Pelo menos outros cinco estados passam por processo de negociação de aumento salarial de policiais (civis e militares) e bombeiros militares: Paraíba, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Piauí. No caso da Paraíba, houve uma ação por parte de servidores muito parecida com a que ocorreu no Ceará: policiais fizeram paralisação, saíram às ruas e esvaziaram pneus de viaturas. Eles também tentaram vetar a saída de policiais em serviço de batalhões e impedir o trabalho de militares em um bloco de carnaval, na quarta-feira.
Secretário de Segurança e Defesa Social do estado, Jean Nunes afirmou que a paralisação, que durou 12 horas, será objeto de apuração, mas garantiu que o governo continuará a negociação para reposição salarial. Ele acredita que exista uma comunicação entre os movimentos grevistas e teme um “contágio” das ações em outras unidades federativas. “Deve ser reprimido em todos os estados, com o cumprimento da lei, para que não volte a acontecer e não dissemine Brasil afora”, pregou.
Na noite de quarta-feira, o Tribunal de Justiça deferiu medida liminar requerida pelo governo da Paraíba e declarou ilegal qualquer movimento de caráter grevista que envolva as forças policiais do estado (leia matéria ao lado).
Questionado se o reajuste salarial concedido a policiais pelos deputados estaduais de Minas Gerais, de 41,7%, escalonado até 2022, aumenta a tensão, Nunes afirmou que a medida pode se tornar uma referência para a categoria. “E eles podem querer copiar a reivindicação ou o ganho do outro estado, mas cada um tem a sua realidade”, pontuou.
Bom senso
No Espírito Santo, também existe um processo de negociação de aumento salarial com as forças de segurança do estado. Em 2017, a população capixaba vivenciou uma grave crise na segurança pública causada por uma paralisação da PM, justamente por reivindicação salarial. O secretário de Segurança do estado, Roberto Sá, ao ser questionado se temia que algo assim se repetisse, disse apostar no “bom senso e profissionalismo de todos os envolvidos”. “É sempre preocupante quando acontece isso em um estado, mas o nível de negociação e profissionalismo está muito elevado”, ressaltou.
No Mato Grosso do Sul, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) respondeu, em nota, que a data-base dos funcionários ocorre em 1º de maio e que o governo “vem buscando um acordo com os servidores”. Em Santa Catarina, a Secretaria de Estado da Administração (SEA) informou ao Correio que as negociações com as categorias da Segurança Pública estão em andamento. Segundo a pasta, ocorrerá uma nova rodada de reuniões nesta semana. “O governo apresentou, nas últimas semanas, um conjunto de propostas levando em consideração as reivindicações das categorias e a responsabilidade com o necessário equilíbrio orçamentário e financeiro do estado”, explicou.
“Coincidência”
No caso do Piauí, a Secretaria de Segurança Pública informou que fechou, ontem, uma negociação para conceder melhorias: aumento do pagamento em R$ 50 pelas chamadas “operações planejadas”, que são pagamentos por trabalhos feitos no dia de folga do policial. O decreto foi assinado pelo governador Wellington Dias (PT). Além disso, o estado enviou para apreciação dos deputados estaduais um projeto que aumenta o auxílio-alimentação.
O secretário Fábio Abreu (PL), policial militar e deputado federal licenciado, frisou que a concessão de gratificação por operações planejadas não tem relação com a situação do Ceará. O gestor enviou ao Correio um documento assinado por ele, em 31 de dezembro do ano passado, no qual solicita o aumento do que é pago pelas operações. Mas, somente agora, o governador efetivou a mudança, via decreto. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu já vinha conversando para aumentar a diária”, disse. “No nosso caso, é coincidência. Já vinha sendo feito e já tinha sido anunciado.”
Sobre o Ceará, Fábio Abreu avaliou que “houve erro dos dois lados”. “Ele (Cid Gomes) foi muito incoerente e imprudente com a integridade dele mesmo. Pegar um trator daquela forma e ir para cima de manifestantes dentro de um quartel, com policiais... Pelo que aconteceu, ele teve sorte de não ter sido morto”, destacou. Ele também criticou os grevistas, dizendo que faltou uma liderança para negociar e controlar as ações. “Inaceitável. Jamais poderia acontecer”, enfatizou, sobre o fato de o senador ter sido baleado por envolvidos na manifestação.
Apesar do aumento no valor pago ao servidor que trabalha no dia de folga, o tesoureiro do Clube dos Subtenentes e Sargentos (CSS) do estado, subtenente Edvaldo Torres, avisou que as reivindicações por aumento salarial continuam. “A gente só quer a reposição salarial conforme inflação. Não queremos nem aumento, só reposição”, afirmou. O percentual requisitado é de 19,97%, segundo ele. De acordo com o militar, quatro associações estão fazendo os pedidos ao estado, mas, segundo alegou, ainda não foram ouvidos. “Não chamaram ninguém.”
“O governo apresentou, nas últimas semanas, um conjunto de propostas levando em consideração as reivindicações das categorias e a responsabilidade com o necessário equilíbrio orçamentário e financeiro do estado”
Trecho da nota da Secretaria de Estado da Administração de Santa Catarina