A Polícia Civil do Rio de Janeiro tenta descobrir o que levou o miliciano Adriano da Nóbrega, morto no domingo passado, a frequentar com tanta regularidade a cidade de Esplanada, na Bahia. A principal linha de investigação é a de que ele estava tentando implantar um núcleo criminoso na região. Ao mesmo tempo que as autoridades avançam no caso, surgem suspeitas de que ele foi executado em uma operação policial com o objetivo de queima de arquivo – levou boa parte dos segredos sobre a organização de grupos formados por agentes da lei que passaram para o lado do crime.
De acordo com a Polícia Civil, além de frequentar eventos de vaquejada, Adriano pretendia comprar terras na região. A ideia seria criar uma célula criminosa no local, mas a polícia também acredita que ele estava envolvido em lavagem de dinheiro.
O miliciano chegou a manifestar a intenção de comprar uma fazenda para construir um haras, pois participava de leilões para compra de cavalos. Nas últimas semanas, pouco antes da morte, de acordo com pessoas próximas, ele estava inquieto e mudou o local onde passava os dias. Essas informações levam as autoridades a acreditar que a operação para capturá-lo foi vazada por alguém que dela participou.
Adriano estava na casa de Leandro Guimarães – apontado como comparsa, chegou a ser preso, mas foi liberado mediante pagamento de fiança. O advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defendia o miliciano, chegou a dizer que seu cliente temia ser alvo de queima de arquivo, e por isso não se entregava às autoridades. Fotos e exames publicados pela revista Veja apontam que o ex-policial militar tinha um corte na testa, que parece ter sido feito por faca, e uma marca de pressão no abdômen, supostamente causada por arma de fogo de cano longo disparada próxima do corpo de Adriano.
A Secretaria de Segurança da Bahia refutou as acusações de queima de arquivo e disse que o criminoso reagiu a tiros ao ver as guarnições da polícia. A família do miliciano solicitou à Justiça a realização de perícia independente no cadáver – o pedido aguarda avaliação do Judiciário do Rio. Duas decisões impedem o corpo de ser cremado e determina que permaneça preservado no Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro.
Adriano teria ligações com o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) e chegou a ser homenageado pelo então deputado estadual em 2003, quando ele fazia parte da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O próprio parlamentar pediu que o corpo não fosse cremado, a fim de evitar que desapareçam elementos que podem elucidar as razões da morte.
Repórteres detidos
Dois jornalistas da revista Veja foram detidos, nesta sexta-feira (14/2), pela PM da Bahia, enquanto apuravam a morte de Adriano. De acordo com a publicação, o repórter Hugo Marques e fotojornalista Cristiano Mariz foram abordados pelos soldados enquanto tentavam localizar Leandro Guimarães. Mesmo mostrando as credenciais de imprensa, e informando que estavam realizando investigações sobre o caso, como prevê a Lei 83.284/79, a dupla foi conduzida para o distrito policial.
Hugo Marques afirmou que, durante a abordagem policial, o gravador que estava com ele, com entrevistas realizadas na última semana, lhe foi tirado por um policial. Em seguida foram levados para interrogatório por cerca de 20 minutos.
Após serem ouvidos pela Polícia Civil, Hugo e Cristiano foram liberados, e o gravador foi devolvido. Procurada pelo Correio, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que “moradores de uma localidade em Pojuca, Litoral Norte da Bahia, ligaram para polícia informando que homens, dentro de um carro Gol, placa de Belo Horizonte, estavam rondando a região”. Ainda de acordo com a nota divulgada pela secretaria, “a PM foi acionada, abordou o grupo e fez a condução até a Delegacia Territorial. Após se identificarem como jornalistas, foram liberados. Nenhum equipamento foi danificado, alterado ou ficou apreendido”.