Correio Braziliense
postado em 17/04/2020 06:00
A demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde gerou receio, entre os congressistas, de que o governo Bolsonaro adote políticas de saúde que agravem o cenário de infecção por coronavírus no país. Em pronunciamentos, notas oficiais, por telefone e nas redes, deputados e senadores disseram esperar que o novo ministro, Nelson Teich, dê continuidade ao trabalho do antecessor, e muitos lamentaram e criticaram a decisão do presidente Jair Bolsonaro.Em nota, o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), correligionários de Mandetta, elogiaram a atuação do ex-ministro. “O trabalho responsável e dedicado do ministro foi irreparável. A sua saída, para o país como um todo, nesse grave momento, certamente não é positiva e será sentida por todos nós. A maioria das brasileiras e dos brasileiros espera que o presidente Jair Bolsonaro não tenha demitido Mandetta com o intuito de insistir numa postura que prejudica a necessidade do distanciamento social e estimula um falso conflito entre saúde e economia”, exortaram.
O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), considerou que “a saída de Mandetta é uma notícia lamentada em boa parte do Brasil, pois conquistou a confiança e o respeito da família brasileira com sua postura técnica”.
Oposição
Líder da minoria no Congresso, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) destacou que a oposição sempre criticou Mandetta, mas que ele executou um bom trabalho. “Como foi colocada a divergência entre ele e o presidente, nossa expectativa é a pior possível. Bolsonaro não vai trocar o ministro, no meio da batalha, por alguém que não seja afinado com ele. Ele não vai permitir contrapontos”, avaliou.
O líder do PSDB na Câmara, o deputado federal Carlos Sampaio (SP), divulgou uma nota em que considera a saída de Mandetta como “lamentável”. “Mandetta se tornou alvo de críticas e intrigas dentro do governo nos últimos dias, justamente por estar fazendo um bom trabalho, alinhado à ciência, aos organismos e às autoridades internacionais”, afirmou.
Também por nota, o líder do PSB, Alessandro Molon (RJ), ressaltou a postura do presidente de menosprezar a pandemia. “Desde o começo desta crise, Bolsonaro escolheu o caminho da negação e guiou suas decisões pelo achismo, politizando o que deveriam ser ações técnicas com critérios científicos. A demissão de Mandetta não passa de um acerto de contas por parte de um chefe que, no auge de sua mediocridade, não tolera um auxiliar se destacando mais do que ele”, disparou.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por sua vez, manifestou-se por meio das redes sociais. “Recebemos a notícia da demissão do Ministro da Saúde com preocupação. Vaidade e falta de diálogo marcaram mais esse triste episódio do governo. Esperamos que o novo ministro não seja negacionista, que seja técnico e siga as recomendações da OMS. Estaremos à disposição para colaborar”, postou em seu perfil oficial no Twitter.
O senador Ângelo Coronel (PSD-BA) foi mais enfático na crítica: “A lei na corte Bolsonarista está bem clara: cale-se ou será demitido. Mandetta não aceitou a subserviência e caiu. A fila está aumentando. Até quando, meu Deus?”
Desafio
O presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), deu apoio a Teich. “Espero que ele tenha a responsabilidade de conduzir a Saúde dos brasileiros nesse momento. Pela tranquilidade em seu pronunciamento, não sei se ele já tem alternativas sólidas para combate ao vírus ou se ainda não se deu conta da urgência que a situação exige”.
A senadora Simone Tebet (MDB-MT) também se manifestou: “A pasta da Saúde, por si só, é um enorme desafio. Mandetta o encarou de frente, com coragem e correição. Sai do Ministério com credibilidade fortalecida pela ciência. Agora, nos resta desejar que o novo ministro encontre a solução necessária para que possamos superar esta difícil travessia”, disse.
Outro senador, Major Olímpío (PSL-SP), ex-aliado de Bolsonaro, desejou sucesso a Teich à frente do Ministério, mas se mostrou cético: “Eu vi artigos dele (Teich) defendendo o isolamento horizontal para todos. Se ele persistir nesse fundamento, vai ter problemas sérios com o presidente Bolsonaro e não vai durar 30 dias no cargo. Ou terá que rasgar seu diploma e contrariar toda a comunidade científica mundial”, previu, em vídeo postado no Twitter.
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) publicou vídeo e o apoio da Associação Médica Brasileira a Teich: “Na AMB referendamos o nome de Nelson Teich. É um nome que conta com nosso total apoio e pelo qual temos muita simpatia. Respeitado na classe médica, eminentemente técnico, gestor e altamente preparado para conduzir o Ministério da Saúde”.
Da mesma forma, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) apoiou a troca na Saúde: “Jair Bolsonaro escolhe um médico e gestor experiente para conduzir a pasta da Saúde. Para os que se incomodam tanto com a substituição do ministro da saúde em plena pandemia, lembramos que os britânicos trocaram o premier durante a guerra. E venceram a guerra!”, disse, referindo-se à substituição de Neville Chamberlain por Winston Churchill.
Barroso assume TSE e avalia adiar eleições
Eleito novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso defendeu ontem que, se for necessário adiar as eleições 2020 por causa da pandemia, que elas aconteçam no menor prazo possível. Ele descartou levar as disputas municipais para 2022. O magistrado disse que as eleições são vitais para a democracia e que estará em articulação com o Congresso sobre as possíveis mudanças no calendário eleitoral. Barroso foi eleito por seis votos contra um para o ministro Edson Fachin, que ocupará a vice-presidência do TSE.
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