Politica

Ato pró-Bolsonaro na Esplanada

Manifestantes convocam protesto para hoje de manhã na Esplanada a favor do presidente. Maia é o principal alvo


Em meio à turbulência gerada no governo federal pela saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, apoiadores de Jair Bolsonaro prometeram fazer uma manifestação na manhã de hoje a favor do presidente. Organizado pela internet e batizado com o nome de Marcha para Brasília, o protesto terá como principal alvo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acusado por Bolsonaro há algumas semanas de conspirar para retirá-lo do poder.

Desde ontem, faixas com críticas ao deputado são colocadas na Praça dos Três Poderes. A intenção dos manifestantes, de acordo com um comunicado de convocação para o protesto divulgado em redes sociais, é montar acampamento nas proximidades do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) até o próximo domingo, quando o movimento bolsonarista quer “fazer um grande ato pela democracia do Brasil”.

Junto ao texto de convite, os organizadores usaram hashtags como #MaiaSabotador, #MaiaTraidorNacional e #ConteComigoPresidente. São esperados manifestantes de todas as regiões do país. “A situação do Brasil não poderia ser pior, certos ratos do Congresso Nacional e do STF estão trabalhando a todo vapor para derrubarem nosso presidente e imporem suas pautas malignas contra a família, contra as nossas liberdades e para beneficiar corruptos e bandidos”, diz o comunicado.

Apesar de o protesto não ter Sergio Moro como foco, os manifestantes devem aproveitar o evento para criticar o ex-ministro. Isso porque ontem, no primeiro dia após a sua tumultuada saída do governo, eleitores bolsonaristas foram ao Palácio da Alvorada para mostrar apoio ao presidente e disseram estar decepcionados com a atitude do mais novo desafeto de Bolsonaro.

Traição

Na avaliação de alguns apoiadores, houve traição por parte do ex-ministro. Eles entenderam que a forma como Moro pediu demissão foi desnecessária, e que o ex-juiz poderia ter deixado o cargo sem contaminar tanto o ambiente político. “É como se alguém da sua família, que convive com você todos os dias e sabe de todas as dificuldades que você passa, simplesmente virasse as costas e revelasse tudo, a troco de nada. A conduta dele não foi muito ética e nem profissional”, reclamou o servidor público Geraldo Valadão, 65 anos.

O almoxarife Nicassior Soares, 55, disse que, em meio à crise do novo coronavírus no país, é hora de mostrar ainda mais suporte a Bolsonaro. “Esse não pode ser um problema tão grande ao ponto de a gente largar o presidente. Ele tem o nosso crédito. Se os principais aliados do presidente não o apoiarem agora, ficará mais difícil para ele governar o país. O momento deve ser de união”, comentou. Ele também reprovou a atitude de Moro. “Foi uma surpresa e também uma decepção. O Moro é uma pessoa muito querida e respeitada pelos brasileiros, e a atitude dele causou estranheza. Pelo histórico como juiz, deveria ter dado um exemplo diferente”, opinou.

Três perguntas para

Paulo Calmon, cientista político da UnB

Com o rompimento entre Bolsonaro e Sergio Moro, o senhor acha que os eleitores de direita ficarão divididos? Ou seja, uma parte deixará de apoiar o presidente para apoiar Moro?
Acho que a coalizão que apoiou a eleição do Bolsonaro é ampla e abrange diversos segmentos do eleitorado. Parte desses grupos, especialmente aqueles que percebiam que o presidente tinha um forte compromisso com os princípios da Operação Lava Jato, certamente ficará muito decepcionada e poderá rever o apoio ao presidente após a saída do Moro. Mas há outros segmentos que continuarão apoiando o presidente. Bolsonaro vai ter que buscar novos apoios e, aparentemente, ele já está engajado nesse processo de recomposição da sua coalizão.

O senhor avalia que esse racha pode afetar a popularidade do presidente?
Sim, haverá uma perda de popularidade, mas, provavelmente, não será muito grande num primeiro momento. No entanto, os desdobramentos no conflito Moro versus Bolsonaro e os resultados das investigações em curso poderão amplificar o impacto inicial do racha e causar estragos ainda maiores na popularidade. E não podemos esquecer o possível impacto do agravamento da crise causada pela pandemia da Covid-19. O ônus político do colapso nos sistemas de saúde simultâneo em várias grandes cidades poderá ser atribuído ao enorme descaso que o presidente atribuiu aos possíveis riscos dessa pandemia.

Na sua opinião, em razão do rompimento entre o presidente e o ex-ministro, os partidos de direita chegarão às eleições de 2022 unidos em torno de Bolsonaro ou divididos?
Não acredito que isso ocorra. O mais provável é que haja vários candidatos de direita em 2022. Em função disso, Bolsonaro terá que recompor a coalizão que o apoia, buscando novas alianças e se preparando para as muitas críticas que receberá, não apenas dos candidatos da esquerda, mas também de centro e de direita. Ciente disso, ele parece buscar avidamente recompor suas bases de apoio e buscar alianças com governadores e partidos do Centrão. (Jorge Vasconcellos)