Nas últimas 48 horas, o presidente Jair Bolsonaro manteve uma postura um pouco diferente do habitual. Como reflexo da quase demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ele evitou qualquer declaração à imprensa nos últimos dois dias e faltou a eventos oficiais do Planalto. O sumiço foi justificado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República como “ajustes de compromissos na agenda”, que não foi atualizada durante o dia. À noite, ele foi a um jantar, de acordo com a assessoria.
Fontes do governo dizem que o passo atrás de Bolsonaro, tanto na desistência de exonerar Mandetta quanto no comportamento fora do gabinete, foi, principalmente, para evitar um repúdio em massa do Congresso, onde ele já não tem uma boa relação. Atualmente, há pelo menos 17 pedidos de impeachment protocolados contra o chefe do Executivo no parlamento. Se o ministro da Saúde caísse, deputados já se articulavam para que pelo menos um dos processos tivesse andamento na Câmara. Além disso, a pressão de ministros militares que despacham do Planalto e do vice-presidente Hamilton Mourão pesou para Bolsonaro não mandar Mandetta embora.
Um dos compromissos a que Bolsonaro faltou ontem foi o lançamento do projeto Arrecadação Solidária, que visa obter doações para organizações sem fins lucrativos. Antes, ele já havia faltado à coletiva que detalhou informações sobre o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais e pessoas de baixas rendas atingidos pela crise causada pelo coronavírus.
Ontem pela manhã, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro evitou falar sobre a reabertura de comércios. Um apoiador o questionou sobre a possibilidade de assinar um decreto que está “em cima da mesa”, liberando o funcionamento do setor. “Você sabe o que está acontecendo na política brasileira? Você sabe o que representa uma resposta para você aqui agora”, provocou.
O presidente ainda ouviu apelos da claque que pedia para que Mandetta fosse demitido. “Mandetta não merece sua confiança, presidente”, comentou um homem. O chefe do Executivo não conversou com a imprensa e, após entrar no carro, os apoiadores entoaram gritos de “fora, Mandetta”.