e de futura ação penal”.
Ainda na decisão, o magistrado cita que, no decorrer da apuração, o MP observou que tanto Queiroz quanto Luis Gustavo Botto Maia, advogado de Flávio, “teriam atuado de forma sistemática para embaraçar” a investigação. Eles teriam, por exemplo, orientado diversos funcionários a não comparecer quando convocados pelo MP a prestar depoimento.
Flávio Itabaiana menciona, também, a periculosidade do investigado por sua influência sobre milicianos no Rio. Uma mensagem no celular de Márcia Aguiar mostra um interlocutor, não identificado, pedindo ajuda a Queiroz para que ele interceda junto a milicianos, depois de ter sido ameaçado por um grupo que domina uma região do Rio. O ex-assessor, então, respondeu que não poderia ligar para ninguém, por risco de algum telefone estar grampeado. “Isso aí eu posso ir quando estiver aí pessoalmente”, disse, segundo o documento judicial.
Além disso, existe relação entre Queiroz e o miliciano Adriano da Nóbrega, denunciado no início de 2019 por suspeita de liderar um grupo de extermínio conhecido como Escritório do crime. O MP-RJ estima que o miliciano tenha transferido mais de R$ 400 mil ao policial militar aposentado. Adriano foi morto em fevereiro deste ano, em uma ação registrada como confronto contra a polícia, na Bahia.(ST, JV e LC)
Transações milionárias
Fabrício Queiroz é apontado como o operador financeiro do esquema. Conforme decisão, pelo menos 11 ex-assessores da Alerj tinham relação de parentesco, vizinhança ou amizade com ele, e os repasses de parcelas de suas remunerações alcançaram R$ 2 milhões, entre abril de 2007 e dezembro de 2018. Além disso, foi observada intensa rotina de saques na conta corrente dele, totalizando R$ 2,9 milhões no período em que houve quebra de sigilo fiscal.