Correio Braziliense
postado em 05/06/2020 20:03
A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), novo aliado do presidente Jair Bolsonaro no Congresso, por corrupção passiva, nesta sexta-feira (5/6). Um dos líderes mais influentes do chamado centrão, o parlamentar teria recebido propina de R$ 1,6 milhão da empreiteira Queiroz Galvão, no âmbito da Operação Lava Jato, diz a denúncia.
A empreiteira teria feito o repasse para garantir que o PP, partido liderado por Lira na Câmara, apoiasse a manutenção do então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que foi preso em março de 2014, quando a Lava Jato foi deflagrada. A PGR alega que funcionários do doleiro Alberto Youssef teriam feito o pagamento da propina, em dinheiro vivo, para um assessor do deputado.
O caso é investigado com base na delação premiada do doleiro, em 2015. Planilhas de controle de um dos operadores de Youssef, Rafael Ângulo Lopez, apontam dois repasses, feitos em 2012: um de R$ 1 milhão e outro de R$ 593 mil. O valor, segundo as tabelas, "foi para BSB destinado a políticos do PP". Ao menos um entregador de dinheiro esteve em Brasília nas datas apontadas na planilha, de acordo com registros de empresas aéreas.
Caso o Supremo aceite a denúncia da PGR, assinada pela subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo, coordenadora da Lava-Jato na PGR, será aberta uma ação penal para investigar as acusações. O deputado é réu por corrupção passiva desde outubro de 2019, em decorrência de outra denúncia da PGR, com origem na Operação Lava Jato.
O esquema seria o mesmo: Lira teria recebido propina de R$ 106 mil do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Colombo, para apoiar a manutenção dele no cargo, em 2012. O dinheiro teria sido repassado por meio de assessor parlamentar, em espécie.
Acusação
Na delação, Youssef afirma que a propina da Queiroz Galvão foi divida entre integrantes do PP, Paulo Roberto Costa e o operador Henry Hoyer. Parte dos valor teria sido entregue na casa de Henry, no Rio de Janeiro, e o restante, aos parlamentares, em Brasília. Com base no depoimento, também foram denunciados doleiros e executivo da Queiroz Galvão envolvidos no caso, por lavagem de dinheiro.
A PGR confirmou o pagamento feito a Lira, mas não encontrou indícios de que ele tenha repassado os valores a outros parlamentares. Por isso, pediu arquivamento do inquérito em relação ao senador Ciro Nogueira (PP-PI) e aos deputados Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Dudu da Fonte (PP-PE), que também eram investigados.
Centrão
Além de ser cotado como opção para presidir a Câmara no ano que vem, Lira é um dos mais influentes líderes do centrão, que tem se aproximado do governo nos últimos meses e, em troca, recebido cargos de chefia no Executivo. O deputado esteve com Bolsonaro no fim de abril e registrou o encontro, amigável, em fotos. O presidente tem recorrido a parlamentares de partidos como PP, PL e PSD em busca de apoio para barrar um eventual processo de impeachment.
Saiba Mais
Defesa
O advogado de Lira, Pierpaolo Bottini, atribuiu as acusações a desentendimentos políticos. "Arthur Lira fez parte de um grupo que assumiu a liderança do PP e afastou Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef do partido. Fato já provado e que explica a inimizade dos colaboradores e suas reiteradas tentativas de envolver o parlamentar em ilícitos dos quais não participou", diz, em nota.
Segundo o advogado, o operador chamado Ceará, que a acusação afirma que teria feito os repasses, "desmente tal versão em dois depoimentos". "O próprio STF reconheceu as inverdades de Youssef em outros depoimentos contra a Arthur Lira. Fundamentar uma denúncia nas palavras desse doleiro é premiar um ato de vingança contra alguém que se postou contra suas práticas", afirma.
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