Politica

Ataques ao STF vêm a galope

Bolsonaro apoia novamente manifestação antidemocrática, sobrevoa ato contra o Supremo, acompanhado do ministro da Defesa, e monta em um cavalo diante dos apoiadores. Aras emite nota repudiando atos hostis à normalidade institucional

O presidente Jair Bolsonaro participou, mais uma vez, de manifestação antidemocrática contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. De helicóptero e acompanhado do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, o chefe do Executivo sobrevoou o protesto na Esplanada dos Ministérios, acenando para as pessoas. Depois, pousou no Palácio do Planalto, onde já estavam aglomeradas dezenas de apoiadores à sua espera, como tem acontecido nas últimas manifestações.


Bolsonaro aproximou-se das pessoas sem máscara, cujo uso é obrigatório no Distrito Federal desde 11 de maio. Depois de cumprimentar simpatizantes, tirar fotos e pegar no colo uma criança — como fez em outros atos a favor do governo durante a pandemia do novo coronavírus —, montou num cavalo da Polícia Militar. Ele percorreu novamente a extensão onde estavam os apoiadores, acenando para todos.


Nas faixas e cartazes com o grupo, liam-se “abaixo a ditadura do STF”, “fora parasitas do STF e do Congresso” e “fora, Maia”, numa menção ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Também havia faixa pedindo uma intervenção militar e o fechamento do Supremo e do Parlamento.


A maior parte das frases, no entanto, era contra a Corte, o grande inimigo da vez dos bolsonaristas. O aumento de críticas ao tribunal se dá pelo inquérito das fake news, que investiga ameaças e notícias falsas contra os ministros. Na última quarta-feira, a Polícia Federal cumpriu 29 mandados de busca e apreensão contra blogueiros, youtubers, políticos e empresários apoiadores do presidente.
Um dos que entraram na mira da operação, o blogueiro Allan dos Santos estava na manifestação de ontem, fazendo uma transmissão ao vivo para o seu canal. Outra participante foi Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, que lidera um grupo autointitulado “300 do Brasil”. No dia em que ocorreu a ação da PF, da qual também foi alvo, ela chamou de “covarde” o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou a ação policial. A ativista ainda publicou um vídeo no qual dizia que gostaria de “trocar soco” com o magistrado e que descobriria tudo sobre a vida dele, incluindo os lugares que frequenta.


Também presente na manifestação estava o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), que ficou ao lado de Bolsonaro. Assessores do gabinete do parlamentar foram alvos de busca e apreensão da PF.


A ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB), filha do presidente nacional do partido, Roberto Jefferson, compareceu ao protesto. O político é o mais novo apoiador de Bolsonaro, que tem se aproximado, cada dia mais, de legendas do Centrão. Ele também foi alvo de mandado de busca e apreensão cumprido por agentes da corporação.


Cristiane Brasil usava uma camiseta replicando uma frase dita pelo pai: “A toga não é mais forte do que o fuzil”. “Em Brasília, para defender o direito de livre expressão, protestar contra o autoritarismo do STF, apoiar o governo Bolsonaro e defender a democracia”, escreveu numa rede social. Ela diz ser pré-candidata à prefeitura do Rio de Janeiro.

Repúdio

Em nota publicada na noite de ontem, o procurador-geral da República, Augusto Aras, disse repudiar atos que possam colocar em risco a normalidade institucional. A manifestação é assinada, também, pelo procurador Fabiano Dallazen, presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG).


No posicionamento, o MP pede respeito à Carta Magna do país. “A estabilidade da nação depende do respeito à Constituição Federal por todos, especialmente pelos Poderes constituídos. Nosso compromisso é com o Estado democrático de direito. Repudiamos atos que possam afetar o ambiente de normalidade institucional preservado desde a Lei Maior de 1988”, destacou um trecho do texto. “Por isso, rejeitamos a intolerância, especialmente as fake news que criam estados artificiais de animosidade entre as pessoas, causando comoção social em meio a uma calamidade pública, com riscos de trágicas consequências para a povo.”


A nota ressaltou que existem preocupações com a ordem democrática. “O Ministério Público brasileiro está preocupado com este estado de coisas e cumprirá com os seus deveres constitucionais na salvaguarda da ordem jurídica que sustenta as instituições do país”, completou.