Politica

Federação de Policiais Federais fala de vínculo entre Zambelli e delegados

Fenapef afirma que é preciso apurar "com responsabilidade e profundidade" se o vínculo entre a parlamentar e Associação dos Delegados pode ter sido utilizada para obter informação privilegiada

A  Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) afirmou em nota nesta terça-feira (26/5), que "é conhecido e notório o vínculo" da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) com a Associação de Delegados, "desde quando era líder do movimento Nas Ruas". A nota é relativa à Operação Placebo, da PF no Rio de Janeiro, que atingiu o governador Wilson Witzel. Na última segunda-feira (25), Zambelli falou que haveria operação na PF que iria atingir governadores.

A operação tem como intuito apurar suspeita de desvio de recursos relacionados ao combate ao novo coronavírus. Como parte da ação, houve busca e apreensão no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, e também no escritório da primeira-dama, Helena Witzel.

A Fenapef afirmou em nota que o laço entre a parlamentar e delegados "se demonstra pela participação de Zambelli em eventos, vídeos e homenagens". "A Fenapef defende  a apuração, com responsabilidade e profundidade, sobre a possibilidade de que esse vínculo possa ter sido utilizado para a obtenção de alguma informação privilegiada", pontuou.
 
Em resposta, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) repudiou a nota da Fenapef, chamando-a de "irresponsável". "No momento em que a Polícia Federal é colocada involuntariamente no centro do debate político, nada mais danoso para o órgão do que a utilização desse ambiente para se criar instabilidades por rixas classistas que nada colaboram com a defesa da instituição", pontuou.  

A associação afirmou que não tem acesso a informações referentes a qualquer investigação em andamento e que a regra da diretoria é se manter distante de fatos investigados. A entidade disse ainda que sempre condenou qualquer tipo de vazamento de informações sigilosas e que vai tomar medidas judiciais cabíveis contra os dirigentes da federação para que "provem as insinuações que fizeram ou respondam pelas leviandades lançadas publicamente".
 
Em entrevista à Rádio Gaúcha, na última segunda-feira (25), Zambelli falou: "A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali na agulha para sair, mas não saíam. E a gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar, talvez, de 'Covidão', não sei qual vai ser o nome eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal".

Nesta terça-feira, à CNN Brasil, a parlamentar negou ter tido acesso e vazado informações sobre as investigações. "Foi uma coincidência? Não só isso. Se eu soubesse e tivesse informação privilegiada... Eu não pareço ser uma pessoa burra, poderia até ser, mas não sou. Eu falaria isso publicamente se tivesse informação privilegiada?”, disse.

Em nota, a federação pontuou ainda que "apoia todo e qualquer esforço para apurar e combater a corrupção" e que "a lisura das investigações e o sigilo das operações devem ser preservados em qualquer circunstância". 
 
 

Interferência na PF

 
A suposta antecipação de Zambelli da operação que atingiu Witzel acontece em meio a uma investigação que apura suspeita de interferência política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na PF. Um inquérito foi aberto no Supremo Tribunal Federal (STF), após pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), para apurar acusações que foram feitas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro no dia 24 de abril, ao pedir demissão.

Confira nota da Fenapef na íntegra:
 
A respeito da Operação Placebo e seus desdobramentos, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) informa que:

1. A Fenapef apoia todo e qualquer esforço para apurar e combater a corrupção. Mesmo em tempos de pandemia, os policiais federais seguem fazendo seu trabalho de investigação.

2. A lisura das investigações e o sigilo das operações devem ser preservados em qualquer circunstância.

3. Sobre as suspeitas de que a deputada Carla Zambelli (PSL- SP) foi informada antecipadamente da Operação, é conhecido e notório o vínculo da parlamentar com a Associação de Delegados, desde quando era líder do movimento Nas Ruas. Esse laço se demonstra pela participação de Zambelli em eventos, vídeos e homenagens. A Fenapef defende  a apuração, com responsabilidade e profundidade, sobre a possibilidade de que esse vínculo possa ter sido utilizado para a obtenção de alguma informação privilegiada.

4. A Operação Placebo é realizada pela equipe do SINQ (Serviço de Inquéritos) da DICOR (Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado) da Polícia Federal. O SINQ atua em inquéritos de tribunais superiores que tenham como alvos pessoas com foro nesses tribunais.

5. As buscas nos Palácios das Laranjeiras e da Guanabara foram autorizadas pelo Superior Tribunal de Justiça e têm como objetivo encontrar elementos  de um possível esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do Estado do Rio de Janeiro, conforme informou a Polícia Federal.

Federação Nacional dos Policiais Federais
Brasília, 26 de maio de 2020

Confira a nota da ADPF na íntegra:

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), que há 43 anos representa os delegados da Polícia Federal e tem um histórico de defesa ética e séria da instituição, repudia veementemente a irresponsável nota da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), em razão das graves e infundadas ilações sobre possível vazamento de informações de investigações por parte desta Associação. 

No momento em que a Polícia Federal é colocada involuntariamente no centro do debate político, nada mais danoso para o órgão do que a utilização desse ambiente para se criar instabilidades por rixas classistas que nada colaboram com a defesa da instituição. 

A ADPF defende há muitos anos a criação de um sistema de proteção para a Polícia Federal baseado em autonomia e mandato para o Diretor Geral do órgão. Uma blindagem essencial contra possíveis interferências políticas que ameacem uma instituição de Estado respeitada pela sociedade brasileira. 
 
Na defesa dessa pauta que interessa ao Brasil, a Associação contou e conta com o apoio público de diversos parlamentares, movimentos sociais, instituições e grande parte da população brasileira. Em 2017, toda essa mobilização voluntária, de caráter nacional, resultou na entrega de mais de setecentas mil assinaturas de apoio à Proposta de Emenda Constitucional que prevê autonomia para a Polícia Federal. Dentre esses apoiadores, está a então líder do movimento social “Nas Ruas”, Carla Zambelli, atualmente deputada federal pelo estado de São Paulo. Apoio este recebido às claras e de maneira institucional. A ADPF se orgulha de ter conseguido demonstrar às mais diferentes correntes políticas e da sociedade civil organizada a necessidade de proteção da instituição. 

Importante esclarecer que a ADPF não se confunde com a instituição Polícia Federal, não tendo acesso a informações referentes a qualquer investigação ou operação policial em andamento. Aliás, é uma regra da diretoria da Associação se manter distante de fatos investigados e não se manifestar sobre inquéritos ou apurações em andamento. 
  
A ADPF atua na defesa da Polícia Federal e sempre condenou, de forma intransigente, qualquer tipo de vazamento de informações sigilosas, por quem quer que seja. Os responsáveis por revelação de qualquer segredo profissional, devem ser processados e demitidos, sem prejuízo das sanções cíveis e penais cabíveis. Para tanto a Associação espera uma investigação rigorosa para revelar se houve esse tipo de crime e seus eventuais autores a qualquer tempo e, no caso concreto, para servir como mais um elemento que comprove a atuação maliciosa contra a ADPF. 

A ADPF, independentemente da apuração, irá imediatamente tomar as medidas judiciais cabíveis para que os dirigentes da Fenapef provem as insinuações que fi zeram ou respondam pelas leviandades lançadas publicamente e entendam que divergências classistas não estão acima da ética, da moral, tampouco do nome e da credibilidade da Polícia Federal.