Politica

Bolsonaro responde imprensa por meio de humorista: "O que é PIB?"

O presidente apareceu na entrada do Palácio da Alvorada, nesta quarta-feira, ao lado do humorista Carioca e se recusou a comentar o crescimento da economia em 2019. Um pouco antes, o humorista ofereceu bananas à imprensa

Correio Braziliense
postado em 04/03/2020 14:03
O humorista disse que tudo se tratava de um show de humorO presidente Jair Bolsonaro utilizou o humorista Márvio Lúcio, o Carioca, para dar entrevistas em seu lugar, na manhã desta quarta-feira (4/3), na saída do Palácio da Alvorada. 

No momento em que apoiadores aguardavam para cumprimentar o presidente, o humorista desceu de um dos carros do comboio presidencial antes de Bolsonaro, fantasiado de presidente. Ele tocou um minitrompete e cumprimentou os simpatizantes. Em seguida, tentou distribuir bananas para a imprensa.

A cena faz alusão a duas ocasiões em que o presidente ofendeu jornalistas que faziam perguntas a ele no Alvorada, cruzando os braços, em um gesto conhecido como "dar uma banana". 

Ao parar em frente ao púlpito de entrevistas, o comediante perguntou se os jornalistas tinham perguntas a fazer. Os jornalistas questionaram se Bolsonaro havia pedido que ele falasse com a imprensa e Carioca disse que se tratava de um "show de humor". Comendo a fruta, o humorista ainda insistiu se alguém faria perguntas a ele: “Aproveita!”. Diante do silêncio da imprensa, ele começou a se retirar, mas Bolsonaro chegou e o chamou.

Quando os dois se aproximaram da imprensa, Bolsonaro foi questionado sobre o PIBque cresceu apenas 1,1% em 2019, resultado pior que nos dois anos anteriores. Bolsonaro estimulou que o humorista respondesse em seu lugar:

Jornalista: "Presidente Bolsonaro, o senhor falará sobre o PIB?"

Bolsonaro, para Carioca: "Pergunta o que é PIB. O que é PIB?"

Carioca: "O que é PIB? (isso é com o) Paulo Guedes, Paulo Guedes…"

Jornalista: "A pergunta é para o presidente, não para o senhor"

Bolsonaro, sempre para Carioca: "Posto Ipiranga."

Carioca: "Posto Ipiranga".

Bolsonaro: "(Pede) Outra pergunta".

Carioca: "Outra pergunta, outra pergunta".

Jornalista: "Presidente, comenta o PIB conosco".

Carioca: "Mas é o Paulo Guedes, é Economia…"

O humorista ainda insistiu para que os jornalistas fizessem outra pergunta, mas percebendo que as respostas não viriam de Bolsonaro, os profissionais de imprensa não fizeram nenhuma. Bolsonaro então se dirigiu aos apoiadores e disse que seria exibido na TV Record um programa com ele.

Bolsonaro postou o momento nas redes sociais, sob o título "Bolsonabo na Alvorada". 



Piada um dia após cartilha

O humorista chegou ao Palácio em um carro oficial com o secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, e o ministro-Chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Luiz Eduardo Ramos. Ambos acompanharam o ocorrido. Também foram feitas imagens dos profissionais de imprensa.

O fato  da Cartilha Aristeu Guida da Silva de proteção dos direitos humanos de jornalistas.

A cartilha aponta que "os agentes do Estado não devem adotar discursos públicos que exponham jornalistas e outros comunicadores e comunicadoras a maior risco de violência ou aumentem sua vulnerabilidade" e que "é essencial que autoridades estatais reconheçam constante, explícita e publicamente a legitimidade e o valor do jornalismo e da comunicação, mesmo em situações em que a informação divulgada possa ser crítica ou inconveniente aos interesses do governo".

Marcelo Träsel, presidente da Abraji, afirma que o lançamento do documento revela as contradições do próprio governo.

"É um material de referência excelente sobre liberdade de imprensa para todos os nossos servidores públicos e políticos", diz Träsel. "Esperamos que o presidente, o ministro da Justiça e os demais integrantes do alto escalão estudem esse material com a devida atenção e sigam as orientações contidas no texto. Eles podem descobrir, por exemplo, que a violência psicológica também é vista como uma infração aos direitos humanos pela CIDH e, com isso, talvez se sintam inspirados a repensar a forma de interação do presidente com os repórteres durante entrevistas, nas quais ele frequentemente se vale de ofensas machistas, sexistas ou gestos obscenos para evitar responder às perguntas dos profissionais da imprensa", analisa.

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