O presidente da Câmara, Rodrigo (DEM-RJ), voltou a descartar a possibilidade de um impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o deputado afirmou que é o momento de unificar o país e combater o coronavírus. Ele também se disse contrário a qualquer tipo de manifestação quando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é o isolamento social. Sobre sua relação com Bolsonaro, disse que “melhorou muito”, e que as reuniões com o presidente "são sempre muito positivas". "Tem conflitos e cada um precisa defender sua instituição, a Constituição e trabalhar com harmonia", afirmou.
O parlamentar destacou ainda que lidar com o tema exige isenção e equilíbrio. “Não é hora de discutir impeachment, mas a união do Brasil, salvar vidas e empregos. Sempre fui contra aglomeração nesse momento que vivemos e não posso se a favor de manifestações, que aceleram a contaminação e a perda de vidas. Primeiro, temos que tratar da pandemia, das vidas e dos empregos. E é uma posição que eu tenho que ter muito cuidado, isenção e equilíbrio”, afirmou.
“Nesse momento, temos que unir esforços. Estamos chegando a perda de 40 mil vidas. E esse número ainda vai crescer nos próximos meses. O seguro desemprego passou de 1 milhão de beneficiários, e vamos chegar a uma taxa de 18% (de desempregados). Temos um mundo polarizado. Todos aqueles que entende que o diálogo e respeito ao contraditório, que são a maioria da população, é fundamental, precisam estar focados nesse objetivo, para termos menos mortes e perda menor desempregos no nosso país”, acrescentou.
Ainda no tema, Maia diz que sofre pressões diversas de diferentes setores da sociedade, mas reiterou a necessidade de focar no combate ao coronavírus. “Eu me sinto pressionado. Acompanho redes sociais, telejornais, rádios. Tem pressão para todos os lados. Talvez por ter passado por momentos tão difíceis como esse, talvez eu tenha a experiência que eu não tinha em 2017”, analisou.
“Pressão precisa existir. Não o radicalismo. E vou filtrando as informações e criando o meu convencimento, ouvindo deputados, deputadas, assessores, a sociedade, vendo notícias. Como o Ciro (Gomes) falou, eu concordo, nosso objetivo é o enfrentamento à pandemia. E as questões políticas ficam para um segundo momento. Precisamos unificar, convergir. É muito importante buscar o que nos une. Em um segundo momento, um movimento contra ou pró Bolsonaro pode crescer ou não. Isso é outro momento. A gente não pode olhar 2022 no meio de uma pandemia que matou quase 40 mil pessoas e o número ainda vai crescer nos próximos meses”, alertou.
Maia também comentou a polêmica da divulgação dos dados de mortos e contaminados por coronavírus. Disse que o governo tem o direito de mudar o modelo, mas não pode sumir com os dados. “Falei com o ministro. Da forma que ficou colocada, a impressão é que havia interesse de se manipular os dados. O ministro voltou a usar os dados anteriores. Isso nos dá conforto. O governo pode mudar e mostrar porque um modelo é melhor que o outro. Agora, desaparecer com um modelo e aparecer com outro, corre o risco, como disse a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), de parte dos números sumir, e isso gerar um problema de comunicação e de insegurança”, disse.
Outro tópico tratado na entrevista foi a interferência entre os poderes. Maia tocou no assunto pela primeira vez ao comentar a necessidade de união do país, também, para enfrentar a crise econômica pós coronavírus. “Precisamos de uma coordenação através da presidente da República. Não somos um país rico e vai ser importante conseguir essa união. No julgamento do Supremo, dos limites de cada poder, ficou claro que o poder de coordenar é do governo federal. Ninguém pode suprir o papel do governo federal”, refletiu.
Posteriormente, questionado sobre as ações do STF e a fala do vice-presidente, Hamilton Mourão, de que os ministros estariam extrapolando suas funções, Maia voltou ao tema. “Do ponto de vista concreto, todos estão respeitando (os demais poderes). No discurso, alguns estão derrapando. Falando além do que deveriam do que é o seu papel. Se há por parte do vice Mourão o ponto de vista que o STF está passando dos limites, cabe recurso. Cabem duas vias, o recurso ou as leis. O recurso ao Supremo de uma decisão do ministro é legítimo, democrático e pode acontecer”, apontou.
