O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que a tendência é a suspensão dos atos marcados para domingo, por temor do coronavírus, mas não perdeu a chance de dar uma alfinetada no Congresso, um dos alvos das manifestações. Segundo ele, o recado já foi dado, um “tremendo recado para o parlamento”.
De acordo com Bolsonaro, a ideia é de que os atos sejam adiados para “daqui a um mês ou dois”. “Há uma certa divisão, tendo em vista mais gente que pode se juntar nesse dia e ajudar a propagar o vírus. A população está um tanto quanto dividida, muita gente falando pra mim: ‘Eu vou, mas a minha esposa e meus filhos, não’; ‘o meu pai e meu avô, que têm certa idade, não vão’”, afirmou, na live de ontem. “Então, o que eu vejo nesse movimento do dia 15: o que nós devemos fazer agora é evitar que haja uma explosão de pessoas infectadas, porque os hospitais não dariam vazão a tanta gente.”
Bolsonaro disse que, como presidente da República, teve de tomar uma posição. “Contra ou a favor. Se bem que o movimento não é meu, o movimento é espontâneo e popular. Então, uma das ideias é adiar, suspender. Daqui a um, dois meses, se faz. Já foi dado um tremendo recado para o parlamento”, disparou. “Não há dúvidas de que o recado para o parlamento foi no tocante à questão daquelas emendas de relator, se ele vai ter autonomia para movimentar, em média, R$ 15 bilhões ou não. O recado foi dado.”
O chefe do Executivo comentou sobre a crise na economia mundial e do país. “A gente pede a Deus que esse problema logo se dissipe aqui e a gente volte à normalidade. Problemas estamos tendo pela frente: a questão da bolsa de valores, que despenca, dólar que sobe. Isso está acontecendo no mundo todo”, ressaltou. “Medidas econômicas a equipe tem tomado. Agora, não somos aquelas potências que têm recursos em abundância, como os Estados Unidos, que podem socorrer com muito mais propriedade as pequenas empresas. Temos orçamento bastante engessado.”
Perigo
A deputada Bia Kicis (PSL-DF) destacou que havia o temor do aumento de infecções com as manifestações. “Embora seja de baixa letalidade, é muito contagioso (o coronavírus), e teriam pessoas idosas. Por mais que o risco seja baixo em lugares abertos, é importante se prevenir. Agora, é uma manifestação da população, então o povo tem de querer também, mas, falando, a gente influencia”, afirmou.
Segundo a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), organizadores do evento acompanharam os informes do Ministério da Saúde para definir se suspendiam os protestos. A parlamentar também defendeu o adiamento. “Um motivo é o risco de contaminação. Temos de proteger as pessoas.”
A deputada Alê Silva (PSL-MG), por sua vez, está entre os parlamentares que questionam o adiamento. De acordo com ela, organizadores de protesto em Minas “se mantêm firmes”. “Eles disseram que não vão cancelar, a menos que haja algum decreto proibindo o movimento ou determinando ações de fechamento de aeroporto, rodoviária e grandes eventos. Se nada disso acontecer, vão manter”, frisou. “Mas estão alertando a população para não irem pessoas idosas nem com sintomas de gripe. Eu passei por dois aeroportos internacionais de Brasília e Belo Horizonte. As pessoas estão transitando normalmente. Ninguém está usando equipamentos de proteção. Se os grandes aeroportos não estão tomando qualquer tipo de providência para evitar o contágio, por que os movimentos têm de ser cancelados? Acho estranho que o risco sirva só para manifestações.”
O PSol do Distrito Federal emitiu uma nota anunciando o adiamento do protesto deste sábado, pelos dois anos da morte de Marielle Franco. “Estamos observando uma situação de pânico social e muito medo. Por isso, manter um evento que poderia contar com a presença de mais de 500 pessoas, em um ponto central do DF, seria assumir riscos desnecessários neste momento”, informou o comunicado. Sâmia explicou que, no caso do DF, a decisão foi tomada em virtude das recomendações do governador Ibaneis Rocha (MDB).
Centrais sindicais se reúnem hoje e na próxima segunda para debater a manutenção ou adiamento dos atos do dia 18.
“ Se os grandes aeroportos não estão tomando qualquer tipo de providência para evitar o contágio, por que os movimentos têm de ser cancelados? Acho estranho que o risco sirva só para manifestações”
Alê Silva, deputada
Panelaço convocado
Após o pedido do presidente Jair Bolsonaro de adiamento das manifestações pró-governo marcadas para domingo, grupos apoiadores dos atos convocaram um panelaço para o mesmo dia. O Avança Brasil tomou a frente e enviou para os apoiadores uma nota, na qual explica o motivo da suspensão das manifestações e pede que batam panelas. Em comunicado enviado logo depois do pronunciamento de Bolsonaro, o grupo confirmou o adiamento. “Conclamamos, porém, que todos se juntem a nós em um megapanelaço no dia 15, às 20h, em desagravo às atitudes de congressistas irresponsáveis que não têm o Brasil acima de tudo e que somente pensam em seus benefícios particulares”, ressalta a nota.
NasRuas anuncia adiamento
O Movimento NasRuas, um dos grupos organizadores dos atos marcados para domingo, confirmou o adiamento e pediu “compreensão” dos seguidores. “Em um momento futuro, onde (sic) a nação brasileira poderá manifestar de todo Brasil seu apoio ao presidente e exigir o correto trâmite das reformas administrativa e tributária que serão apresentadas ao Congresso, em segurança, convocaremos novamente”, afirmou, em nota.