Em tempos de coronavírus, até as praias do Rio de Janeiro são evitadas por muitos cariocas em pleno fim de semana, mesmo com o céu aberto e temperaturas acima dos 30°C. Um misto de medo do contágio e senso de responsabilidade em cumprir as novas recomendações de enfrentamento à doença tomou conta das pessoas. Em São Paulo, a Avenida Paulista não ficará liberada hoje para a circulação exclusiva dos pedestres, como ocorre normalmente aos domingos. Os dois estados são os únicos que já registram transmissão comunitária e, juntos, somam mais de 70% dos casos confirmados de Covid-19. No Brasil, o acumulado da Saúde dá conta de 121 confirmações e 1.496 casos suspeitos.
A corretora Magna Ribeiro, 45 anos, gosta de aproveitar o momento livre para pegar sol, mas ontem foi diferente. “Apesar de ser uma das formas com que mais me distraio, nem pensar. Tem gente se arriscando, mas até mesmo porque temos uma idosa em casa, mas está fora de cogitação”, contou. Com as últimas atualizações, ela prefere pecar por excesso e procura manter tudo bastante higienizado, além de seguir as regras de etiqueta respiratória e evitar as aglomerações.
Mesmo com a redução de público nas praias ontem, muitos optaram pela atividade, mas não houve registros de interdição, uma das medidas permitidas pelo novo plano de contingência. O Bondinho do Pão de Açúcar, um dos principais pontos turísticos da cidade, não parou e foi alternativa para quem visitava a cidade. A lotação dos transportes, no entanto, foi reduzida pela metade. Os eventos com grande aglomeração serão suspensos a partir de amanhã, assim como as aulas nas instituições de ensino, mas, na rede pública, haverá oferta de almoço aos alunos das 11h às 13h.
“Alguns países aguardaram ter uma epidemia mais avançada para aí, então, iniciar as medidas. Isso fez com que um grande número de casos aparecesse de forma muito curta no tempo e o sistema de saúde fosse tensionado para além de sua possibilidade, que é o caso da Itália, com letalidade de 5%. Quem tomou medidas como estamos fazendo aqui, tiveram controle muito maior, como foi o caso da Coreia do Norte, com índice de letalidade de 0,5%”, exemplificou.
A cidade do Rio ainda estuda a possibilidade de restringir fluxo de passageiros pelas vias aéreas e terrestres. Seria uma “restrição excepcional e temporária de entrada e saída da cidade”, como explica o decreto publicado pelo prefeito Marcelo Crivella. Pelo texto, a recomendação ficaria a cargo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O estado fluminense tem dois casos de transmissão comunitária do coronavírus entre os 22 confirmados oficialmente pela plataforma do Ministério da Saúde.
Eventos suspensos
A suspensão de aulas e cancelamento de eventos de massa também estão entre as principais determinações estabelecidas pelo governo de São Paulo. Em conjunto com a pasta de Educação, as autoridades locais decidiram interromper o funcionamento das escolas municipais e estaduais de forma gradual, permitindo um planejamento familiar. O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo anunciou, ontem, que as unidades privadas de ensino básico também seguirão o cronograma. Conforme o presidente do sindicato, Benjamin Ribeiro da Silva, a paralisação gradativa “vai evitar a correria vista em outros estados, que suspenderam as aulas nas escolas de bate-pronto e pegaram as famílias de surpresa”.
Todos os eventos esportivos, artísticos, culturais, políticos, científicos, religiosos e comerciais com aglomeração de 500 pessoas estão suspensos. Centros culturais, teatros, bibliotecas e museus, por exemplo, amanhecerem fechados para visitação.
Pela plataforma nacional, foram contabilizados até o último balanço 65 pacientes infectados pela Covid-19, em São Paulo. No entanto, os números são maiores. Só no Hospital Albert Einstein da capital paulista há 98 testes positivos para o vírus. Parte desses casos compõe os dados do ministério, mas a pasta não soube precisar quantos. Pelos números oficiais, o estado concentra 53% dos registros nacionais. Devido aos altos índices, o governo passa a aplicar o teste de coronavírus apenas nos casos mais graves.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, explicou que as notificações continuarão sendo feitas. “Quando você tem epidemia, faz-se um diagnóstico clínico, por nexo causal”, explicou em coletiva, na sexta-feira. Até o fechamento desta edição, não havia registro de morte em decorrência da doença no país. (BL)