O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, falou pela primeira vez à frente do posto após ser escolhido nesta quinta-feira (16/4) pelo presidente Jair Bolsonaro para substituir o ex-chefe da pasta, Luiz Henrique Mandetta. No pronunciamento, o oncologista fez questão de “deixar claro que existe um alinhamento completo” entre Bolsonaro e ele. Teich ainda comentou que é preciso entender melhor a Covid-19 antes de estabelecer qualquer medida de isolamento social como forma de prevenção à doença. Além disso, o ministro analisou que “saúde e economia não competem entre si e são completamente complementares”.
O anúncio oficial de Teich como ministro da Saúde aconteceu no Palácio do Planalto. Ao lado de Bolsonaro, ele agradeceu a oportunidade de assumir o ministério “em um momento tão importante da saúde no país” e disse ser “uma honra estar aqui para ajudar o país e as pessoas”. No seu discurso, o ministro decidiu falar o que conversou com o presidente sobre o que classificou como “pontos que podem ser polêmicos e que a gente vai discutir”.
O primeiro tema abordado por Teich foi a aplicabilidade das quarentenas obrigatórias estabelecidas por alguns estados e municípios como forma de tentar evitar a rápida proliferação do novo coronavírus, o que levou muitos estabelecimentos comerciais pelo Brasil a fecharem as portas por decretos de governadores e prefeitos. De acordo com o novo ministro da Saúde, “não vai haver qualquer definição brusca, radical, do que vai acontecer”.
Saiba Mais
Ele complementou que “o fundamental é que a gente consiga enxergar aquela informação que a gente tem até ontem e decidir qual é a melhor ação, entender o momento e seguir nesse caminho de definir qual é a melhor forma de isolamento, de distanciamento”. “A gente vai falar nisso o tempo todo. O que é fundamental é que isso seja cada vez mais baseado em informação sólida. Quanto menos informação você tem, mais aquilo é discutido na emoção. Isso não leva a nada. Isso é absolutamente ineficiente”, alertou Teich.
O ministro falou em melhor entender a doença para que seja cada vez maior a capacidade do governo federal de “administrar o momento, planejar o futuro e sair dessa política do isolamento e do distanciamento social”.
“Isso é fundamental, porque as pessoas vão ter muita dificuldade em se isolar. A gente vive um momento único, porque temos o isolamento com um volume enorme de informações. É um mundo completamente novo, a gente nunca viveu isso. E a gente vai estar aprendendo ao longo do tempo como isso se comporta.”
Saúde e economia
O ministro ainda reclamou que “é muito ruim” discutir saúde e economia neste momento. Bolsonaro e Mandetta entraram em conflito principalmente nessa questão. Enquanto o presidente defende que os brasileiros sigam trabalhando, especialmente os que estão na informalidade, e que apenas os idosos cumpram confinamento, o ex-ministro sempre pediu que pessoas de qualquer faixa etária respeitassem as regras de isolamento impostas por estados e municípios e que esperassem um momento mais propício para voltar ao trabalho.
Para Teich, “essas coisas não competem entre si”. “Elas são completamente complementares. Quando você polariza uma coisa dessas, você começa a tratar como se fosse pessoa versus dinheiro, o bem versus o mal, emprego versus pessoas doentes. E não é nada disso”, afirmou.
O ministro destacou que, agora, é preciso considerar alguns “determinantes sociais da saúde”, como a estabilidade econômica. “Uma coisa importante do desenvolvimento econômico é que ele arrasta as outras coisas. Quanto mais é desenvolvido economicamente um país, mais você investe em educação, mais você investe em saúde, mas você tem recurso para ajudar a sociedade. Isso tem que ficar muito claro”, frisou.
“Existe uma cooperação nesse sentido. Porque quando a gente em emprego, às vezes ele é necessário. Mas quando a gente não aprofunda esse detalhe, se você não tem emprego, isso quer dizer que a economia tem pouco recurso. Esse pouco recurso vai influenciar o quanto você vai investir em infraestrutura, o quanto você vai investir em educação. Isso tem um impacto enorme na qualidade de vida e na expectativa de vida de uma sociedade. O que é importante é que a gente vai trabalhar isso tudo com um detalhamento fundamental para que a gente entenda o que está acontecendo e tome as ações e políticas necessárias”, acrescentou Teich.
Ainda segundo o ministro, “se você tem uma redução da atividade econômica, você vai ter, talvez, uma diminuição da quantidade de clínicas de diagnóstico, clínicas de tratamento”. “Então, você pode ter menos gente sendo diagnosticada. Isso pode impactar muito na sobrevida das pessoas, no índice de cura das pessoas. Isso vale para doença cardiovascular, isso vale para o câncer. Isso vale para outras doenças”, opinou.
Medicamentos
O ministro falou também sobre como será abordada a busca por medicamentos e por vacinas contra a Covid-19. Não citou a hidroxicloroquina, substância que Bolsonaro defende que seja utilizada em alguns pacientes diagnosticados com a doença, mas comentou que vai tratar o assunto de “forma absolutamente técnica e científica” e que o Ministério da Saúde “vai disponibilizar o que existe hoje em termos de vacina e de medicamento dentro de coisas que funcionem como projeto de pesquisa”.
“Isso vai permitir que você colha o maior número possível de informações em um espaço mais curto de tempo. Isso vai te ajudar a entender o que faz diferença ou não para as pessoas, para os pacientes, para a sociedade. Isso é um compromisso que a gente tem que entender claramente o que está acontecendo”, comentou Teich.
Ele enfatizou que será fundamental trabalhar com dados e inteligência. “A gente tem que entender cada ação que a gente toma. Como você tem muita incerteza, cada coisa que você faz hoje, na verdade, não tem certeza do que vai acontecer amanhã. Colher esse dado ao longo do tempo é fundamental, mas é importante que esse dado seja colhido e amanhã as pessoas se colaborem. Que elas entendam que isso é uma coisa normal”, analisou.
Sem dar muitos detalhes, Teich disse que o governo vai fazer um “programa de testes” para ter uma avaliação “do que é essa doença hoje”. Disse esperar a participação do Sistema Único de Saúde (SUS), da saúde suplementar e do empresariado. “Tem que fazer um grande programa, tem que definir qual é a melhor forma, como que você vai fazer amostra, que tipo de teste. Se é paciente sintomático, se é paciente assintomático. Isso vai dar para a gente gente uma capacidade enorme de definir ações e conseguir controlar o que está acontecendo hoje.”
Segundo ele, “se você não domina aquilo que não está na sua mão, você vira um barco a deriva”. “A gente vai assumir, conhecer a doença. A hora em que a gente começar a entender isso, e conseguir definir políticas e ações, a gente assume o comando desse problema. Em algum momento isso vai se solucionar e a gente é que vai estar comandando isso”, ponderou Teich.