O perito aposentado Francisco Moraes Silva, de 81 anos, contratado pela famÃlia do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega para acompanhar a nova necropsia feita na tarde desta quinta, 20, no Instituto Médico-Legal do Rio, disse que o disparo que acertou o ex-capitão do BOPE no tórax tem caracterÃsticas tÃpicas de um tiro à queima-roupa.
"É a tÃpica marca em que a extremidade distal da arma encosta no tegumento (pele)", afirmou.
Ex-diretor do IML do Paraná, o especialista está acompanhado de outros três peritos e um fotógrafo. Ele esclareceu que ainda não examinou o corpo e que sua análise foi feita com base em fotografias.
"Esse crime, da forma como foi, é o mais importante dos últimos 20 anos", alegou.
O novo exame cadavérico está sendo feito por peritos do IML do Rio. O resultado só sairá dentro de quinze dias. Depois disso, a equipe de Moraes filho tem outros quinze dias para elaborar um parecer sobre o laudo. Segundo ele, o corpo está "putrefato", ou seja, apodrecido, mas não o suficiente para atrapalhar o exame.
Sobre a necropsia feita no IML de Alagoinhas, na Bahia, Moraes Silva disse que os peritos poderiam ter dado mais informações sobre o orifÃcio de entrada no tórax.
"O novo laudo será feito por peritos do Rio que têm muita experiência com tiros de fuzil e carabina ", afirmou.
A Justiça da Bahia autorizou na noite da terça-feira, 18, a realização do novo exame. O pedido havia sido feito pelo Ministério Público da Bahia e também pela famÃlia de Nóbrega. Na decisão, o juiz Augusto Yuzo Jouti determina que o exame seja feito por peritos do IML do Rio, onde o corpo está desde o último domingo, 16. De acordo com a decisão, no entanto, a famÃlia e o MP da Bahia podem indicar peritos independentes para acompanhar o exame.
Moraes Silva já foi denunciado por supostamente fraudar um laudo de necropsia nas investigações da morte de uma mulher no Paraná. Outro perito que o acompanhou no IML nesta tarde, Ari Fontana, já foi preso. Foi acusado de extorsão para liberar veÃculos furtados, quando era diretor-geral do Instituto de CriminalÃstica do Paraná, em 2006. Não foi possÃvel questioná-los sobre as acusações.
Tortura em Adriano
O objetivo do novo exame é determinar a distância aproximada entre os policiais e Adriano no momento dos tiros, o trajeto percorrido pelas balas no interior do corpo do ex-PM e o calibre das armas usadas. Será possÃvel averiguar também se houve tortura, como foi alegado pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ).
Segundo os promotores, tais questões não foram devidamente esclarecidas na primeira necropsia, feita no IML de Alagoinhas, cidade vizinha à Esplanada. Com esses esclarecimentos, acreditam, será possÃvel determinar se houve, de fato, uma troca de tiros ou uma execução.
Estão pendentes, ainda, os resultados de exames importantes feitos na Bahia. São eles o residuográfico (que determina se Nóbrega, de fato, fez algum disparo de arma de fogo), o das marcas de bala no escudo usado pela PM na invasão do sÃtio (o que poderia indicar uma reação) e o da perÃcia da casa onde ele foi alvejado.