O governo federal voltou a entregar cargos para apadrinhados do Centrão, ontem, e nomeou para órgãos de terceiro escalão nomes ligados ao PL e ao DEM. Desde o início da aproximação do presidente Jair Bolsonaro com as legendas, no fim de abril, ao menos 11 postos da administração pública federal foram entregues ao grupo em troca de apoio no Congresso.
Uma das indicações foi assinada pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. Nomeou Thiago Angelus Conceição Brandão para o cargo de superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Pernambuco. Assessor parlamentar do PL na Assembleia Legislativa do estado, no ano passado, Brandão é formado em comunicação social com habilitação em publicidade e propaganda, tendo no currículo passagens pelo Departamento de Trânsito do Rio Grande do Norte e pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) de Pernambuco.
O outro nome do Centrão teve a rubrica do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que efetivou Roberto Postiglione de Assis Ferreira Junior para diretor de Administração da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco).
O ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), um dos políticos mais próximos de Jair Bolsonaro e amigo de longa data do presidente, foi o principal responsável pela articulação. Em 2017, durante a gestão de Michel Temer, ele já havia indicado Postiglione para ser diretor de Planejamento e Avaliação da Sudeco. A estratégia foi importante para que o ex-presidente tivesse maioria de votos na Câmara para barrar duas denúncias de crimes comuns, da Procuradoria-Geral da República, contra ele.
Agora, o cenário se repete. Com pelo menos três dezenas de pedidos de impeachment protocolados na Câmara, Bolsonaro tenta aumentar a sua base entre os deputados. Os recentes acordos com o Centrão podem diminuir o risco de ser retirado, caso o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decida tocar um processo.
Os principais partidos no toma lá dá cá — PP, PL, Republicanos, Solidariedade e PTB — contam com 136 cadeiras na Câmara. MDB, PSD e DEM — contemplados com cargos no governo, mas que não se reconhecem como integrantes do Centrão — podem garantir outros 98 votos para Bolsonaro. Já legendas como Pros, PSC, Avante e Patriota, que juntas têm 32 parlamentares, engordam o placar em favor do presidente, pois habitualmente seguem a orientação do Centrão nas votações.