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Bolsonaro diz que Moro pediu vaga no STF para aceitar troca na PF

Segundo o presidente da República, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública só concordaria com exoneração de Maurício Valeixo caso fosse indicado para a Suprema Corte

Em resposta a Sergio Moro, que anunciou nesta sexta-feira (24/4) sua demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente Jair Bolsonaro revelou que o agora ex-ministro teria pedido uma indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF) como forma de concordar com a exoneração de Maurício Valeixo do posto de diretor-geral da Polícia Federal.

“Mais de uma vez o senhor Sergio Moro disse: ‘Você pode trocar o Valeixo, sim, mas em novembro. Depois que me indicar para o STF’. Me desculpe, mas não é por aí. Reconheço as suas qualidades. Em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco. E outra coisa. É desmoralizante para um presidente ouvir isso”, disse Bolsonaro, durante pronunciamento nesta tarde no Palácio da Alvorada.

O presidente rebateu as acusações feitas por Moro nesta manhã, quando ele comunicou à imprensa que entregaria o posto no governo por não concordar com a decisão de Bolsonaro de retirar Valeixo do comando da Polícia Federal. Bolsonaro disse estar decepcionado com o ex-ministro e desabafou que “uma coisa é você admirar uma pessoa, outra é conviver com ela”. Ele também reclamou que Moro “tem um compromisso consigo próprio, com o seu ego, e não com o Brasil”.

Ao lado de praticamente todos os ministros de Estado e representantes de outras instituições do Executivo federal, Bolsonaro disse que “nenhum ministro meu é mais importante que os demais, nós somos uma corrente”. “Nenhum elo é mais forte que a própria corrente”, destacou.

Em crítica a Moro, Bolsonaro duvidou da lealdade do ex-ministro. “Sempre abri o meu coração para ele. Eu já duvido se ele sempre abriu o coração pra mim. Eu sempre disse aos meus ministros: a confiança tem que ter dupla mão. O ministro quer que eu confie nele, quer que ele tenha razão, mas eu também quero que o ministro confie em mim”, ponderou.

O presidente garantiu que a decisão de exonerar Valeixo foi tomada em consenso com o delegado. Bolsonaro disse não ter feito nada por conta própria, como alegou Moro. “Ontem (quinta-feira, 23/4), numa videoconferência, o senhor Valeixo se dirigiu a todos os 27 superintendentes da Polícia Federal e disse que, desde janeiro, vinha falando com o Moro que queria deixar a PF. Os superintendentes são a prova disso”, afirmou Bolsonaro.

Em conversa particular com Moro na quinta-feira, Bolsonaro disse que era hora de “botar um ponto final nisso” e que publicaria a exoneração de Valeixo no Diário Oficial da União desta sexta. Os dois discutiram sobre quem deveria indicar o substituto e, segundo o presidente, Moro não quis abrir mão de ele próprio indicar o novo diretor-geral da corporação.

“Eu falei: ‘Vamos conversar. Por que que tem que ser o seu e não o meu? (...) Vamos pegar os que têm condições e fazer um sorteio’. Por que tem que ser o dele e não, possivelmente, o meu? Um de consenso entre nós dois?”, revelou Bolsonaro, que na sequência fez questão de reforçar a autoridade do seu cargo. “Lembrei a ele que a indicação é minha, a prerrogativa é minha, e o dia que eu tiver que me submeter a qualquer subordinado meu, eu deixo de ser presidente da República. Jamais pecarei por omissão”, frisou o presidente.

Bolsonaro reconheceu ter conversado poucas vezes com Valeixo durante os quase 16 meses que o delegado ficou à frente da Polícia Federal. Disse que “pessoalmente”, não tinha nada contra ele, mas que queria escolher um novo diretor-geral que ele sentisse “competência” e com que ele pudesse “interagir”.

Segundo o presidente, “eu tenho que, todo dia, ter um relatório do que aconteceu nas últimas 24 horas para poder bem decidir o futuro dessa nação”. “Eu nunca pedi para ele (Moro), o andamento de qualquer processo, até porque a inteligência com ele perdeu espaço na Justiça”, reclamou Bolsonaro.

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“Eu quero, nós queremos, que a PF seja usada na sua plenitude. Que suas operações sejam, no mínimo, mantidas. No que depender de mim, potencializadas. Porque é com o trabalho dela que nós damos esperança, num primeiro momento, à população brasileira, do combate à corrupção, ao crime organizado”, acrescentou o presidente.

Durante o seu discurso, Bolsonaro lembrou que, apesar de ter dado autonomia aos seus ministros, ele sempre teve o poder de veto. “Os cargos chaves tinham que passar pelas minhas mãos e eu daria o sinal verde, ou não, para todos os ministros. Foi feito dessa maneira com mais de 90% dos cargos que passaram pela minha mão. Assim foi com o senhor Valeixo.”