Politica

Veto café com leite

Enquanto tenta se equilibrar entre o apoio a medidas do próprio governo e agrados ao Centrão, o presidente Jair Bolsonaro segura a sanção do projeto que prevê o congelamento de salários de funcionários públicos até dezembro de 2021. O ministro da Economia, Paulo Guedes, recomendou que ele vete várias mudanças aprovadas pelos parlamentares que o presidente não quer desagradar.

A proibição de reajustes foi exigida como contrapartida pelo governo para o socorro a estados e municípios, pela transferência direta de R$ 60 bilhões aos governadores e prefeitos. Ao defender aumentar a lista de exceções, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), escancarou o conflito entre o lado econômico e político, ao dizer que Bolsonaro deu aval às mudanças, mesmo com Guedes contrário a elas. “Sou líder do governo, não de um ministério qualquer”, disse.

Outro indicador para a influência do Centrão no governo poderá ser observado nas próximas semanas pela reação do Congresso diante de outro veto. Bolsonaro barrou a ampliação do auxílio emergencial de R$ 600 para profissionais informais que não estão inscritos no Cadastro Único, como motorista de aplicativos, vendedores porta a porta e ambulantes de praia.

Os parlamentares podem rejeitar o veto e acrescentar novamente as categorias. Nas duas situações, Bolsonaro cogita vetar e, depois, deixar para que o Congresso decida se derruba ou não o veto, para não se desgastar com nenhum dos lados. No momento, há uma espécie de “acordo tácito”, explica o analista Creomar de Souza, da consultoria de risco político Dharma.

“O grupo do Centrão mexe em algumas das escolhas dentro do cotidiano das votações. O presidente, do outro lado, veta para ficar bem com a base. Mas volta e o Congresso derruba”, explica. “O Centrão, tradicionalmente, troca apoio por fatias de decisões relacionadas a políticas públicas, e o ministério da Economia é muito importante nessa lógica”, acrescenta. A dúvida, segundo ele, é até que ponto o presidente consegue sustentar essa relação. (AZ)

“O grupo do Centrão mexe em algumas das escolhas dentro do cotidiano das votações. O presidente, do outro lado, veta para ficar bem com a base. Mas volta e o Congresso derruba”
Creomar de Souza, analista da consultoria de risco político Dharma