“Se há, do ponto de vista do governo, algum limite ultrapassado pelo sSupremo, é muito simples. Se recorre ao plenário e resolve esse conflito, para saber qual é a posição da maioria dos ministros no caso de qualquer ação ou decisão do STF. O poder moderador no Brasil é feito nessa organização dos freios e contrapesos. Se o governo acha que tem uma lei que está distorcendo, gerando desemprego, tem o poder de modernizar a lei, de mudar a lei com apoio majoritário do parlamento. Esse são os caminhos”, elencou.
Batalha pelo Centrão
Questionado sobre a aproximação de Bolsonaro com o chamado Centrão, Maia destacou a função que exerce como presidente da Câmara. “O presidente da Câmara não tem o papel de ser o contraponto do presidente. Os poderes tem que ter harmonia. No ano passado, quando o governo quis impor a pauta, eu disse que não, que a pauta da Câmara é feita ouvindo o governo, mas, uma coordenação entre o presidente da Casa e os líderes, deputados e deputadas”, argumentou.
“No que cabe ao parlamento, estamos trabalhando. Fizemos a CPMI das fake news. Votamos projetos, muitos do governo, muitos que o governo diverge, é temos feito as críticas corretas. Nesse mundo radical, a gente não vai ganhar nunca, e quem vai perder são a maioria dos brasileiros, preocupados com a saúde de suas famílias, e com empregos, renda, melhoria da qualidade do SUS. É disso que a maioria dos brasileiros estão preocupados”, destacou.
Nesse ponto da entrevista, Maia passou a falar também sobre a polarização política. “Nesse mundo radical, a gente respeita e avalia o ponto de vista de todos, mas é uma briga entre extrema direita e extrema esquerda, e que não tem levado o Brasil a um bom caminho. O caminho que gera unidade é do diálogo, equilíbrio e centro democrático, para que possamos reformar as instituições, melhorar qualidade de serviço e do gasto público. A desigualdade é grande, a qualidade da educação pública está aquém do preciso para competir com o filho de uma família da elite. Tenho certeza que o equilíbrio é o caminho correto, ouvir a todos, senadores, governadores, Supremo e a sociedade”, opinou.
“A maioria da sociedade está na agenda de passar por esse momento difícil e construir, unidos, o caminho para a retomada do desenvolvimento. Não vejo problema que tenhamos gastos públicos. Mas não podemos continuar vendo a diferença de escola pública para privada, do hospital público para o privado. Esse é o objetivo de toda uma nação, e é disso que temos que nos preocupar. O debate do radicalismo não leva o Brasil, os Estados Unidos, a Itália, a lugar nenhum. O ambiente das redes sociais, nos próximos anos, vai ser muito mais de convergência que de divergência”, avaliou.
Fake news
Maia demonstrou apoio ao combate às fake news, mas não quis comentar sobre o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa do presidente da República e na investigação do Supremo Tribunal Federal. “Como alvo das fake news nos últimos 12 meses, tanto a CPI quanto o inquérito do STF tem papel fundamental para a nossa democracia. Não dá pra ter uma estrutura de financiamento de informações falsas. Há um ambiente de pessoas financiando a desqualificação das pessoas em todos os campos, e esse enfraquecimento gera na sociedade uma posição, gerou mais no passado e menos agora, mas isso enfraquece os sistema democrático e instituições democráticas”, disse.
Saiba Mais
Rio de Janeiro
Maia também comentou a briga entre o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o presidente da República, e a operação da Polícia Federal contra Witzel, que foi anunciada pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) que, em tese, não deveria ter conhecimento da ação. Para o deputado, ou a informação vazou, ou Zambelli tem uma “bola de cristal”. “Eu sempre disse aos governadores que o papel deles não é ser oposição ao presidente. Isso nunca funcionou no Brasil. O correto é que quem ganhou para ser executivo tenha uma relação de harmonia e independência entre poderes e entes federados. O ideal é reduzir esses conflitos e trabalhar com um único objetivo que é o fim da pandemia”, insistiu.
“Eu acho que é natural que uma operação que envolva um governador, o presidente da República receba a informações, não do conteúdo, mas do que pode acontecer. E certamente, entre o diretor da PF, o ministro e presidente, alguém vazou a informação para a deputada. É ruim para o investigador ter uma operação antecipada. O investigado pode sumir com provas. Não é o correto. Uma operação que vá atingir o governo, o presidente, algumas horas antes, recebe a info. Isso (que aconteceu) foi muito ruim. A PF executa ordens do STJ, mas na hora de montar a informação, eles passaram a para alguém do governo e o MP deve investigar esse vazamento. Se não houve vazamento, ela tem bola de cristal. Uma coisa ou outra”, ironizou.