Pelo acordo fechado entre o governo e o Legislativo, apenas R$ 9,6 bilhões dos R$ 30,1 bilhões devem voltar ao Executivo pelos projetos de lei e isso gerou inquietação entre os apoiadores do presidente, que ficou acuado. O deputado Marcelo Ramos (PR-AM), vice-líder da bancada dos partidos do centrão vê o chamado de Bolsonaro para as manifestações como uma atitude de desespero.
“O presidente está numa atitude desesperada diante dos péssimos resultados e das perspectivas da economia, e reagiu da pior forma possível. Nós precisamos e vamos manter a serenidade. A hora não é de dar voz para quem quer dividir o país. A hora é de unir o país em torno das reformas, do combate ao desemprego, da retomada da atividade industrial, da defesa da democracia e das instituições”, afirma.
Ramos defende mais empenho do governo nas pautas econômicas e prega mais diálogo. “O Brasil precisa de um presidente mobilizando o povo pelas reformas, pelo combate ao desemprego, pela queda do dólar, pelo resgate da produção industrial, pela democracia, pela harmonia entre os Poderes”, reforça.
Analistas também veem o chamamento às ruas de Bolsonaro como um movimento de quem não consegue entregar o que promete por falta de foco, e busca desculpas em outros para não reconhecer os erros cometidos ao longo do caminho.
Sem agenda
“O presidente cobra do Congresso uma agenda que não existe. Enviou três PECs em novembro (Emergencial, dos Fundos e Pacto Federativo), que estão abandonadas, porque, até agora, o ministro Paulo Guedes não foi a nenhuma comissão para defendê-las publicamente, muito menos para explicar a urgência da PEC Emergencial”, avalia a economista e advogada Elena Landau, responsável pelo processo de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso.
Para ela, os avanços na pauta econômica foram resultados da agenda do governo Michel Temer. “Temos um governo que se sente pressionado pela população porque a economia não cresce. Quem diz que manda 15 prioridades para o Congresso não tem nenhuma prioridade”, emenda.
O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, não tem dúvidas de que as manifestações do próximo domingo serão ser um importante termômetro sobre a popularidade do presidente. “Vamos ver se a estratégia do Executivo de trazer tensão institucional como uma maneira de reforçar a ligação do presidente com o eleitorado está dando certo”, afirma. “A magnitude das manifestações é um importante termômetro para ver se ainda existe espaço para esse tipo de relação, se esse discurso ainda tem capacidade de mobilizar aquele eleitorado, chamado de eleitor original do presidente Bolsonaro, que fez uma opção pela sua proposta política desde de ele se tornou a opção mais viável para enfrentar a esquerda em 2018”.
Por outro lado, ele destaca será preciso ver como as instituições e os líderes partidários vão responder a esse movimento, “seja no plano do discurso político, seja em relação ao grau de apoio à agenda proposta pelo governo, ainda que esse poder seja menos significante por conta da falta de coalizão em bases partidárias”.
Mas não são o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e Bolsonaro que têm mostrado desconforto. Entre amigos, Paulo Guedes não tem conseguido demonstrar muita serenidade e há uma divisão sobre o discurso de que a economia vai bem. Para uns, ele começa a colocar a culpa no presidente sobre a falta de avanços nas reformas tributária e administrativa e, para outros, diz que “está totalmente comprometido com as reformas”.
“Ele está entusiasmado. Não viajou para Miami para tratar do projeto da reforma tributária e disse que a expectativa é de que a proposta seja aprovada até agosto”, informa um interlocutor do ministro. Segundo ele, a proposta de uma nova CPMF foi enterrada e Guedes pretende apoiar a proposta do IVA dual e a redução do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), de 35% para 25%.