Correio Braziliense
postado em 13/05/2020 06:00
Pessoas que tiveram acesso ao vídeo exibido, nesta terça-feira (12/5), na Polícia Federal, dentro do processo que investiga denúncias do ex-ministro da Justiça Sergio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, afirmam que o que foi dito na reunião ministerial de 22 de abril é impactante para o chefe do Executivo. Ficou claro que a grande preocupação dele, ao mudar a chefia da Superintendência da corporação no Rio de Janeiro é proteger os filhos. Ele também estava apreensivo com as repercussões de investigações sobre aliados.
"Todos que assistiram ao vídeo ficaram atônitos. Explicitou-se o que, até então, eram suposições: o presidente Jair Bolsonaro só está preocupado em livrar seus filhos do cerco da PF. Por isso, ele quer tanto ter o controle do órgão e acesso às investigações", contou um dos presentes. Em uma das partes do vídeo, Bolsonaro diz: “Querem f. minha família”. A corporação está próxima de pegar Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), os filhos 02 e 03 do presidente, por disseminação de fake news com o intuito de destruir reputações e defender a volta da ditadura.
A avaliação de duas pessoas que participaram da exibição do vídeo, no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília, é de que a situação é muito ruim para o governo. “Como Bolsonaro vai rebater o que disse e está gravado? Vai dizer que fizeram montagem?”, indagou uma das fontes.
O vídeo foi exibido por determinação do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Assistiram à gravação, além de Moro, integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU) e procuradores e investigadores que acompanham o caso. Advogado do ex-juiz, Rodrigo Sánchez Rios ressaltou que o material confirma todas as denúncias feitas pelo cliente.
Ao deixar o comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Moro afirmou que Bolsonaro queria interferir no comando e nas ações da PF. Logo depois, o presidente da República tentou desqualificar as declarações do ex-juiz. Com o vídeo da reunião em que o chefe do Executivo disse que demitiria o ex-magistrado se ele não mudasse a chefia da PF, o clima no Palácio do Planalto é de alerta máximo. Tudo indica que será liberada a parte da gravação que envolve Moro.
"Segurança"
Bolsonaro disse, ontem, que não mencionou a PF na reunião. “Não existe no vídeo todo as palavras Polícia Federal nem superintendência”, frisou. Ele afirmou que falou sobre preocupação relativa a sua segurança. “Não tem nada demais. Estou tranquilíssimo.”
Questionado se havia comentado algo relacionado aos filhos, respondeu que após ter sido esfaqueado durante a campanha eleitoral de 2018 esteve preocupado com a segurança da família. Segundo ele, no entanto, quem cuida da segurança dele e da família é o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). “Em Juiz de Fora, o Adélio (Bispo) cercou o meu filho no vídeo. Talvez quisesse assassiná-lo ali. A segurança da família é uma coisa. Não estou e nunca estive preocupado com a Polícia Federal. A Polícia Federal nunca investigou ninguém da minha família, isso não existe no vídeo”, reforçou. "O vídeo é meu. Não é oficial, mas é meu. Eu poderia não entregar o vídeo."
Ele disse ter entregado a gravação para impedir especulações sobre o conteúdo. “Para evitar falarem que eu sumi com o vídeo porque ele era comprometedor”, afirmou.
Cadeia
O vídeo da reunião também registra o ministro da Educação, Abraham Weintraub, dizendo “que todos tinham que ir para a cadeia, começando pelos ministros do STF”, e a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, defendendo a prisão de governadores e prefeitos.
Por meio da assessoria, a ministra Damares Alves disse que pediu “a punição de prefeitos e governadores no contexto de desvios de insumos durante a pandemia e violação de direitos, citando como exemplo atos truculentos contra idosos que não respeitarem as regras de isolamento e distanciamento social”. Já a assessoria do Ministério da Educação informou que Weintraub não vai se manifestar.
Próximos depoimentos
Confira os nomes que serão ouvidos no âmbito do inquérito que apura suposta tentativa
Hoje (13/5)
de interferência política de Bolsonaro no comando da Polícia Federal
Hoje (13/5)
15h — Edifício-sede da PF
Carlos Henrique de Oliveira Souza, delegado da PF
Alexandre da Silva Saraiva, delegado da PF
Carla Zambelli, deputada
Quinta-feira (14/5)
15h — local a ser definido
Rodrigo de Melo Teixeira, delegado da PF
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