O presidente Jair Bolsonaro voltou a se indispor com representantes dos estados, que consideram que ele está “se antecipando a investigações policiais para atribuir fatos graves à conduta das polícias e seus governadores. Em carta aberta, divulgada nesta segunda-feira (17/2), 20 chefes de Executivo estaduais rechaçaram a atitude do comandante do Planalto de atribuir à Polícia Militar (PM) comandada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), o homicídio do miliciano Adriano da Nóbrega, na semana passada.
Na sexta-feira, Bolsonaro apontou Costa como responsável pela operação policial que resultou na morte de Adriano, classificada por ele como uma “provável execução sumária” para queima de arquivo. Segundo Bolsonaro, a “polícia do PT” não procurou “preservar a vida de um foragido”. Homenageado pelo filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), quando este era deputado estadual, o ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) era acusado de atuar em atividades ilícitas, de jogo do bicho a homicídios profissionais.
Em alusão ao histórico da família do presidente com o miliciano, Costa escreveu, no Twitter, que “o governo do Estado da Bahia não mantém laços de amizade nem presta homenagens a bandidos nem procurados pela Justiça”. Bolsonaro, por sua vez, respondeu que o governador “não só mantém fortíssimos laços de amizade com bandidos condenados em segunda instância, como também lhes presta homenagens, fato constatado pela sua visita ao presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, em Curitiba, em 27 de junho de 2019”.
As recentes declarações “confrontando governadores” não “contribuem para a evolução da democracia” no país, diz a carta, elaborada por iniciativa dos governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e de São Paulo, João Doria (PSDB), possíveis adversários de Bolsonaro nas eleições de 2022. No início do mês, o presidente afirmou que eles o elegeram “como alvo” e lembrou que o tucano não teve problemas em usar o “BolsoDoria” para vencer a última campanha estadual.
No documento divulgado nesta segunda-feira (17/2), os governadores também reclamaram que o presidente dá declarações envolvendo a reforma tributária, “sem expressamente abordar o tema, mas apenas desafiando governadores a reduzirem impostos vitais para a sobrevivência de seus estados”. Nos últimos dias, o chefe do Executivo mencionou a possibilidade de zerar impostos federais sobre combustíveis, caso os estados abram mão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Histórico
A relação conflituosa com governadores, principalmente do Nordeste, vem desde o início do mandato, quando os nove representantes da região boicotaram a posse presidencial. Os ataques e as indisposições políticas já renderam outras críticas públicas. Uma delas, em julho do ano passado, quando oito chefes de Executivos estaduais assinaram uma nota de repúdio, após vazar uma gravação em que o presidente diz ao então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que, “entre os governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão”, em referência a Flávio Dino (PCdoB).
Dias depois, Bolsonaro afirmou que os governadores da região se achavam “os reis da área”. No mesmo mês, ele teve outro embate com Rui Costa. Os dois disputaram a paternidade do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, na Bahia. O governador se recusou a ir à cerimônia de inauguração, devido à presença de Bolsonaro, e o acusou de “odiar o povo do Nordeste”. Costa argumentou que o evento se transformou em ato político-partidário.
Em outubro de 2019, o chefe do Executivo federal chamou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), de “espertalhão” e criticou uma campanha sobre o pagamento do 13º do Bolsa Família com recursos do estado. O resultado foi outra carta de repúdio dos governadores. “É profundamente lamentável que a missão confiada ao atual presidente seja transformada em um vergonhoso exercício de grosserias”, escreveram.