Deputados e partidos políticos comentaram a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, . A maior parte, incluindo siglas de oposição, lamentou o divórcio entre Moro e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“A saída do ministro Moro desestabiliza ainda mais o Executivo. Não temos nenhum motivo para comemorar, mas para olhar a situação devastadora que ocorre com o Executivo e a Presidência”, afirmou o primeiro vice-líder do PT na Câmara, José Neto (BA).
“Esperemos que isso dê serenidade para que Congresso, Senado e Câmara, com os outros poderes, possam se firmar em um compromisso de estabilizar o país nesse momento de pandemia de coronavírus. A saída do ministro aponta uma desestabilização absoluta do atual governo, que se pautou em um processo de disputa ideológica eleitoral e esqueceu de seus afazeres no tocante ao destino do país”, destacou o vice-líder do PT.
Ainda segundo José Neto, a saída de Moro do governo atestou que Bolsonaro não teve coerência entre discurso e prática ao levantar a bandeira contra a corrupção e afirmar que teria ministros técnicos. “Podem criticar o PT. Mas fomos, por demais, republicanos. E o reconhecimento dele nesse um ano e poucos meses à frente do Ministério da Justiça é o inverso do que disseram que teriam como horizonte. É o inverso do que o governo PT fez. Fizemos com que a Polícia Federal tivesse autonomia, ampliamos recurso, demos independência para o Ministério Público, e o procurador deixou de ser o advogado do presidente”, listou.
“Fica a constatação de que é preciso respeitar as instituições, fortalecê-las e dar ao estado de direito o contorno que ele merece. Fica emblemático que um dos pilares de sustentação do governo sai e deixa claro que o governo atual não tem nada de republicano. E, ainda, fica a sugestão que investigações indicam proximidade da família do presidente com fake news”, criticou o vice-líder do PT.
O líder do Cidadania na Câmara, Arnaldo Jardim (SP), por sua vez, afirmou que as declarações de Moro comprometeram gravemente a postura de Bolsonaro como presidente. O principal motivo é a intervenção de Bolsonaro na Polícia Federal, mencionada por Moro em seu discurso de despedida.
“Quando o ministro diz que foi rompido o compromisso de autonomia da PF e presidente violou este acordo, sobrou uma grande indagação: por que interferir? Qual é o objetivo do presidente da República em mexer num cargo tão relevante para a segurança pública nacional? As revelações do ministro são gravíssimas e coloque em xeque de agora em diante todo e qualquer movimento de Bolsonaro nessa seara”, afirmou o parlamentar.
Ainda segundo Jardim, Moro teve uma atuação brilhante como juiz, e estaria realizando o mesmo trabalho na Esplanada, à frente do Ministério da Justiça, no combate ao crime organizado. “E, neste instante, a segurança pública nacional perde um grande gestor. Perde o Brasil”, disse Arnaldo Jardim.
Já o vice-presidente nacional do Cidadania, o deputado federal Rubens Bueno (PR) afirmou que o presidente prefere “mensaleiros” ao agora ex-ministro. Para ele, o governo federal caminha para o “trilho” da corrupção, e para o “ataque ao estado democrático de direito, de interferência por motivos pessoais na Polícia Federal e da compra de apoio parlamentar”. “Bolsonaro prefere ficar com mensaleiros, em vez do ministro Sergio Moro, que apesar de alguns equívocos, prestou e ainda presta um grande serviço ao Brasil no combate à corrupção e ao assalto aos cofres públicos”, afirmou.
“Essa decisão de trocar o comando da Polícia Federal deixa transparecer que, além do caso do senador Flávio Bolsonaro, o presidente tem mais coisas a esconder e teme o resultado dos inquéritos que estão em andamento no Supremo Tribunal Federal para investigar as fake news e as manifestações contra a democracia, como o próprio ex-ministro Moro revelou em sua coletiva", completou Bueno.
Ainda na visão do congressista, Bolsonaro tenta governar o país demonizando a “boa política”. “Bolsonaro escancarou seu DNA de integrante do que pior existe na política, adotando as práticas espúrias de compra de aliados usada em outros tristes episódios da política brasileira. Ele quer controlar as instituições democráticas, mas não vai conseguir”, disse.
Saiba Mais
Em nota, o PSDB afirmou que “Bolsonaro nunca quis um governo de técnicos qualificados”. “A queda de Sergio Moro mostra que o presidente quer apenas um governo dos que baixam a cabeça para ele e os filhos, no lugar de agirem pelo país. A verdade é que a PF conduz investigações que incomodavam a família Bolsonaro – sobre ameaças à democracia. Tanto o diretor-geral como Moro caíram por conduzirem o trabalho de maneira republicana”, divulgou a legenda.