O homem que hostilizou e agrediu verbalmente enfermeiras que estavam em um protesto silencioso na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na última sexta-feira, foi identificado como Renan da Silva Sena. Ele era, até segunda-feira, funcionário terceirizado do Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).
O homem foi contratado em 5 de fevereiro como prestador de serviços terceirizado após processo seletivo realizado pela empresa G4F Soluções Corporativas Ltda. Ele trabalhava como assistente técnico administrativo na Coordenação-Geral de Assuntos Socioeducativos. Segundo MMFDH, a empresa seleciona os profissionais com base nos critérios técnicos definidos pela pasta.
Sena cumpriu suas tarefas até 7 de abril, segundo o ministério. Depois desta data, a pasta alega que ele ficou de trabalho remoto, devido à pandemia do novo coronavírus, e parou de responder todas as tentativas de contatos telefônicos e via e-mails. O órgão do governo federal garante ter informado à empresa sobre a ausência do funcionário, e que a empresa conseguiu contato no dia 23 de abril.
Naquele dia, o MMFDH afirma ter solicitado a substituição de Sena. Entretanto, o ato só aconteceu três dias depois de o homem ter hostilizado as enfermeiras que faziam um protesto silencioso. O ministério alega que a empresa deu entrada aos trâmites legais necessários em abril, mas só foi concluído em 4 de maio. Segundo a pasta, o substituto começou a trabalhar. A reportagem solicitou os documentos que comprovam os pedidos feitos pelo ministério à empresa, mas não havia recebido resposta até o fechamento desta edição.
É possível ver em um vídeo que Sena chega muito perto de uma das enfermeiras, e tenta afastar uma delas. “Eu tenho peso. Você tá me ouvindo? Sua analfabeta medíocre”, grita. Uma das pessoas que estavam com ele interveio para contê-lo. Em outras imagens, ele se aproxima de uma pessoa que está filmando chamando os enfermeiros de “bando de anafalbeto funcionais” e a gritar. Em um momento, diz: “Não precisa ficar com medo não”.
Em nota, o MMFDH disse ainda que “repudia qualquer ato de violência e agressão, principalmente contra profissionais de saúde em um momento que eles devem ser ainda mais respeitados e valorizados”. Apesar da demora de 11 dias (entre a alegada solicitação do órgão federal e a efetiva substituição do funcionário), o ministério pontuou que a empresa “agiu com agilidade, ética e presteza no atendimento do pedido”.
A empresa informou em nota que Renan estava em período de experiência e confirmou as informações repassadas pelo ministério. Sobre o fato de a demissão ter acontecido só no dia 4 deste mês, a empresa justificou que isso se deu para atender a legislação. “Em atenção à legislação trabalhista, o procedimento adotado foi o de descontar os dias não trabalhados e encerrar o contrato ao final do prazo de experiência, no dia 4 de maio”, pontuou.
Segundo a empresa, Sena não exercia atividades ligadas ao órgão federal desde o dia 23. “Assim, o ex-colaborador seria desligado ainda que não tivesse participado dos episódios lamentáveis e absolutamente condenáveis aos quais está supostamente vinculado”, pontuou. O Correio tentou contato com Renan em um telefone que consta em uma das suas redes sociais, mas o telefone está fora de área ou desligado.
A manifestação dos enfermeiros era para defender o isolamento social, orientado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras autoridades sanitárias, e em memória dos colegas que morreram no combate à pandemia do novo coronavírus.
Representação
O Conselho Federal de Enfermagem ingressou, ontem, com uma representação ao MPDFT e uma comunicação de crime à Polícia Civil sobre o ataque a profissionais da área no último dia 1º de maio. O conselho afirma que os agressores foram identificados e toda a documentação foi encaminhada às autoridades. Além de Renan, outras duas pessoas foram identificadas.
Também ontem, o MPDFT pediu para que a Polícia Civil do Distrito Federal (PMDF) apure as agressões contra enfermeiro e jornalistas nas últimas manifestações na capital federal. Os resultados devem ser encaminhado ao MP em até 30 dias. A apuração relativa à imprensa foi solicitada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, na segunda-feira.
No domingo, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, profissionais de veículos de comunicação de Brasília foram agredidos em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, durante manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).