Após o empresário Paulo Marinho relatar vazamento de informações privilegiadas e atrasos em operações policiais em benefício à candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência, a Polícia Federal informou, em nota divulgada ontem, que abriu um procedimento de investigação para apurar as denúncias de que um de seus integrantes teria antecipado ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) informações sobre a Operação Furna da Onça. Já a Procuradoria-Geral da República (PGR) incluiu as revelações no inquérito que apura supostas interferências do chefe do Executivo na superintendência da PF do Rio de Janeiro e determinou que o empresário preste depoimento. O procurador-geral da República, Augusto Aras, discute a denúncia com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete.
Na nota oficial, a PF destacou que se notabilizou pela atuação firme, isenta e imparcial no combate à criminalidade, dentro de suas atribuições legais e constitucionais e disse que “todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje (ontem), a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados”. O senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, rebateu a acusação, feita por Marinho, que é pré-candidato à Prefeitura do Rio pelo PSDB, de que teria recebido vazamento da Polícia Federal sobre investigações envolvendo seu ex-assessor Fabrício Queiroz.
O senador classificou a acusação de “invenção” e afirmou que o empresário tem interesse em prejudicá-lo, já que é suplente de Flávio no Senado. A acusação foi feita em entrevista de Marinho ao jornal Folha de S.Paulo. O empresário disse, na entrevista, que o senador relatou em uma reunião em dezembro de 2018 que teve conhecimento de forma antecipada sobre a realização da Operação Furna da Onça, que alcançou Queiroz. Segundo Marinho, o delegado disse a Flávio que, por simpatizar com a campanha de Jair Bolsonaro, teria adiado a deflagração para depois das eleições. A operação Furna da Onça, que investigava desvio de verba e lavagem de dinheiro de gabinetes da Alerj, foi realizada em 8 de novembro, tendo como um dos alvos Queiroz.
O empresário de 68 anos, além de suplente do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), foi um dos principais aliados de Jair Bolsonaro durante a corrida presidencial de 2018. Ele ofereceu ao então candidato, à época, a mansão no Rio para servir de escritório de campanha e local de gravação dos vídeos publicitários. Foi também na casa de Marinho a primeira reunião da equipe de governo após Jair Bolsonaro vencer as eleições.
Antes de apoiar Bolsonaro, no entanto, Marinho chegou a promover jantares para o amigo paulistano e governador João Doria que, na época, queria se candidatar à presidência da República. O nome não chegou a ser considerado pelo PSDB na corrida eleitoral.
Em representação protocolada junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ) interpreta que o referido delegado pode tratar-se de Alexandre Ramagem, indicado preferido pelo presidente ao cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
Segundo a alegação, a operação Furna da Onça é um desdobramento da operação Cadeia Velha, a qual foi coordenada por Ramagem. “Parece-nos haver evidente conexão probatória entre os fatos, a ensejar — ao menos por ora — investigação conjunta de forma a descortinar todo o contexto em que essas acusações são feitas”, sugere Calero.
Na representação, ele pede novas oitivas como todos os nomes mencionados pelo suplente de Flávio Bolsonaro, incluindo os dois políticos, o presidente da República, os alvos da operação, advogados, o delegado Alexandre Ramagem e a delegada Xênia Soares, responsável pela operação Furna da Onça.