Correio Braziliense
postado em 28/03/2020 04:03
O presidente Jair Bolsonaro mostrou que não está mesmo aberto ao diálogo com os governadores e voltou a defender que o isolamento social não deve ser adotado como medida de prevenção contra o novo coronavírus, devido aos potenciais impactos na economia. Segundo ele, “o Brasil não pode parar, pensar só no coronavírus” e “tem de voltar à normalidade imediatamente”. O chefe do Planalto comentou que “alguns vão morrer, lamento, é a vida”, mas fez um paralelo de que “não pode parar uma fábrica de automóveis porque tem 60 mil mortes no trânsito por ano”.
“O maior remédio para qualquer doença é o trabalho. Não podemos agir dessa maneira irresponsável. Que o vírus vem, mais forte ou mais fraco, ele vem. É igual a uma chuva. Se ela vai aparecer, você vai se molhar, e toca o barco. Você não pode é simplesmente se esconder, se enclausurar e dizer: ‘Vou ficar de quarentena três, 20, não sei quantos dias em casa, e tá tudo bem’. Tudo bem, não. Não é assim”, ressaltou, em entrevista ao programa Brasil Urgente. “Para 90% da população, isso vai ser uma gripezinha ou nada.”
Bolsonaro ainda classificou como “exagerada” as quarentenas obrigatórias já impostas em alguns estados, que provocaram o fechamento de comércios e a paralisação das escolas. O presidente afirmou que “tá faltando consciência por parte de algumas autoridades para ter essa visão, essa virtude de, ao perceber que tá fazendo algo que foi além do esperado, voltar atrás”.
“Vamos trabalhar, o brasileiro quer trabalhar. Vamos deixar em casa o vovô e a vovó, tratar com o devido respeito. A gente estava decolando na economia. Criamos quase 1 milhão de empregos no ano passado, e agora perdemos. Perdemos por quê? Porque alguns governadores estão agindo de forma açodada”, disparou. “O vírus vai chegar, vai passar, infelizmente, algumas mortes terão, paciência. E vamos tocar o barco, porque as consequências, depois dessas medidas equivocadas, vão ser muito mais danosas do que o próprio vírus.”
Bolsonaro prometeu não mais criticar as decisões dos governadores. Garantiu que eles terão “campo livre pela frente”, mas disse que vai recorrer à Justiça caso algo “ultrapasse o limite federal”. Por fim, ele lamentou que em alguns estados o número de mortes esteja sendo tratado como um “jogo para favorecer interesses políticos” e citou especificamente São Paulo. A unidade da Federação contabilizava, até ontem, 68 mortes e 1.223 casos da Covid-19. O presidente disse não acreditar no número e chamou o governador paulista João Doria (PSDB) de “papagaio de auditório”, por promover entrevistas diárias. “Espero que ele tome um comprimido de humildade. Não estou acreditando nesse número. Está muito grande para São Paulo. Tem de ver o que está acontecendo aí”, acusou.
Hoje, Bolsonaro terá reunião com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no Palácio da Alvorada. É provável que o governo promova um “redirecionamento” das medidas de enfrentamento, como a adoção do isolamento vertical, em que apenas as pessoas mais vulneráveis ao novo coronavírus teriam de ficar em quarentena, como os idosos.
Nordeste
Ontem, em carta conjunta, os governadores do Nordeste acusaram Bolsonaro de estimular “um verdadeiro atentado à vida” ao pedir que a população volte às ruas. “Manifestamos nossa profunda indignação com a postura do governo federal, que contraria a orientação de entidades de reconhecida respeitabilidade, como a OMS (Organização Mundial da Saúde) — que indicam o isolamento social como melhor forma de conter o avanço do coronavírus — e promove campanha de comunicação no sentido contrário, estimulando, inclusive, carreatas por todo o país contra a quarentena”, escreveram os chefes de Executivos dos nove estados da região.
Eles também exigiram respeito por parte de Bolsonaro e esperam que as agressões contra os governadores sejam cessadas “imediatamente”. Para os nordestinos, o presidente deve assumir “um posicionamento institucional, com seriedade, sobre medidas preventivas”. “A omissão em padronizar normas nacionais e a insistência em provocar conflitos impedem a unidade em favor da saúde pública. Assim agindo, expõe-se a vida da população, além de assumir graves riscos no tocante à responsabilidade política, administrativa e jurídica”, ressaltaram.
“O maior remédio para qualquer doença é o trabalho. Não podemos agir dessa maneira irresponsável. Você não pode é simplesmente se esconder, se enclausurar”
Jair Bolsonaro, presidente da República
“Manifestamos nossa profunda indignação com a postura do governo federal, que contraria a orientação de entidades de reconhecida respeitabilidade (…). Esse tipo de iniciativa representa um verdadeiro atentado à vida”
Trecho da carta dos governadores do Nordeste
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