O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, divulgou nota, ontem, afirmando que as Forças Armadas trabalham para manter “a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição”. A manifestação dele ocorreu um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro participar de um ato, em Brasília, em defesa da reedição do Ato Institucional nº 5 (AI-5) e do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
“As Forças Armadas trabalham com o propósito de manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição Federal. O momento que se apresenta exige entendimento e esforço de todos os brasileiros. Nenhum país estava preparado para uma pandemia como a que estamos vivendo”, ressaltou, na nota. “Essa realidade requer adaptação das capacidades das Forças Armadas para combater um inimigo comum a todos: o coronavírus e suas consequências sociais. É isso o que estamos fazendo.”
A participação do presidente da República em uma manifestação que teve objetivos inconstitucionais incomodou o meio militar, principalmente por ter ocorrido em um local simbólico, o Quartel General do Exército (QGEx), no Setor Militar Urbano de Brasília. É de lá que partem determinações e orientações para organizações militares da Força em todo o país.
A ida do presidente ao ato não foi avisada com antecedência. Militares que estavam de plantão no dia tiveram de sair às pressas de seus postos para garantir a segurança do chefe do governo, em meio à multidão.
Mesmo sendo uma via pública, a Avenida Duque de Caxias, que passa em frente ao Quartel General, é de responsabilidade do Exército, que faz o policiamento do local, não da Polícia Militar ou de outros órgãos de segurança. A presença obrigatória dos soldados, que acabaram aparecendo nas imagens, gerou, nos bastidores, preocupações de militares de alta patente. O presidente chegou a subir em uma viatura para discursar.
O general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência, também se manifestou a respeito do protesto. “O Exército é instituição do Estado. Não participa das disputas de rotina. Democracia se faz com disputas civilizadas, equilíbrio de Poderes e aperfeiçoamento das instituições. O EB (@exercitooficial) tem prestígio porque é exemplar, honrado e um dos pilares da democracia”, escreveu, no Twitter.
Embora tenha sido demitido do governo, Santos Cruz conta com grande prestígio nas Forças Armadas. Ele comandou missões da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti e no Congo, onde chegou a liderar operações armadas contra grupos terroristas.
Encontro
O Correio apurou que, no domingo, após a manifestação, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica se reuniram para tratar do assunto. No encontro, segundo informou uma fonte com acesso à alta cúpula militar, eles disseram que há um limite para tudo e que Bolsonaro não contará com o apoio das Forças Armadas na execução de um golpe de Estado.
Os comandantes ressaltaram que o verdadeiro inimigo é o novo coronavírus, que já infectou mais de 40 mil pessoas no país, com quase 2.600 mortos. Na reunião, também comentaram o fato de a ida de Bolsonaro ao ato ter provocado aglomeração, em desacordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o avanço da pandemia.
No Exército, mais de 25 mil militares estão engajados em operações de apoio aos estados na guerra contra a pandemia. “Estamos na linha de frente, apoiando o governo federal, os governos estaduais e os municípios no combate a uma das maiores crises vividas pelo Brasil nos últimos tempos”, disse o comandante Edson Pujol, na Ordem do Dia, alusiva ao Dia do Exército, celebrado no domingo, na mesma data da manifestação com Bolsonaro.
“O Exército é instituição do Estado. Não participa das disputas de rotina. Democracia se faz com disputas civilizadas, equilíbrio de Poderes e aperfeiçoamento das instituições”
Santos Cruz, general do Exército