Politica

Órgão de R$ 1 bi para o Centrão

Governo entrega direção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, com orçamento bilionário, a indicado pelo bloco. Planalto busca aliança com partidos da "velha política" para formar base no Congresso, aprovar projetos e barrar pedidos de impeachment

O governo mudou a direção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgão ligado ao Ministério de Desenvolvimento Regional e cujo orçamento deste ano é de R$ 1,09 bilhão. O nomeado foi Fernando Marcondes de Araújo Leão, indicado pelo Centrão, formado por partidos como PP e PL. A definição foi publicada, ontem, no Diário Oficial da União (DOU), e marcou de vez a aliança pretendida pelo governo, que busca base no parlamento.

Fernando Marcondes, que até então atuava como gerente-geral do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Pernambuco, foi filiado ao PTB, de Roberto Jefferson, por 32 anos, tendo saído no último dia 16 de abril. Em março, mudou-se para o Avante. A filiação foi processada no dia em que saiu do PTB.

A nomeação marca a aliança que tem sido buscada pelo presidente com os partidos no Congresso, a fim de conseguir aprovar projetos e, eventualmente, barrar algum pedido de impeachment. Bolsonaro também já está de olho na presidência da Câmara, que ficará ocupada até começo de 2021 pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), parlamentar a quem constantemente critica.

A aproximação de Bolsonaro com as legendas também manifesta o isolamento do chefe do Executivo, que se vê em meio a recorrentes crises no Planalto, falta de articulação no Congresso e pedidos de impeachment chegando.

No último dia 28, Bolsonaro admitiu ter mantido conversas com lideranças políticas de partidos do Centrão. Na ocasião, chegou a dizer que não vai barrar eventual negociação de cargos no seu governo. No passado, criticou a prática (de conceder cargos em troca de apoios, também chamada de toma lá dá cá).

No mês passado, o chefe do Executivo se reuniu no Planalto com o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI); o deputado federal e presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP); e os deputados federais Arthur Lira (PP-AL), Diego Andrade (PSD-MG), Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) e Wellington Roberto (PL-PB). Todos são líderes dos partidos na Câmara.

Fala-se que a indicação de Fernando Marcondes seria do líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL). A reportagem tentou contato com o parlamentar, sem sucesso. Deputados do partido alegaram nada saber e que não foram consultados.

Vice-líder do PP no Senado, Daniella Ribeiro (PB) disse que não houve qualquer reunião do partido para discutir apoio ao governo, tampouco foi dialogado sobre indicações a cargos no governo. “Não houve consulta. Eu não tomei conhecimento, a não ser pela própria imprensa”, frisou.

O Correio entrou em contato com Fernando Marcondes ontem, mas ele disse que estava em uma reunião e desligou. A reportagem enviou mensagens via WhatsApp, mas não houve retorno.