A dimensão dos atos marcados para hoje, em várias capitais do país, é incerta, com mudanças de última hora nos locais das manifestações e pedidos para suspendê-las. Também há dúvidas sobre a atuação policial e medo de confrontos entre os grupos pró-Bolsonaro e contrários, aos quais se somarão protestos antirracistas, como aconteceu no último domingo. Preocupado com a repercussão, o presidente Jair Bolsonaro ameaça usar a Força Nacional para reprimir “marginais”, caso “extrapolem o limite da lei”.
O governo do Distrito Federal rejeitou a ajuda da tropa federal, mesmo depois da visita do presidente ao gabinete do secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, na última quinta-feira. O GDF assegurou, ontem, em nota, que o policiamento local será suficiente para garantir “a livre manifestação e a ordem”. As forças de segurança ficarão em toda a Praça dos Três Poderes e nos arredores, onde os grupos antagônicos pretendem se reunir.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios disse, em nota, estar atento às “denúncias sobre o incentivo, por parte de integrantes da Polícia Militar, ao uso de força excessiva contra os manifestantes”. O MPDFT recomendou que manifestantes denunciem eventuais abusos na ouvidoria do órgão.
Porém, em São Paulo, a situação corre o risco de voltar a se complicar. Apoiadores e contrários a Bolsonaro não chagaram a acordo sobre dia, hora e local dos atos, o que gerou impasse e foi judicializado. Na tentativa de evitar conflitos entre os dois lados, contra e a favor do governo, como o que ocorreu no último domingo, o juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) Rodrigo Galvão Medina concedeu liminar proibindo a realização de movimentos antagônicos na Avenida Paulista.
Os dois lados pretendiam se reunir na região e não chegaram a um consenso sobre qual deles alteraria o lugar. Com a decisão judicial, o Movimento Somos Democracia mudou para o Largo do Batata, “apesar do inconformismo com a decisão”, afirmou, em nota. O objetivo é “preservar a integridade física dos manifestantes e evitar a repressão”. Apesar de parte dos ativistas defender a suspensão do ato, para evitar contágio pelo novo coronavírus, o grupo disse que não vai recuar.
“Nós, torcedores articulados no Movimento Somos Democracia, ativistas do movimento negro e da Frente Povo Sem Medo, entendemos que essa decisão atenta à liberdade de manifestação. Apesar disso, para garantia da integridade física dos manifestantes, comunicamos a decisão de mudança do local do ato em São Paulo para o Largo da Batata às 14h”, diz uma nota conjunta dos movimentos Somos Democracia, Frente Povo Sem Medo e Ato Urgente SP - Vidas Negras Importam.
Cautela
Para tranquilizar os manifestantes, o Movimento Somos Democracia, ativistas do movimento negro e da Frente Povo Sem Medo dizem que haverá distribuição gratuita de máscaras e álcool em gel, além do distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas. Para diminuir a preocupação com intervenções policiais, organizadores dos atos também têm pedido, nas redes sociais, que não haja depredação de patrimônio público –– como, aliás, se viu no domingo passado.
O esquema de segurança em São Paulo será reforçado nas duas regiões, com mais de 4 mil policiais envolvidos. O governo do estado anunciou o uso de três helicópteros, seis drones, 150 viaturas, quatro veículos guardiões e um veículo lançador de água.
No último domingo, os protestos que começaram pacíficos terminaram em tumulto, quando manifestantes favoráveis e contrários ao governo entraram em confronto. A Polícia Militar de São Paulo precisou intervir, mas integrantes de movimentos anti-bolsonaristas criticaram o uso desigual da força contra cada lado.
Deputado suspeito de montar dossiê
Depois que na última terça-feira dados pessoais do presidente Jair Bolsonaro, de seus parentes e de integrantes do primeiro escalão do governo foram divulgados, numa rede social, por um perfil do Anonymous Brasil, no dia seguinte, foi a vez de circular pelos grupos de WhatsApp um dossiê com fotos e endereços das redes sociais, e outros detalhes de pessoas tachadas como anti-fascistas. O material começou a ser recebido um dia depois de o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) mostrar uma lista que, segundo ele, tinha recebido, contendo entre 700 e mil nomes, depois que fez um pedido público em seu Twitter. Apesar de terem associado o dossiê a Garcia, ele garantiu que não vazou nada. O deputado é investigado no inquérito das fake news, no Supremo Tribunal Federal.