Governadores de 20 estados elaboraram uma carta aberta com críticas à postura do presidente Jair Bolsonaro, que voltou a travar embates com chefes de Executivo estaduais. Divulgado nesta segunda-feira (17/2), o documento diz que Bolsonaro está "se antecipando a investigações policiais para atribuir fatos graves à conduta das polícias e seus governadores".
No último sábado (15/2), o presidente acusou o governador da Bahia, Rui Costa (PT), de ser responsável pela operação policial que matou o miliciano Adriano da Nóbrega, classificada pelo chefe do Planalto como uma "provável execução sumária" para queima de arquivo. Segundo Bolsonaro, a "polícia do PT" não procurou "preservar a vida de um foragido". Adriano era acusado de atuar em atividades ilegais, que jogo do bicho e até homicídios profissionais.
Mesmo assim, o filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), homenageou o miliciano duas vezes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), em 2005, quando exercia mandato de deputado estadual. Costa respondeu, no Twitter, que "o governo do Estado da Bahia não mantém laços de amizade nem presta homenagens a bandidos nem procurados pela Justiça".
Tributária
Os governadores também reclamaram que o presidente dá declarações envolvendo a reforma tributária, "sem expressamente abordar o tema, mas apenas desafiando governadores a reduzir impostos vitais para a sobrevivência de seus estados". Nos últimos dias, Bolsonaro mencionou possibilidade de zerar impostos federais sobre combustíveis, caso os estados abram mão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
As recentes declarações "confrontando governadores" não "contribuem para a evolução da democracia" no país, diz a carta, elaborada por iniciativa dos governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e de São Paulo, João Doria (PSDB). Os dois são adversários políticos diretos de Bolsonaro e têm protagonizado discussões públicas com ele desde o ano passado.
Histórico
A relação conflituosa com governadores vem desde o início do mandato e já rendeu outras críticas públicas. Em janeiro do ano passado, nove representantes do Nordeste boicotaram a posse presidencial. A situação piorou em julho, quando vazou uma gravação em que o presidente diz ao então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que, "entre os governadores de 'paraíba', o pior é do Maranhão", em referência a Flávio Dino (PCdoB).
A declaração rendeu uma nota de repúdio assinada por oito chefes de Executivo estaduais. Dias depois, Bolsonaro afirmou que os governadores da região se acham "os reis da área". No mesmo mês, na inauguração do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, na Bahia, ele disputou com o governo estadual a paternidade da obra. Rui Costa (PT) não foi ao evento e ainda disse que o presidente "odeia o povo do Nordeste".
Em outubro de 2019, o chefe do Executivo federal chamou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), de "espertalhão" e criticou uma campanha sobre o pagamento do 13ª do Bolsa Família com recursos do estado. O resultado foi outra carta de repúdio dos governadores. “É profundamente lamentável que a missão confiada ao atual presidente seja transformada em um vergonhoso exercício de grosserias”, escreveram.