Em paralelo à estratégia de Jair Bolsonaro, há a tentativa de criar um fato político forte o suficiente para deixar fora dos holofotes as investigações contra ele em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Para a advogada Vera Chemim, mestra em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), as rusgas com governadores servem como uma ‘cortina de fumaça’, no sentido de desviar a atenção da opinião pública para as denúncias que pairam sobre o presidente e a família dele, bem como estimular uma “queda de braço” incluindo, também, o Congresso e a própria Suprema Corte.
“Os constantes conflitos institucionais levam à inversão de funções típicas da cada Poder Público decorrentes de suas disfuncionalidades. Promovem, na atual conjuntura de enfrentamento de uma grave crise sanitária, uma sensação de incerteza social e sobretudo macroeconômica, pari passu com uma frequente insegurança jurídica, pois testemunha-se um confronto nas três esferas de governo”, explicou Vera.
Na avaliação dela, o desencontro das orientações de natureza sanitária e jurídica apenas enfraquece o cenário político-institucional e, por consequência, as políticas públicas a serem implementadas para fazer frente à pandemia. Dessa forma, em razão da flagrante falta de liderança nacional, e de uma verdadeira preocupação com o bem-estar da população, a tendência é de que as estratégias para a saúde pública se mostrem cada vez mais fragmentadas e ineficazes.
“A continuar dessa forma — de um lado, o comportamento tresloucado do chefe do Poder Executivo, que deveria exercer, de fato, o papel de liderança nacional, disponibilizando segurança e solidariedade, e, ao invés disso, provoca conflitos de toda a ordem; de outro, a doença avançando cada vez mais e o sistema de saúde colapsando —, tanto a vida quanto a economia correm um sério risco de desaparecer gradativamente, levando ao caos o país”, alertou a professora. (AF e IS)