O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse, na noite desta terça-feira (18/02), da tribuna do plenário da Câmara, para as parlamentares de esquerda "rasparem o suvaco porque se não dá um mau cheiro do caramba". A declaração foi feita em reação a um protesto da bancada feminina da Casa contra uma fala do presidente Jair Bolsonaro, feita mais cedo. O chefe do governo tinha afirmado que a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo, "queria dar o furo a qualquer preço", sugerindo que ela se insinuou sexualmente com uma fonte para obter informações sobre o disparo em massa de mensagens via WhatsApp na campanha presidencial de 2018.
Eduardo Bolsonaro, no plenário, reagia às críticas das deputadas da bancada feminina, que divulgaram uma nota de repúdio às declarações do presidente da República, chamado por elas, várias vezes e aos gritos, de "machista".
Para contestar a acusação das colegas, o deputado lembrou que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, teve espaço para discursar durante a cerimônia da posse presidencial, no Palácio do Planalto.
"Que presidente machista deixou a sua esposa discursar na posse? A esposa de Lula só serve para levar a culpa das roubalheiras que ele fez. E das outras mulheres só servem o cadáver para levantar a bandeira de vocês", disse o deputado, que é líder do PSL na Câmara, enquanto as deputadas mantinham o protesto.
"Não vão nos calar. Pode gritar à vontade, só raspa o suvaco, hein, raspa o suvaco porque se não dá um mau cheiro do caramba, hein", acrescentou o deputado. "Vocês vão ter que nos engolir, não adianta fazer corinho e dizer que representam as mulheres. Não, porque nós quebramos a hegemonia de vocês, e aqui ninguém se dobra ao politicamente correto e a gente vai continuar falando", disse o parlamentar.
Enquanto ele falava, era aplaudido por correligionários, incluindo mulheres, como as deputadas Carla Zambelli (PSL-SP) e Aline Sleutjes (PSL-PR).
Na nota de repúdio que foi divulgada, a bancada feminina na Câmara afirma que "A declaração absolutamente desrespeitosa e incompatível com a postura de um presidente da República se referia à mentira contada pelo ex-funcionário da empresa Yacows durante depoimento prestado à CPMI das Fake News, de que a jornalista teria oferecido favores sexuais em troca de informações".
As parlamentares se referiam ao depoimento prestado à CPMI, na semana passada, por Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da Yacows. Na ocasião, ele negou que tenha passado informações à jornalista e ainda disse que ela lhe havia oferecido favores sexuais para tentar consegui-las. A repórter, então, divulgou documentos para comprovar que o depoente estava mentindo. A deputada Lídice da Mata (PSB-BA) apresentou à Procuradoria-Geral da República uma representação solicitando que Hans seja investigado por falso testemunho, o que é crime.
O comunicado da bancada feminina afirma também que "Esse tipo de discurso não ataca só a jornalista Patrícia, mas todas as mulheres que cotidianamente são vítimas de violência, seja dentro de casa, no transporte público e no próprio ambiente de trabalho. Por isso repudiamos veementemente a postura do presidente Jair Bolsonaro de, mais uma vez, atacar os direitos e a dignidade das mulheres em nosso país".
Durante os protestos a bancada feminina da Câmara foi representada pelas deputadas Jandira Feghali (PCdoB), Tabata Amaral (PDT-SP), Alice Portugal (PCdoB-BA) e Perpétua Almeida (PCdoB-AC), entre outras.