Politica

GDF proíbe manifestações

Decreto do governador Ibaneis Rocha proíbe circulação de pessoas e veículos na Esplanada dos Ministérios até 23h59 de hoje. Medida foi em resposta a grupo de bolsonaristas que invadiu área restrita do Congresso Nacional. Manifestante ameaçou o chefe do Executivo local



A ação de um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro levou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), a proibir a circulação de veículos e de pedestres na Esplanada dos Ministérios.Ibaneis Rocha decretou o fechamento total do local após o registro de diversas manifestações nos últimos domingos no espaço, causando aglomerações e levantando pautas antidemocráticas. A proibição vale até as 23h59 de hoje.

No decreto, publicado em edição extra do Diário Oficial do DF, Ibaneis destacou que as manifestações vão contra as medidas sanitárias de combate ao novo coronavírus, aumentando o risco de contaminação. A decisão do governo local levou em consideração a demanda urgente de medidas de prevenção, controle e contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública para evitar um crescimento ainda maior da covid-19. 

Os ataques inconstitucionais dos movimentos também foram motivos apresentados no decreto, além das “ameaças declaradas por alguns dos manifestantes aos Poderes constituídos”. Mais cedo, o governador do Distrito Federal ficou irritado com as ameaças de apoiadores bolsonaristas, após o desmonte de um acampamento na região central de Brasília. “Não admito ameaças”, disse Ibaneis ao Correio.

De agora em diante, as manifestações na Esplanada dos Ministérios só poderão ocorrer se forem comunicadas, com antecedência, e autorizadas pelo Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Hoje, o acesso aos prédios públicos federais só será permitido a autoridades e servidores públicos federais que estejam em serviço. Todos devidamente identificados. O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran) e o Departamento de Estrada e Rodagem (DER) ficam responsáveis pela organização e fiscalização do trânsito e os órgão de Segurança Pública pela fiscalização do local.

O decreto do GDF foi a resposta a um novo ataque contra o Congresso Nacional, protagonizado pelo grupo autodenominado “300 do Brasil”, ontem, na Esplanada dos Ministérios. No início da tarde, cerca de 20 membros do grupo de apoiadores de Bolsonaro invadiram a plataforma superior do Congresso Nacional, que está interditada. Sem máscara e gritando “acabou, p*” em um megafone, eles chegaram a subir a rampa do prédio pelo lado do Senado Federal. O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), determinou a retirada imediata dos manifestantes.

Policiais legislativos retiraram os apoiadores da parte externa do prédio. No entanto, aproximadamente 15 pessoas continuaram sentadas no gramado gritando palavras de ordem contra o Parlamento, o comunismo e o governador Ibaneis Rocha. “O Brasil é nosso”, diziam. Eles carregavam a bandeira do país como “escudo”, nas palavras de um participante, mas não utilizavam as máscaras — equipamento de segurança pessoal e obrigatório em espaços públicos, sob pena de R$ 2 mil para pessoa física e R$ 4 mil para estabelecimentos.

Uma equipe de cerca de 20 policiais legislativos e 25 seguranças montaram uma barreira de segurança em frente ao Congresso para impedir qualquer investida dos manifestantes. “Meu povo de Pernambuco está sofrendo. Temos que lutar pela nossa bandeira. O lugar da bandeira do Brasil é no Congresso”, gritou um dos manifestantes. Bolsonaristas da Bahia também estiveram presentes no ato.

A ativista Sara Winter, investigada no inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal, liderava o grupo. “Vocês tiram nossa barraca e a gente tira seu Congresso”, disse a militante, para justificar a invasão do Congresso. Ela também usou as redes sociais para criticar o desmonte do acampamento. “A @pmdfoficial junto a Secretaria de Segurança desmantelou baixo gás de pimenta e agressões. Barracas, geradores, tendas, tudo tomado à força! A Militância bolsonarista foi destruída hoje. Presidente, reaja!!!”, escreveu Winter.

Na manhã de ontem, o grupo precisou desocupar a área pública em que acampavam desde 1º de maio. A operação foi coordenada pela Secretaria de Segurança Pública e pelo DF Legal e visou cumprir um conjunto de leis federais e locais, além do decreto do GDF que proíbe aglomeração por conta da pandemia mundial do coronavírus.

Repercussão
Após a tentativa de invasão, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) se juntou ao restante do grupo que permaneceu concentrado ao lado do Ministério da Agricultura. Em um primeiro momento, o parlamentar e filho do presidente era o único apoiador com máscara. No entanto, também tirou o equipamento do rosto após um tempo e chegou a tirar fotos sem a proteção facial. Sem citar a invasão ou o descumprimento da exigência do uso das máscaras, o deputado afirmou que, na segunda-feira (15), vai se reunir com o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) para reclamar “sobre os fatos de hoje e manifesto por respeito à liberdade de expressão”, segundo postou no Twitter. Mais cedo, ainda na rede social, Eduardo defendeu o grupo. “O que essas pessoas estavam fazendo de errado ou ruim para que o governador Ibaneis determinasse sua remoção? Manifestação seguindo protocolos de saúde não desrespeita sequer o decreto distrital”, questionou.

Em nota, o Senado Federal relatou o incidente. “Um grupo denominado 300 do Brasil tentou invadir áreas restritas do Congresso Nacional [...]. Assim que tomou conhecimento do ato, o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre, determinou que a polícia legislativa fizesse a retirada do grupo”, informou o texto.

No meio da tarde, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) também emitiu nota oficial. “Policiamento ostensivo, acompanhando o evento”, dizia o texto. O Correio apurou que a polícia negociou com os manifestantes para a saída do grupo do gramado a partir das 18h. No horário estipulado, os manifestantes começaram a deixar o local acompanhados pela polícia legislativa.