A comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) das Fake News se prepara para voltar à ativa. O presidente do colegiado, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), pedirá ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), infraestrutura para retomar os trabalhos por sessões remotas, ao menos para votar os requerimentos e dar continuidade aos trabalhos investigativos. São, ao todo, 52 quebras de sigilos telefônicos, telemáticos e bancários. A expectativa é de aprovar também a convocação do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, pedida pelo deputado federal Túlio Gadelha (PDT-PE), e de Maurício Valeixo, ex-diretor geral da Polícia Federal, que deve ocorrer em outro momento. Carlos Bolsonaro também está na mira dos integrantes da comissão.
É mais um revés na tempestade sobre o presidente da República, que agora enfrenta investigações na Procuradoria-Geral da República (PGR), na Polícia Federal e no Congresso, pedidos de impeachment e de novas comissões parlamentares de inquérito para apurar as denúncias feitas por Moro ao deixar o cargo. “Com requerimentos aprovados, as equipes podem seguir com as investigações sigilosas. Temos convocação de mais de 100 pessoas. Entre elas, Moro, Valeixo e Carlos Bolsonaro”, elencou o senador Ângelo Coronel.
O senador afirmou que tanto Moro quanto o ex-diretor da PF foram vítimas de fake news por parte do governo, além de publicação de informações falsas no Diário Oficial da União. A CPMI foi prorrogada por 180 dias, mas, com a crise do coronavírus e a suspensão das atividades parlamentares presenciais no Congresso, Alcolumbre permitiu a suspensão da contagem do prazo.
Doutor em ciências sociais e professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Baía destaca que os últimos acontecimentos fortaleceram a CPMI. O principal motivo foi o pronunciamento de Moro. “Junto a isso, tem a decisão do ministro do STF Alexandre de Morais, que blindou os delegados da Polícia Federal que estão investigando as fake news. Essa CPMI, que estava esquecida, ganha um reforço enorme a partir da entrevista de Moro e da decisão de Moraes”, ponderou.
Cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), Aninho Irachande avalia que a postura de Bolsonaro de tentar intervir na PF funciona como uma “confissão de culpa” e instiga investigadores a irem mais fundo. “Se os trabalhos corriam com pouca visibilidade, agora ganharam destaque. Ninguém gosta de ser associado à ideia de engavetador, de não fazer investigações. A impressão que eu tenho é que o episódio enfraquece o presidente”, afirmou.
Impeachment
O PSB, na Câmara, e a Rede, no Senado, protocolaram pedidos de impeachment contra Jair Bolsonaro. Líder do PSol, a deputada federal Fernanda Melchionna destaca que não há viabilidade de enfrentar a crise do coronavírus com Bolsonaro à frente, mas pede uma união de partidos de oposição para um pedido mais contundente de impedimento do presidente. “O Brasil não pode ter um criminoso à frente da presidência da República”, disparou. “O depoimento de Moro agregou crimes graves a outros crimes de responsabilidade que Bolsonaro vinha cometendo. Essa intervenção na PF, seja contra as investigações das redes de fake news, de rachadinha ou do gabinete do ódio, é muito grave”, completou.
Bolsonaro apresentaria uma imagem cada vez mais desidratada, pois perde parte dos apoiadores antipetistas e lavajatistas. Em off, um parlamentar comentou com o Correio que, apesar de o pedido de impeachment chegar na frente, é preciso esperar para ouvir o que Moro dirá e que provas poderá apresentar sobre as acusações contra o presidente da República. Por isso, os convites a Moro e a criação de uma CPI deverão anteceder qualquer impedimento. O PSB também requisitou a criação de uma comissão na Câmara. No Senado, a solicitação ficou a cargo do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
"Se os trabalhos corriam com pouca visibilidade, agora ganharam destaque. Ninguém gosta de ser associado à ideia de engavetador, de não fazer investigações. A impressão que eu tenho é que o episódio enfraquece o presidente”
Aninho Irachande, cientista político e professor da UnB