Politica

Novo diretor-geral da PF deve ter autonomia, diz presidente de associação

Edvandir Félix, da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, foi entrevistado no programa CB.Poder

A Polícia Federal quer um diretor-geral que tenha autonomia para trabalhar. É o que diz o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Félix de Paiva. Em entrevista ao programa CB.Poder — uma parceria do Correio com a TV Brasília (assista à íntegra no fim desta reportagem) —, nesta segunda-feira (27/4), Edvandir afirmou que a troca na direção-geral da corporação foi "traumática", uma vez que culminou na saída de Sergio Moro do governo. Nesta segunda-feira, a ADPF divulgou uma carta pública ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticando as tentativas de interferência na PF, citadas por Moro em seu último discurso.

Edvandir defendeu que as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública devem ser apuradas. "O ministro da Justiça saiu fazendo acusações sérias que precisam ser apuradas. Não vamos entrar no mérito das acusações, mas isso criou uma crise desde a semana passada", disse ele. Segundo o presidente da ADPF, é necessário que Bolsonaro se comprometa a dar autonomia ao novo diretor-geral.

"Nós estamos apresentando ao presidente, publicamente, algo que nós consideramos uma solução: ele fazer uma declaração expressa de que o novo diretor-geral, seja lá qual for, terá condições e autonomia para montar sua equipe e tocar os projetos da Polícia Federal sem nenhuma pressão governamental. É importante a palavra do presidente nesse sentido e que, ao mesmo tempo, encaminhe ao Congresso Nacional propostas de mandato para o diretor geral com escolha mediante lista e também a autonomia financeira e administrativa da PF", disse Edvandir.

Ele também falou sobre a tentativa de assassinato sofrida por Jair Bolsonaro em 2018, quando ainda era candidato à Presidência da República. O presidente da ADPF afirmou que a PF tentou esgotar todas as linhas investigativas. "Ele reclamou em um pronunciamento que nós quisermos demonstrar publicamente que não há nada daquilo que ele afirmou. Nós trabalhamos no limite para trazer a verdade dos fatos, como fizemos em todas as outras situações."

A carta da ADPF

Em carta aberta, a ADPF fez críticas às tentativas de interferência na Polícia Federal. "A Polícia Federal é um órgão de Estado, e integra a rede de controle (accountability), portanto deve exercer a sua missão constitucional independentemente das convicções e decisões políticas de qualquer governo", diz um trecho.

O documento pede ao presidente que mantenha uma distância republicana, de modo a evitar que qualquer ato seu seja interpretado como tentativa de interferência política nos trabalhos do órgão. Esclarece, ainda, que é comum que as investigações esbarrem em detentores de poder político e econômico, e tem como uma das atribuições, "exercer uma parcela do controle dos atos da administração pública federal, incluindo os da própria Presidência da República".

O documento alerta ainda a Bolsonaro que as investigações e os relatórios de inteligência da PF são sigilosos e não existe nenhuma previsão do fornecimento de informações diárias à Presidência, como o próprio Bolsonaro admitiu que queria.

Saiba Mais

Sobre a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, a ADPF afirmou que o inquérito recebeu total atenção da Polícia Federal, e seguiu em caráter prioritário "em razão de ser um crime contra a segurança nacional e a própria democracia". No entanto, as solicitações de investigações feitas pelo presidente devem respeitar os canais hierárquicos e as formalidades do serviço público.

O documento acrescenta que a instituição segue regras rígidas e busca realizar as investigações da melhor forma possível, prezando pela neutralidade político-partidária. A carta afirma, ainda, que se não houvesse ruídos de comunicação e Bolsonaro houvesse compreendido isso, os fatos da semana passada não teriam ocorrido.
 

Assista à íntegra da entrevista:

 

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*Estagiário sob a supervisão de Fernando Jordão