Politica

Bolsonaro sobre jornais não cobrirem mais Alvorada: 'Estão se vitimizando'

Jornais tomaram decisão depois de constantes ataques a profissionais da imprensa

O presidente Jair Bolsonaro afirmou na noite desta terça-feira (26/5) que os jornais que decidiram deixar de cobrir temporariamente o Palácio da Alvorada por conta de fortes agressões verbais e falta de segurança, entre eles a Folha, o grupo Globo, O Estado de S. Paulo e o Correio Braziliense, estão se vitimizando.

A fala foi feita na entrada da residência oficial, após rápida entrevista com dois jornalistas de uma mesma emissora. Foi então que ele disparou: "A Folha não está mais aqui, não? O Globo não está? Estadão também não", apontou o presidente, arrancando risos de apoiadores. 

Ao ser informado por um repórter sobre a decisão de alguns dos veículos de imprensa, Bolsonaro disse: "Estão se vitimizando. Quando eu levei a facada eles não falaram nada. Não teve na Folha falando sobre quem mandou matar Bolsonaro. Nada. Muito pelo contrário. Levei pancada o tempo inteiro. Na Globo também não vi nada. Se for pegar o número de horas que a Globo fez para a Marielle [e o meu caso, eu acho que dá 100 por 1, tá certo? Mas tudo bem. Imprensa livre. Nunca tiveram uma palavra minha, um ato meu para tentar constranger a mídia, dizer que ela devia ser controlada. Nunca persegui ninguem, mas o ditador sou eu”.

Mais cedo, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) divulgou uma nota dizendo que algumas práticas já foram adotadas para garantia de segurança adequada, como a separação por meio de grades e inspeção dos frequentadores do local. O gabinete afirmou ainda ter criado as melhores condições possíveis para o trabalho dos profissionais de imprensa e, também, um espaço reservado aos apoiadores do Presidente e que continuará aperfeiçoando os dispositivos de segurança.

“Continuaremos aperfeiçoando esse dispositivo, para que o local permaneça em condições de atender às expectativas de trabalho e de livre manifestação dos públicos distintos que, diariamente, comparecem ao Palácio da Alvorada”, diz um trecho do documento.

Ataques constantes

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Ontem (25), a ação dos populares ocorreu pouco depois de Bolsonaro deixar o local, após ficar quase 16 minutos conversando com os simpatizantes e ter dito que não falaria com a imprensa. "No dia que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês de novo", disse o presidente, recebendo imediato apoio de alguns simpatizantes.

Na hora das agressões verbais, os manifestantes se uniram em coro para chamar a imprensa de "lixo", enquanto outros gritavam e batiam no peito. "Nossa bandeira jamais será vermelha", "fechada com Bolsonaro", "imprensa golpista" e "Bolsonaro até 2050" foram algumas das frases ditas. Houve também quem chamasse os profissionais de "comunistas", "safados", "sem vergonha", "escória", e "ratos".

Como os ataques vêm aumentando, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) instalou duas grades para aumentar o espaço entre os dois grupos. No entanto, nos últimos dias, das duas grades, apenas uma estava no local, além de uma fita de contenção, geralmente ignorada pelos bolsonaristas.

Os jornalistas que cobrem o presidente Bolsonaro têm sido alvos constantes de assédio. Em uma ocasião, um humorista que estava com o presidente no Alvorada ofereceu bananas aos repórteres, depois de o próprio presidente cruzar por duas vezes os braços, em um gesto que significa "dar uma banana".

No domingo 17, uma repórter da TV Bandeirantes foi atingida por uma bandeirada ao cobrir um ato de apoio ao presidente. A mulher que segurava o objeto, uma servidora pública, alegou ter sido um acidente.

Na manhã do último dia 10, dois simpatizantes do governo reviraram o lixo deixado pelos profissionais para filmar notas fiscais e exibir dados como nomes e CPF. Durante o vídeo, um dos homens chamava os repórteres de "porcos" e "sujos". 

No início do mês, o fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de S. Paulo, foi agredido por bolsonaristas. Segundo consta na ocorrência da Polícia Civil, o repórter fotográfico informou que fazia a cobertura de uma manifestação e estava tirando fotos do presidente da República quando começou a ser hostilizado. Algumas pessoas teriam colocado bandeiras na frente da câmera, tentando impedir os registros. 

Na sequência, os manifestantes começaram a colocar a mão na lente da câmera e a agredir o profissional. O homem, que usava uma escada pequena para ter uma visão melhor, acabou sendo empurrado, caiu e bateu a cabeça no chão. A partir daí, ele se levantou para tentar sair da aglomeração e começou a ser agredido com socos e chutes.

No dia 31 de março, Bolsonaro estimulou apoiadores a hostilizarem jornalistas que o entrevistavam durante coletiva na saída da residência oficial. Após a fala do presidente, um dos apoiadores presentes na claque de Bolsonaro começou a gritar e atacar a imprensa, dizendo que a mídia “fica o tempo todo jogando os ministros contra o presidente. O presidente contra os ministros”. Outros gritaram: “Criam picuinha que não existe, vocês ficam criando coisa que não existe. Jogando Mandetta contra o governo”.

Bolsonaro então validou a fala do apoiador, permitindo que ele continuasse e mandando a imprensa ficar calada. “Pode falar. É ele que vai falar, não é vocês não", disse o chefe do Executivo. 

Em meio ao desrespeito e xingamentos, os jornalistas se afastaram do local da entrevista, ficando ao fundo. "Mas vão embora? Vão abandonar o povo, pô? A imprensa que não gosta do povo", disse Bolsonaro, ironizando. 

O Correio Braziliense, há pelo menos 45 dias, não faz mais a cobertura presencial de Jair Bolsonaro, no portão do Palácio da Alvorada. A decisão foi tomada não apenas porque o jornal percebera que os apoiadores do presidente estavam cada vez mais exaltados. A retirada da equipe de cobertura deu-se também por motivos de saúde pública, pois a recomendação das autoridades é para que se evitem aglomerações e o contato próximo com pessoas sem a máscara de proteção.