Entre senadores, a saída de Nelson Teich repercutiu mal. Além da mensagem de instabilidade política que perdura no governo, há o receio de que a troca possa prejudicar o combate ao coronavírus. E tanto no Senado quanto na Câmara, há uma ideia geral de que Jair Bolsonaro demitiu dois chefes de pasta que se recusaram a aderir a uma postura anticientífica, e fica o receio de que o chefe do Executivo procure por um soldado que o obedeça cegamente e que assuma a postura negacionista.
O vice-líder do Cidadania, senador Alessandro Vieira (SE) destacou justamente a busca de bolsonaro por um ministro que seja contrário ao isolamento social e favorável ao medicamento cloroquina, que é apontado como possível tratamento para o coronavírus, mas ainda sem respaldo científico. “O grande sinal é de que o Jair Bolsonaro está procurando um médico fanático, um charlatão disposto a endossar protocolos não aceitos pela ciência, ou um cumpridor de ordens que pode ser um militar fardado ou integrante do centrão”, criticou.
O vice-líder destacou que a legenda pretende acompanhar, de forma ativa, a escolha do próximo ministro da Saúde, para evitar políticas negacionistas. “Estamos discutindo, no Senado, quais mecanismos dispomos para acompanhar isso de forma ativa. É claro que o presidente não tem ideia do que é urgente fazer pelo cidadão. Ele perde todo o tempo que tem criando teorias conspiratória de internet ou protocolos milagrosos que não são aceitos pela ciência”, completou Vieira.
Ex-aliado de Bolsonaro, o líder do PSL, senador Major Olimpio (SP), lembrou que já tinha previsto a saída do ministro, caso ele adotasse uma postura científica no combate ao coronavírus. “Eu não sou pitonisa, mas no dia que ele tomou posse, eu disse que para que ele pudesse ficar mais de 30 dias, teria que rasgar o diploma. Hoje, só constatei que ele optou pela ciência e pela medicina. Para comungar da postura do presidente sobre isolamento e cloroquina, eu dúvido que alguém que não seja um lunático ou curandeiro vá topar assinar cegamente essas posições em relação à pandemia”, avaliou.
Ele considerou a troca de chefia como “lamentável”. “Em um cenário muito ruim, teremos três ministros no espaço de um mês. Isso passa mais insegurança para a população. O ministro nunca foi considerado pelo presidente, e ele, na sua humildade, tomou conhecimento do decreto liberando salões, barbearias e academias pela imprensa. Mas, fez opção pela história de vida e pelo diploma. E o próximo que vier, ou vai ser um burocrata para fazer ipsis litteris, ou será trocado também”, criticou Major Olimpio.
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Por meio de nota, o senador José Serra (PSDB-SP) afirmou que a saída do ministro expôs uma crise institucional que atinge o Brasil. “A saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde, menos de um mês após assumir a pasta, expõe a gravidade da crise institucional que atravessamos no país. Bolsonaro nega a ciência, ignora todas as recomendações da academia e a experiência mundial, colocando em risco a vida de milhões de brasileiros. De fato, o presidente é hoje a maior ameaça à saúde pública do Brasil”, divulgou.
Vice-líder do governo no Senado e líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), defendeu o direito de Bolsonaro de trocar o ministro, e destacou que foi uma iniciativa voltada para solucionar problemas, e não para causá-los. “Eu vejo como uma troca de ministros que é prerrogativa do presidente. E a decisão do ministro tem que ser respeitada. Ele não quis continuar no cargo. É uma troca importante em um momento decisivo, mas que temos que encarar com espírito de solução. É partir pra cima e resolver”, argumentou.