Em meio ao crescimento do número de casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus no Brasil, o Ministério da Saúde anunciou, ontem, recomendações gerais para todos os estados brasileiros e outras específicas para as unidades da Federação com transmissão local e comunitária da Covid-19. As sugestões foram transmitidas para profissionais das Secretarias Estaduais de Saúde de todo o país, por meio de videoconferência, com o objetivo de reduzir a velocidade da transmissão do vírus. As medidas vão desde restrição do contato social de grupos de risco até a antecipação de férias escolares (veja arte na página ao lado). Ao todo, de acordo com a pasta, o Brasil tem 98 casos confirmados da doença e 1.485 suspeitos. Foram descartados 1.344.
Uma das recomendações da pasta é o cancelamento ou adiamento de grandes eventos: governamentais, esportivos, artísticos, culturais, políticos, científicos, comerciais ou religiosos. Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, os organizadores ou responsáveis devem cancelar ou adiar, se houver tempo hábil. “Não sendo possível, recomenda-se que o evento ocorra sem público”, pontuou. De acordo com o secretário, cada gestor deve adaptar as medidas para a realidade de seu estado ou município.
A medida também vale para cruzeiros turísticos, que devem ser adiados durante a permanência da declaração de emergência em saúde pública. “É uma determinação. Temos mais de 21 cruzeiros para se iniciar no Brasil. Eles são, historicamente, ambientes de confinamento que reúnem pessoas com muita proximidade, e muitos deles têm turistas internacionais”, disse Oliveira. A medida é válida para todos os cruzeiros turísticos, inclusive os nacionais (leia mais na página 9).
Há sugestões específicas para estados com transmissão local e comunitária. Até o momento, apenas São Paulo e Rio de Janeiro registraram a comunitária. Já o estado da Bahia tem a local. Em ambas as situações a recomendação é de que idosos e doentes crônicos restrinjam o contato social, ou seja, evitem viagens, cinemas, shoppings, shows e demais lugares com aglomeração de pessoas. Além disso, Oliveira reforçou que esse grupo deve se vacinar contra gripe. A Campanha de Vacinação contra Influenza foi antecipada e começará no próximo dia 23.
Comunitária
Em locais com transmissão comunitária, as medidas são mais rígidas, pois é possível afirmar que há circulação do vírus. O Ministério da Saúde incentiva a realização de reuniões virtuais e o trabalho remoto (home office), se possível. Para as instituições de ensino, o planejamento da antecipação de férias e o uso de ferramentas de ensino a distância são medidas sugeridas para reduzir o prejuízo do calendário escolar.
Nesses locais, a pasta recomenda que se monitore diariamente o número de admissões e altas relacionadas à Covid-19 em unidades de terapia intensiva. Caso se atinja 80% da ocupação dos leitos de UTI, dedicados para pacientes com a doença, deve-se avaliar a possibilidade de declaração de quarentena em determinada localidade.
“É a estratégia mais delicada, porque causa maior impacto econômico e social. Não queremos adotar essa estratégia, apesar de ela estar prevista na nossa lei”, avaliou Julio Croda, diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do ministério.
Pico de casos
De acordo com Wanderson de Oliveira, locais que não aplicaram as recomendações não farmacológicas tiveram um pico muito maior de casos. Apesar de as medidas serem dadas como sugestão, o ministério reforçou que, sem a adoção delas, a estimativa é de que a cada três dias o número de casos dobre. De acordo com o secretário, as recomendações são motivadas pela chegada do outono, que começa no dia 20.
“Nós estamos a uma semana do início do outono, e nas mudanças de estações sempre temos alterações climáticas, começamos um período mais frio. O frio condiciona pessoas a ficarem em locais mais fechados, com menor ventilação”, explicou. “Além disso, também temos o início da nossa sazonalidade de doenças respiratórias. Por causa dessa condição, concluímos que essas medidas são fundamentais para retardar o pico da transmissão do vírus.”
Pelo país
A maioria dos casos de coronavírus — 56 —, está no estado de São Paulo, seguido pelo Rio de Janeiro, com 16. O restante está em Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e Distrito Federal. Ainda não há registro de óbitos pela doença no país.
Conceitos de transmissão
Importada
Quando pessoas se infectaram em outro país
Local
Quando é possível relacionar o doente ao caso confirmado
Comunitária (ou sustentada)
Quando:
» Não é possível identificar o vínculo epidemiológico, ou
» A partir da quinta geração de transmissão de caso, ou
» Há identificação de, pelo menos, um resultado positivo na vigilância sentinela de síndrome gripal, ou
» Há identificação de, pelo menos, casos internados por síndrome
Minas e Goiás em estado de emergência
A Secretária de Saúde de Minas Gerais decretou estado de emergência em saúde pública por conta da pandemia do novo coronavírus. Segundo nota publicada no site oficial do órgão, a decisão faz parte das “ações de preparação para assistência aos pacientes com coronavírus”. O decreto permite a compra de insumos e a contratação de profissionais para lidar com o surto no estado. A mesma medida foi adotada por Goiás, por 180 dias. De acordo com o decreto, o prazo pode ser prorrogado, se comprovada a necessidade. Pelo documento, o estado poderá dispensar licitação para a aquisição de bens e serviços, e determinar a realização compulsória de exames médicos, testes laboratoriais, vacinação, entre outras.