Um dia depois de o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretar o fechamento da Esplanada dos Ministérios durante o domingo, em razão das “ameaças declaradas por alguns dos manifestantes” que poderiam colocar em risco o patrimônio e a saúde pública, bolsonaristas voltaram a ocupar a Praça dos Três Poderes. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, se reuniu, ontem, pela manhã, com parte dos manifestantes que desrespeitaram a ordem do GDF. O ministro discursou para o grupo em frente ao Ministério da Agricultura.
Cerca de 50 pessoas foram ao QG do Exército e, usando um carro de som, tocaram o Hino Nacional. No entanto, militares que fazem a segurança do órgão pediram para que abaixassem o som, o que provocou indignação do grupo. Parte dos manifestantes resolveu seguir com um buzinaço até a frente do Palácio do Buriti, sede do Executivo local, após serem retirados das imediações do Ministério da Agricultura de maneira pacífica pela Polícia Militar, por descumprir decreto do governador do DF. Irritados, fizeram críticas a Ibaneis, chamando-o de ditador.
Antes, ainda na Esplanada dos Ministérios, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, sem uso de máscara, apareceu para saudar os bolsonaristas. “Já falei minha opinião, o que faria com esses vagabundos” atuantes dos outros Poderes, disse Weintraub, em resposta a um apoiador, em um relato gravado e divulgado nas redes sociais.
Não foi a primeira vez que o ministro da Educação usou o termo ofensivo para tecer críticas ao Judiciário e Legislativo. Em reunião ministerial do dia 22 de abril, disse que, por ele, “botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”. O tom chulo, que já era motivo de pressão por aliados do Planalto para uma demissão, ameaça ainda mais a posição de Weintraub, que já carrega uma série de processos por falsas acusações e comentários racistas.
Nos bastidores, a aposta é que, com a nova declaração — reiterando o que, em oitiva à Polícia Federal, preferiu não dizer —, o ministro não sobreviva no cargo. Apoiadores pedem a troca, o que pode ser aproveitado por Bolsonaro como forma de fortalecer a aliança com o Centrão, bloco informal do centro e direita. Há, ainda, quem defenda as manifestações.
Além dos ataques aos membros do STF, Weintraub declarou aos apoiadores que “não quer mais” sociólogo, antropólogo e filósofo com “o seu dinheiro”, ou com recursos vindos de impostos, e que preferia investir em médicos e profissionais da saúde. “O ministro está certíssimo. Parabéns”, escreveu nas redes sociais o deputado federal Felipe Barros (PSL/PR), citando a fala de Weintraub. Por outro lado, o senador Humberto Costa (PT) chamou o chefe da pasta de Educação de “um dos maiores irresponsáveis da República”. “Mesmo com o Brasil vivendo uma pandemia, saiu sem máscara e participou de ato com bolsonaristas. Weintraub, mais uma vez, atacou o STF e distribuiu ódio e preconceito.”
A omissão dos órgãos oficiais diante dos ataques explícitos ao Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de sábado, provocou uma crise na Polícia Militar do DF. Para contornar a situação, Ibaneis exonerou o subcomandante-geral da PM, Coronel Sérgio Luiz Ferreira de Souza, responsável pelo comando geral.
“Já falei minha opinião, o que faria com esses vagabundos”
Abraham Weintraub, ministro da Educação, em resposta a um apoiador que protestava contra a corrupção no Brasil