O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou na manhã deste sábado (7) que “político que tem medo de movimentos de rua não serve para ser político”. Antes de seguir rumo à Flórida, o chefe do Executivo realizou uma escala de 1h30 em Boa Vista. Ele se encontrou com políticos locais para tratar de temas de interesse do estado como a demarcação e garimpo em terras indígenas, retomada da obra do Linha do Tucuruí e Operação Acolhida. Bolsonaro postou um trecho do encontro nas redes sociais. Nele, Bolsonaro convoca a população a comparecer nas manifestações marcadas para o próximo dia 15 de março. Ele disse ainda que o ato não visa atacar o Congresso ou o Judiciário.
“Não é fácil. Já levei ‘facada no pescoço’ dentro do meu gabinete por pessoas que só pensam neles, não pensam no Brasil. Essa é uma grande realidade. Dia 15 agora tem um movimento de rua espontâneo. É um movimento espontâneo e o político que tem medo de movimentos de rua não serve para ser político. Então, participem. Não é um movimento contra o Congresso, contra o judiciário. É um movimento pró-Brasil, é um movimento que quer mostra para todos nós, presidente, poder Executivo, poder Legislativo, poder Judiciário que quem dá o norte para o Brasil é a população".
Em um outro trecho, Bolsonaro afirma que o movimento de rua é muito bem-vindo. "Nós estamos submissos à lei. Como diz o artigo quinto que todos podem se reunir pacificamente, bastando apenas comunicar à autoridade competente. Participem e cobrem de todos nós o melhor para o Brasil. Nós temos obrigação de atendê-los. Não é favor da nossa parte. Ninguém tem que se preocupar. Quem diz que é um movimento popular contra a democracia está mentindo e tem medo de encarar o povo brasileiro", concluiu.
Já o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Heleno, também presente no evento, afirmou que o presidente é vítima de conspiração. “Estamos diante de uma realidade inevitável. O presidente Bolsonaro fará um novo Brasil, está dando certo. Ele tem encontrado uma resistência muito grande. A rede de corrupção está sendo desbaratada pelo governo, tem prejudicado planos espúrios de muita gente”, apontou.
No final de fevereiro, a jornalista Vera Magalhães noticiou que o chefe do Executivo compartilhou por meio do Whatsapp, um vídeo com a convocação para as manifestações de 15 de março, organizada pelos seus apoiadores para supostamente defender o governo e protestar contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. De acordo com a gravação, os dois poderes fariam parte dos chamados “inimigos do Brasil”.
Bolsonaro chamou a profissional de mentirosa e ainda negou que tenha compartilhado vídeos convocando manifestações contra o Congresso e o Supremo e disse que trata-se de um vídeo das manifestações de 2015. No entanto, as imagens dos vídeos mostram o presidente em momentos posteriores, como a facada em período eleitoral em 2018 e o mesmo portando faixa presidencial, já eleito.
Após a escala em Boa Vista, Bolsonaro embarcou para Miami. A previsão é de que ele retorne da viagem no dia 10. A agenda também conta com um, encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reuniões com empresários e visita a uma fábrica da Embraer na região de JacksonVille. Essa será a quarta viagem do presidente ao país desde o início do mandato.
Ontem (6), o presidente brasileiro utilizou as redes sociais para comentar sobre o encontro com o líder americano. “Amanhã [Hoje] terei novo encontro com meu amigo @realDonaldTrump. Discutiremos ações para aprofundar a cooperação entre Brasil e EUA nas áreas comercial, econômica e de defesa. Trataremos também de novos passos para fortalecer nossa aliança na busca por um mundo mais seguro e livre”, escreveu.
Minutos antes de entrar no Palácio da Alvorada, Bolsonaro também falou com a imprensa sobre a expectativa do encontro. “É a melhor possível. Está previsto o jantar com ele amanhã, eu e mais quatro pessoas. Algumas coisas foram acertadas já, que vão ser tratadas --desculpa aqui-- reservadamente. Mas eu vejo que, depois de longos anos, décadas, de os governos brasileiros terem uma certa desconfiança do governo americano, essa desconfiança acabou, e queremos nos unir, nos aproximar cada vez mais. E devemos nos juntar com todos os países, mas em especial com os países melhores do que nós”, apontou.
Também é esperado que os chefes do Executivo assinem um acordo militar com os Estados Unidos da América. Questionado se equipamentos de defesa estão na pauta da reunião, ele confirmou, mas preferiu não entrar em maiores detalhes.
“Vai ser tratado. Está previsto o general Fernando [Azevedo] ir conosco. Então vai ser tratado, sim. Nós ficamos no tempo na questão de defesa. Defesa é investimento. Em especial, quando é através de pesquisa. Agora o Brasil não pode ficar tão desguarnecido como está por sucateamento do seu material, que foi levado com muita ênfase nos últimos anos por um projeto de poder. As Forças Armadas despreparadas, desmotivadas, é um terreno fértil para que alguns aventureiros, ditadores, avancem em seus propósitos”, ressaltou.
Ao ser perguntado se o Brasil pretende vender equipamentos ou comprar dos EUA, Bolsonaro respondeu que o assunto será tratado em ‘reservado’.
“Isso aí vai ser tratado --desculpa aqui-- em reservado, tá certo? Me desculpa, tá certo? Eu gostaria de falar com vocês, mas é reservado. E certas coisas eu vou tomar conhecimento até no voo amanhã, porque não dá tempo de tratar de tudo durante o dia. É impossível. São 22 ministérios e eles funcionam. Pedem informações para mim de vez em quando, pedem o meu aval, o que é natural. Porque a gente não pode errar. A gente sabe que vocês estão mais do que vigilantes”, concluiu.
Trump confirma encontro
Mais cedo, ainda ontem, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou o encontro com Bolsonaro em sua casa de Mar-a-Lago na Flórida. Um comunicado emitido nesta sexta-feira (6) pela Casa Branca, afirma que um dos objetivos da viagem é analisar a crise na Venezuela.
“O presidente Trump e o presidente Bolsonaro discutirão sobre oportunidades de construir um mundo mais próspero, seguro e democrático. Como líderes das duas maiores economias do Hemisfério, eles também discutirão oportunidades para restaurar a democracia na Venezuela, trazer paz ao Oriente Médio, implementar políticas comerciais pró-crescimento e investir em infraestrutura. O Presidente usará esta reunião como uma oportunidade para agradecer ao Brasil por sua forte aliança com os Estados Unidos”, diz a nota.