Politica

Deputados não creem em desconhecimento



As suspeitas de que a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) foi informada previamente da operação de busca e apreensão da Polícia Federal, em endereços relacionados ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), realizada ontem, agitaram o Congresso.

Um dos mais veementes foi o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ). Para ele, a ação confirma que o presidente Jair Bolsonaro passou a interferir politicamente na instituição.

“Sinal de que as interferências de Bolsonaro já são realidade. As investigações da Polícia Federal têm que acontecer, doa a quem doer. O que não é admissível é o vazamento das operações para quem quer que seja, bolsonaristas ou não”, cobrou.
O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA), vice-líder do partido na Câmara, disse que Carla se tornou “porta-voz informal” das operações da PF. Ele afirmou que tanto a parlamentar quanto a corporação devem explicações. “O Brasil conheceu ontem e teve confirmação hoje de uma nova ‘função’: a de porta-voz informal de operação da PF. Deputada e Polícia Federal devem explicações sobre tamanha capacidade de ‘adivinhação’”, provocou Jerry.

Representante do PSol, o deputado Marcelo Freixo (RJ) anunciou que pedirá providências, na Câmara, sobre o possível vazamento de informações da PF para Carla. “Agora vamos incluir no processo o vazamento de informações privilegiadas da operação da PF no Rio de Janeiro. A parlamentar antecipou ontem que haveria ações contra os governadores. Como sabia disso?”, questionou.

Para o líder da oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE), a deputada confirmou a instrumentalização dos órgãos de controle e investigação do país. “As ingerências na PF começam a ficar claras”, declarou.

Em várias entrevistas ao longo do dia, deputados bolsonaristas como Carlos Jordy (PSL-RJ) e Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara, saíram em defesa da colega de bancada, afirmando que as informações que ela deu na entrevista à rádio de Porto Alegre já eram sabidas há dias. Negaram ainda que a PF sofra a ingerência política que levou Sergio Moro a se demitir do Ministério da Justiça –– apesar dos apelos da própria deputada para que desistisse da ideia.

Acusações
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) afirmou, em nota, que “é conhecido e notório o vínculo” da deputada com a Associação de Delegados, “desde quando era líder do movimento Nas Ruas”. Lembrou que o laço entre a parlamentar e os delegados “se demonstra pela participação de Zambelli em eventos, vídeos e homenagens”. “A Fenapef defende a apuração, com responsabilidade e profundidade, sobre a possibilidade de que esse vínculo possa ter sido utilizado para a obtenção de alguma informação privilegiada”, acentuou.

Em resposta à Fenapf, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) repudiou a nota emitida classificando-a de “irresponsável”. “No momento em que a Polícia Federal é colocada involuntariamente no centro do debate político, nada mais danoso para o órgão do que a utilização desse ambiente para se criar instabilidades por rixas classistas que nada colaboram com a defesa da instituição”, rebateu.

A Associação afirmou que não tem acesso a informações referentes a qualquer investigação em andamento e disse que vai tomar medidas judiciais cabíveis contra os dirigentes da Federação para que “provem as insinuações que fizeram ou respondam pelas leviandades”.

Reações
“A Fenapef defende a apuração, com responsabilidade e profundidade, sobre a possibilidade de que esse vínculo possa ter sido utilizado para a obtenção de alguma informação privilegiada” 
Trecho da nota da Federação Nacional dos Policias Federais

“A ADPF atua na defesa da Polícia Federal e sempre condenou, de forma intransigente, qualquer tipo de vazamento de informações sigilosas, por quem quer que seja. Os responsáveis por revelação de qualquer segredo profissional, devem ser processados e demitidos, sem prejuízo das sanções cíveis e penais cabíveis” 
Trecho na nota da Associação dos Delegados da Polícia Federal

“A Polícia Federal é um órgão de Estado. Suas ações são autorizadas e controladas pelo Poder Judiciário, com participação do Ministério Público Federal. Canalhice sem tamanho tentar atribuir qualquer viés político nas ações de hoje no RJ, desmerecendo a ação dessas instituições” 
Major Vitor Hugo, líder do governo na Câmara, no Twitter